LANÇAMENTO DO LIVRO “NÃO TINHA UM MARTELO COMO O MEU”: MEMÓRIAS DO SENHOR VALDOMIRO DE SOUZA REZENDE (VADU)

 



Aconteceu no último sábado (22/06/2024) na quadra do CEPAVP (Quixabeira) no município de Governador Mangabeira, o lançamento do livro – “NÃO TINHA UM MARTELO COMO O MEU”: MEMÓRIAS DO SENHOR VALDOMIRO DE SOUZA REZENDE (VADU), de autoria do professor Luís Carlos Borges da Silva e Maria Angélica da Silva Rezende da Mota. O evento contou com mais de 100 pessoas: familiares, amigos e vizinhos do senhor Vadu, além de professores, estudantes e autoridades locais.

A atividade teve início com a sessão de fotos com o senhor Vadu, que no dia 21/06, completou 104 anos de vida. Em seguida, a professora e filha do senhor Vadu, Maria Angélica Rezende, explicou como surgiu a ideia do livro e agradeceu a presença de todos e todas, depois foi interpretado de forma instrumental o Hino Nacional com os filhos de senhor Vadu, Aderbal (bandolim) e Manoel (bateria), além do neto Admário (teclado). Continuando, o professor Borges explanou acerca da organização e estrutura do livro, depois foram realizadas outras homenagens a senhor Valdomiro Rezende: poemas – sobrinha Vanessa Rezende e a neta Luize Rezende, além da entrega de troféu pelo filho Aderbal. Por último, aconteceu a sessão de autógrafos.

Vale salientar, que a publicação do livro foi custeada na sua maior parte pelos 7 filhos do senhor Vadu, com apoio de Domingas da Paixão, deputado Jorge Solla e do professor Borges, sendo que cada pessoa presente no evento recebeu o exemplar do livro gratuitamente.

O livro se fundamenta nas memórias do senhor Vadu, sendo as fontes: entrevistas concedidas pelo próprio Valdomiro Rezende ao professor Borges, fotografias e documentos pessoais, além da valiosa colaboração de sua filha, Maria Angélica Rezende, a qual também elaborou a apresentação do livro. A narrativa foi organizada nos seguintes tópicos: apresentação, introdução, as origens e a família, a escola, atividades profissionais, festas e outras diversões, a Vila de Cabeças: o comércio e outras histórias, o povoado de Geolândia (Jordão): a feira e outras histórias, a localidade de Quixabeira, a Usina Hidrelétrica de Bananeiras e as considerações finais.  Ressaltando que o texto da orelha do livro foi elaborado pela historiadora Aaize dos Santos Conceição.

Quanto ao título do livro: “Não tinha um martelo como o meu”: memórias do Senhor Valdomiro de Souza Rezende (Vadu), justifica-se pela conotação que o depoente fez a sua prática de carpinteiro e marceneiro, algo considerado de extrema relevância para sua vida, simbolizado através da ferramenta do martelo. No campo historiográfico, a narrativa pode ser associado aos estudos desenvolvidos pela História Social, bem como das concepções da História Local e Regional e a História Oral, sobretudo na perspectiva histórica do Recôncavo Baiano, especialmente nos município de Muritiba, Governador Mangabeira e Cabaceiras do Paraguaçu.

“Agradecemos a presença de todos e todas que contribuíram para a realização desse grande sonho, transformar as memórias do senhor Vadu em um livro, um senhor de 104 anos, com muita vitalidade e prazer pela vida. Também, agradecemos as pessoas que compareceram ao evento de lançamento do livro, sem dúvidas algo para ficar marcado na história do município de Governador Mangabeira. Evidentemente, que não podemos esquecer de parabenizar senhor Vadu pelos seus 104 anos, bem como agradecer pelas seus valiosos depoimentos que configuraram a estrutura do livro Muito obrigado”, salientaram o professor Borges e a professora Maria Angélica.

TRECHOS DO LIVRO COM DEPOIMENTOS DO SENHOR VADU

Capítulo -  Origens e família

“Quando eu procurei ela para a gente se gostar, ela tinha 14 anos, nesse mesmo tempo foi que me chamaram para ir para o Sertão, ai eu caminhei, elas passaram para a Igreja rezar, o terço de Santo Antônio, ai eu cheguei e acompanhei. No Jordão não tinha energia naquele tempo, tinha um lampião na frente da Igreja, quando cheguei perto da claridade dei um sinal para elas duas, as duas irmãs, ai ela veio também, decidida para ver o que eu queria, ai ela olhou para a irmã, ficou parada olhando para mim, depois disse que aceitava, daí em diante eu comecei a namorar (REZENDE, Valdomiro de Souza, 2022)”.  P. 13

Capítulo - A escola

“Toda escola tinha à palmatória e régua, no quartel e na cadeia tinha uma palmatória dessa também. Apanhei muito na escola por que não sabia ler ou não sabia responder a sabatina, eu levei uns 5 anos na escola, sair no terceiro ano, só entrou na minha cabeça a arte de carpinteiro, quando amanhecia o dia já ficava com medo, pois se não soubesse a lição apanhava dos colegas e da professora, quando eu vir entender o que era escola meu pai me tirou para colocar os irmãos (REZENDE, Valdomiro de Souza,2022)”. – P. 20.

Capítulo – Atividades profissionais

Aprendi a fazer as casas de farinha, eu desconheço quem faz melhor do que eu, por que eu faço a prensa e o parafuso. Tem aí para eu lhe mostrar, para não dizer que é história, tudo da casa de farinha eu sei fazer, a prensa eu fiz uma em 3 dias, eu e outro carpinteiro, fiz no machado, na enxó e no formão, fiz com um tronco de jaqueira, a prensa seca a massa da mandioca para 2 sacos de farinha. Essa foi feita por mim. Fiz também uma em Aldeia para o parente de Juca Dias (REZENDE, Valdomiro de Souza, 2022). P. 23.

Capítulo – Festas e outras diversões

Alertou ainda, a sua preocupação com a elegância física, usando sempre paletó e gravata para ir a uma festa, veste costurada naquela época pelo renomado alfaiate (pessoa que faz roupas para homens), Abílio Aragão, que tinha sua alfaiataria na Vila de Cabeças, aliás, elegância essa que faz questão de manter até os dias atuais. (P. 30).

Capítulo – A Vila de Cabeças: o comércio e outras histórias

O entrevistado, mencionou que o comércio de maior influência era o de Manoel Pedro Nunes, localizado onde é hoje a Praça principal da cidade. Esse comércio foi assaltado duas vezes, levando carne, bacalhau e uma boa quantidade em dinheiro. Também, destacaram-se como comerciantes: Malaquias Ferreira, Antônio Cerqueira (Antoninho) e Aloísio Fonseca, este último, “vendida muita carne de boi, sendo que dia de domingo a carne era mais barata, o povo reunia e comprava tudo, a chamada carne virada” (REZENDE, Valdomiro de Souza, 2022). P. 34.

Capítulo  - Povoado de Geolãndia (Jordão): a feira e outras histórias

A feira funcionava debaixo de um pé de laranja grande, ali o povo pendurava as carnes de carneiro e porco para vender, para a carne de boi existiam os açougues, também as pessoas arriavam os sacos de farinha pelo chão para vender, a feira era ali em roda da Igreja, era uma feirinha, mais era boa, vinha gente de tudo quanto é canto, era o lugar que mais vendia feijão na região era o Jordão. Feira do interior não tem uma igual à do Jordão, na feira o que você procura acha (REZENDE, Valdomiro de Souza, 2022). P. 41.

Capitulo – A Localidade de Quixabeira

Ainda salientou, que naquela época, muitas pessoas da localidade de Quixabeira, trabalhavam em olarias, fabricando tijolos e telhas das comuns, misturando barro e água e depois colocando no forno para secagem, sendo comercializados em sua maioria na Vila de Cabeças, transportados em lombos de animais. (P. 45).

Capítulo – A Usina Hidrelétrica de Bananeiras (Guingle)

Tinha uma estrada de ferro que ligava São Félix ao Guinle, eram dois trens: um subia outro descia. Essa estrada sai de São Félix beirando o rio até dentro do Guinle, esses trens carregavam cimento, tábua, o que precisasse para a construção e carregavam os trabalhadores que moravam em São Félix. Quando era de manhã cedo subia cheio de homens para trabalhar, a tarde traziam os que trabalharam de dia e iam os que trabalhavam a noite, não parava não. Não cheguei a trabalhar lá não (REZENDE, Valdomiro de Souza, 2022). P. 48.

Fotos: Murílo Moreira.

Postar um comentário

0 Comentários