"O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua
vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver
os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente
em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo
como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa
Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino", diz comunicado
oficial.
Nascido em 17 de dezembro de 1936 em Buenos Aires, na Argentina,
Francisco foi o primeiro papa latino-americano da história. Ele também foi o
primeiro pontífice da era moderna a assumir o papado após a renúncia do seu
antecessor e, ainda, o primeiro jesuíta no posto.
À frente da Igreja Católica por quase 12 anos, Francisco foi o papa número 266. Em 13 de março de 2013, durante o segundo dia do conclave para eleger o substituto de Bento XVI, Bergoglio foi escolhido como o novo líder – inclusive contra a sua própria vontade, segundo ele mesmo admitiu. Relembre a carreira do papa mais abaixo.
Alta após quadro de bronquite
Francisco ficou internado por cerca de 40 dias com um quadro de bronquite.
A primeira hospitalização foi no início de fevereiro. Nos dias seguintes, o
papa começou a ter dificuldades para discursar durante audiências religiosas.
Ele admitiu publicamente que estava com dificuldades respiratórias e chegou a
pedir para um auxiliar fazer a leitura do sermão.
No dia 14 de fevereiro, o papa foi internado no hospital Agostino
Gemelli para fazer exames e tratar a bronquite. Mesmo hospitalizado, ele
continuou participando de algumas atividades religiosas. No domingo (16), ele
pediu desculpas por faltar à oração semanal com fiéis na Praça de São Pedro.
Já na segunda-feira (17), o Vaticano informou que Francisco estava com
uma infecção polimicrobiana — causada por um ou mais microrganismos, como
bactérias, vírus ou fungos. O quadro de saúde do papa foi descrito como
"complexo".
No dia seguinte, em um novo boletim, o Vaticano anunciou que o pontífice estava com uma pneumonia bilateral. A infecção é mais grave do que uma pneumonia comum, já que pode prejudicar a respiração e a circulação de oxigênio pelo organismo de uma forma geral.
Até a publicação desta reportagem, o Vaticano não havia dado detalhes
sobre o funeral do papa Francisco. A Igreja Católica deve se reunir nas
próximas semanas para decidir quem será o novo papa.
Os desafios do papado de
Francisco
Apesar de ter sido eleito papa contra a própria
vontade, a carreira de Francisco no catolicismo foi uma escolha própria do
argentino. Formado em Ciências Químicas e professor de Literatura, o religioso
filho de imigrantes italianos acabou optando por se dedicar aos estudos eclesiásticos.
Seu perfil jovial e descontraído — ele gostava de fazer piadas e
brincadeiras — o tornou uma opção popular entre os colegas cardeais e uma
escolha antes de mais nada conjuntural.
A Igreja Católica vivia então um de seus momentos mais delicados. A popularidade
em baixa e os escândalos de pedofilia envolvendo padres em todo o mundo são
apenas alguns dos desafios que o pontífice enfrentaria durante seu papado.
A modernidade também levou Francisco a lidar com outros assuntos
delicados para a Igreja, como os direitos LGBTQIA+ e o sexismo.
Ele foi elogiado por avanços como o de permitir bênçãos de padres a
casais do mesmo sexo, colocar mulheres em cargos mais altos no Vaticano e
permitir que elas votassem no Sínodo dos Bispos — a reunião em que bispos debatem
e decidem questões ideológicas e regimentos internos.
Mas também foi criticado por não avançar menos do que o esperado na
questão feminina. Francisco terminou seu papado sem permitir sacerdotes do sexo
feminino, reivindicação histórica de parte das católicas.
O papa defendia que apenas cristãos do sexo masculino poderiam ser
ordenados para o sacerdócio, usando como base a premissa da Igreja Católica de
que Jesus escolheu homens como apóstolos.
Discursos políticos e combate à pobreza
O pontífice também ficou marcado por discursos
políticos durantes sermões. Não poupou críticas a líderes de países em guerra,
como o russo Vladimir Putin e o israelense Benjamin Netanyahu. Ele também
apontou o dedo para a União Europeia ao citar a crise dos refugiados, que
começou durante seu papado, em 2015.
Em uma das imagens mais impressionantes e sem precedentes na Igreja
Católica, rezou sozinho na sempre lotada Praça São Pedro, no Vaticano, quando a
Covid-19 se espalhou pelo mundo e fez vários países decretarem quarentena.
Mas o combate à pobreza sempre foi sua prioridade. Ao ser apontado como
o novo papa, ele escolheu o nome de seu novo título em homenagem a São
Francisco de Assis, protetor dos pobres. O lema de seu papado foi
"Miserando atque eligendo" — "Olhou-o com misericórdia e o
escolheu", em português.
As reformas da Igreja Católica também foram outra marca do papado de
Francisco. Ele iniciou um processo de reforma das estruturas da Cúria, que é o
governo do Vaticano, com atenção especial para a parte econômica e financeira.
Francisco, ‘um grande reformador’
Aos 80 anos, com dores no quadril que, por vezes, o
faziam perder o equilíbrio, ele não falava de renúncia, como seu predecessor
Bento XVI teve a audácia de fazer.
"Estou indo em frente", disse ele na ocasião, contrariando
declarações mais melancólicas feitas antes disso, em março de 2015: "Tenho
a sensação de que meu pontificado será breve, quatro ou cinco anos".
Francisco parecia impulsionado por uma missão urgente: incentivar uma
Igreja desertada em alguns países a acompanhar com misericórdia os católicos em
situações irregulares.
"Podemos falar de uma revolução, nos passos do Concílio Vaticano
II" (1962-1965), que abriu a Igreja ao mundo moderno, disse à AFP o
especialista em Vaticano Marco Politi, em 2016.
Politi classifica Francisco como "um grande reformador” que tentou
fazer “com que a Igreja abandonasse a sua obsessão histórica em tabus
sexuais".
Ele foi o primeiro papa a ter convidado um transexual ao Vaticano e se
recusou a julgar os homossexuais. Para Francisco, a Igreja era um “hospital de
campanha, não um posto alfandegário", que separa os bons e maus cristãos,
disse Politi.
O argentino foi eleito, entre outros, para continuar a reestruturação
econômica da Santa Sé iniciada sob Bento XVI com, por exemplo, o fechamento de
contas suspeitas no banco do Vaticano, por muito tempo acusado de lavagem de
dinheiro.
"Em termos de doutrina, ela [papa Francisco] não mudou nada. Neste
sentido, nunca fez parte dos progressistas", afirmou Politi. Segundo o
especialista, o papa não tinha a intenção de ordenar padres casados ou
mulheres, e se mostrou horrorizado com o aborto. Ele gostaria que seu trabalho
reformista tivesse "uma continuidade".
O papa tinha um forte consenso entre os fiéis e, também, entre alguns agnósticos e não-crentes. Mas ele não agradava aos ultraconservadores, que tentavam desacreditá-lo.
Bergoglio antes de ser papa
rancisco nasceu em Buenos Aires, em 1936. Seus pais, ambos italianos,
chegaram à Argentina em 1929, junto de uma leva de imigrantes europeus em busca
de oportunidades de trabalho na América.
Arcebispo da capital argentina, ele era considerado um homem tímido e de
poucas palavras, mas com grande prestígio entre seus seguidores. O religioso
era admirado pela sua total disponibilidade e seu estilo de vida sem
ostentação.
O argentino também era reconhecido por seus dotes intelectuais, por ser
considerado dialogante e moderado, além de ter paixões pelo tango e pelo time
de futebol San Lorenzo.
Antes de seguir carreira religiosa, Bergoglio formou-se técnico químico.
Depois, ingressou em um seminário no bairro de Villa Devoto. Em março de 1958,
entrou no noviciado da Companhia de Jesus, congregação religiosa dos jesuítas,
fundada no século 16.
Em 1963, Bergoglio estudou humanidades no Chile e voltou à Argentina no
ano seguinte para ser professor de literatura e psicologia no Colégio Imaculada
Conceição de Santa Fé.
Entre 1967 e 1970, foi estudar teologia e acabou sendo ordenado
sacerdote no dia 13 de dezembro de 1969. Em menos de quatro anos chegou a
liderar a congregação jesuíta local, um cargo que exerceu de 1973 a 1979.
Foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, entre
1980 e 1986, e, depois de completar sua tese de doutorado na Alemanha, serviu
como confessor e diretor espiritual em Córdoba. Em 1992, Bergoglio foi nomeado
bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires.
Em 1997, ele virou arcebispo titular de Buenos Aires. Em 2001, foi
nomeado cardeal e primaz da Argentina pelo papa João Paulo II. Entre 2005 e
2011, ocupou a presidência da Conferência Episcopal do país durante dois
períodos, até que deixou o posto porque os estatutos o impediam de continuar.
Na Santa Sé, Bergoglio foi membro da Congregação para o Culto Divino e a disciplina dos Sacramentos; da Congregação para o Clero; da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica; do Pontifício Conselho para a Família e a Pontifícia Comissão para a América Latina.
Fonte: Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/04/21/papa-francisco-morre-aos-88-anos.ghtml. Acesso em 21/04/2025.
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