Os números
recentes revelam uma expansão significativa do ensino superior, mas também
evidenciam disparidades persistentes. As diferenças regionais são notáveis: no
Centro-Oeste, 21,8% da população com 25 anos ou mais concluiu uma graduação,
dado impulsionado pelo Distrito Federal, onde a taxa atinge 37%. As regiões
Sudeste e Sul apresentam índices semelhantes ao do Centro-Oeste, enquanto no
Norte e no Nordeste a proporção não chega a 15%.
As desigualdades
raciais são ainda mais marcantes. Em 2022, apenas 12% da
população preta e parda havia concluído o ensino superior —menos da metade do
percentual de brancos (25,8%) e muito abaixo da população amarela (44,1%).
A
discrepância é ainda maior em determinadas áreas do conhecimento: em medicina,
economia e odontologia, três em cada quatro formados são brancos. Já em serviço
social e formação de professores, a proporção de brancos cai à metade.
Apesar
dessas desigualdades, os avanços são evidentes. Hoje, a proporção de brancos
com ensino superior ainda é o dobro da de pretos e pardos, mas, em 2000, essa
diferença era de cinco vezes. Foram necessárias duas décadas para que pretos e
pardos atingissem o percentual que os brancos tinham no início do século (10%).
A ampliação do acesso nesse período decorre de múltiplos fatores, especialmente
de políticas públicas que facilitaram a entrada de grupos historicamente
excluídos da educação superior, como políticas de cotas, Fies, Sisu
e Prouni.
Os números
mostram que, no Brasil, nascer branco ou amarelo ainda significa ter mais
chances de cursar uma graduação. Ainda há muita desigualdade no acesso, de
forma sistêmica. Além do acesso, há desafios na permanência e na conclusão dos
cursos. Muitos estudantes abandonam a graduação devido ao desalinhamento com o
mercado de trabalho ou dificuldades financeiras. Essas diferenças não são meras
preferências individuais, mas reflexo da falta de oportunidades e da baixa
qualidade da educação básica.
Ampliar o
acesso ao ensino superior, como demonstrado pelo Censo, é um passo importante,
mas insuficiente. É preciso discutir, principalmente, a qualidade da educação
oferecida. As desigualdades não se restringem ao ensino básico —elas persistem
no ensino superior. Um exemplo claro disso são os milhares de formados em
direito que não conseguem aprovação no exame da OAB.
A democratização
da educação no Brasil avançou, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Reduzir desigualdades estruturais exige não apenas ampliar o acesso ao ensino
superior mas garantir que todos, independentemente de cor, origem ou condição
social, tenham os meios para concluir a formação e usufruir de um ensino de
qualidade e de seus benefícios de maneira justa.
Priscilla Bacalhau – Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas.
Disponível
em: https://www.geledes.org.br/quem-acessa-o-ensino-superior/.
Acesso em 28/02/2025.
0 Comentários