Observação: as transcrições abaixo foram fiéis aos textos dos alunos, incluindo possíveis erros de português.
✏️Maria Luiza Januzzi, de
Valença (RJ)
Trecho de redação nota mil de Maria Luiza Jannuzzi no Enem 2023 — Foto:
Reprodução/Inep
De
acordo com a pensadora brasileira Djamila Ribeiro, o primeiro passo a ser
tomado para solucionar uma questão é tirá-la da invisibilidade. Porém, no
contexto atual do Brasil, as mulheres enfrentam diversos desafios para que seu
trabalho de cuidado seja reconhecido, gerando graves impactos em suas vidas,
como a falta de destaque. Nesse sentido, essa problemática ocorre em virtude da
omissão governamental e da influência midiática.
Dessa
forma, em primeiro plano, é preciso atentar para o descaso estatal em relação
aos obstáculos enfrentados diariamente por mulheres que trabalham como
cuidadoras. Segundo John Locke, “as leis fizeram-se para os homens e não para
as leis”. No entanto, a inércia governamental direcionada à tais pessoas não
cumpre com o previsto na Carta Magna, visto que a falta de investimento em
políticas públicas causa dificuldades no âmbito profissional deste setor - como
a desvalorização salarial. Isso contribui para que suas necessidades sejam cada
vez mais negligenciadas.
Além
disso, a influência dos meios digitais é um fator agravante no que tange ao
problema. Para Chimamanda Adichie, mudar o “status quo” - o estado atual das
coisas - é sempre penoso. Essa conjuntura pode ser observada no papel que a
mídia possui na luta diária de mulheres que exercem o trabalho do cuidado ou
doméstico, uma vez que ela auxilia no fortalecimento de uma mentalidade social
machista no país. Isso ocasionou o silenciamento da população feminina,
enraizando a lógica do patriarcado na sociedade. Diante do exposto, as mulheres
perdem a voz na busca por direitos profissionais na área de cuidado, ao ser
propagada a ideia de que essa função é sua, e somente sua, obrigação.
Portanto,
é necessário que esta situação seja dissolvida. Para isso, o governo, órgão
responsável por garantir a condição e existência de todos, deve prover apoio
psicológico e financeiro às cuidadoras, por meio de investimentos e pelo
exercício das leis, a fim de sanar a vulnerabilidade socioeconômica existente
no cotidiano desses grupos. Paralelamente, os meios de comunicação precisam
combater a lógica de inferioridade e a concepção machista agregadas a este
trabalho. Assim, será possível solucionar esta questão, pois será retirada do
cenário de invisibilidade, como propõe Djamila.
✏️Matheus Almeida Barros, de Paraíso (TO)
Trecho de redação de Matheus Barros, nota mil no Enem 2023 — Foto:
Reprodução/Inep
Por
meio do seu livro "Brasil, país do futuro" - publicado no último
século - o escritor austríaco Stefan Zweig expressou a sua confiança de que a
nação cresceria e se desenvolveria exponencialmente. Para além disso, nos dias
atuais, a sociedade brasileira vivencia uma situação inversa, uma vez que a
constante invisibilidade feminina relacionada ao trabalho de cuidado e seus
impactos negativos na contemporaneidade não são características de um
"país do futuro". Desse modo, algumas negligências governamentais
impulsionam a desvalorização trabalhista de cuidado desempenhado pela mulher
brasileira e promovem o desenvolvimento de diversas desigualdades econômicas.
Logo, tanto a inefetividade das leis direcionadas ao público feminino quanto a
escassez de investimentos na educação capacitiva são suscitadores da
problemática.
Em
primeiro plano, é imprescindível destacar a baixa eficiência das leis
relacionadas ao trabalho da mulher como um fato que potencializa a
invisibilidade do esforço doméstico e de cuidados desse grupo. Nesse sentido, o
escritor brasileiro Gilberto Dimenstein defende que a legislação brasileira
funciona somente no papel e, na prática, é ineficiente. A partir disso, tal
tese pode ser comprovada por meio da má aplicação das leis trabalhistas
femininas, uma vez que tais documentos não garantem, efetivamente, os direitos
fundamentais da mulher, especialmente no âmbito do trabalho, e geram uma
dependência dessa parcela ao cuidado doméstico, que é amplamente desvalorizado
e, muitas vezes, não remunerado. Logo, tal insuficiência do sistema legislativo
promove uma exploração exagerada da população feminina no país.
Além
disso, vale ressaltar, ainda, a falta de verbas destinadas à educação como um
fator que agrava e desvaloriza o trabalho de cuidado exercido pela mulher
brasileira. Nesse sentido, o filósofo esloveno Slavoj Zizek afirma que os
políticos liberais modernos priorizam interesses mercadológicos e menosprezam
atitudes que beneficiem a coletividade. Dessa maneira, verifica-se uma
imprudência estatal que, por sua vez, despreza a importância da educação ao não
investir na capacitação feminina, o que impede a entrada desse grupo no mercado
de trabalho e obriga a mulher a realizar os desvalorizados "trabalhos de
cuidado". Com isso, atitudes que visem ampliar a qualidade do sistema
educacional brasileiro mostram-se amplamente necessárias.
Portanto,
vistos os fatores que impactam negativamente na valorização do trabalho de
cuidado feminino, medidas são necessárias para combatê-los. Cabe ao governo
federal a realização de fiscalizações legislativas e, por meio de inspeções e
vistorias em residências de risco, verificar se as leis trabalhistas femininas
estão sendo devidamente aplicadas, a fim de garantir a não exploração da mulher
doméstica. Ademais, o Ministério da Educação deve, através do FUNDEB - o Fundo
Nacional de Educação Básica destinar investimentos às escolas, visando promover
uma capacitação geral e inserir as mulheres em um mercado de trabalho justo.
Somente assim, o público feminino conquistará a devida visibilidade no âmbito
do trabalho.
✏️Luana Pizzolato, de São Bernardo do Campo (SP)
Trecho de redação nota mil de Luana Pizzolato no Enem 2023 — Foto:
Reprodução/Inep
As
décadas finais do século 20, no Brasil, foram marcadas pela presença de
movimentos sociais diversos, como o de ruptura das condições de gênero que
prejudicavam as mulheres no meio social. Embora as manifestações tenham
conquistado direitos, ainda há problemas que assolam o cotidiano feminino das
brasileiras, como a invisibilidade do trabalho de cuidado. De fato, essa
questão é influenciada pelo sistema capitalista e pela manutenção da visão
patriarcal. Logo, é urgente sanar os desafios e enfrentar a problemática.
Diante
desse cenário, cabe analisar a relação entre o modelo econômico e a
invisibilidade referida. Consoante a tese do sociólogo Karl Marx, os donos de
produção, no capitalismo, possuem como fim o maior lucro possível. Nessa
perspectiva do autor, nota-se que essa mentalidade econômica ainda rege as
relações atuais, incluindo as do Brasil. Desse modo, em um contexto que o
trabalho de cuidado não reproduz o capital desejado pelas empresas, esse é
invisibilizado e mal remunerado. Portanto, é visível que o sistema capitalista
é um entrave na questão sofrida pelas mulheres.
Ademais,
a permanência da visão patriarcal acentua o problema dessa invisibilidade. Tal
situação é explicada pois, desde o período colonial do Brasil, as mulheres
foram designadas a cumprir funções domésticas e de cuidado, já que não eram
vistas como capazes de exercer outro ofício. Nesse cenário, ao relacionar com a
atualidade, é nítido que essa convenção social do papel da mulher foi mantido
como modo de continuar o privilégio dos homens, detentores do poder. Assim, ao
passo que esses se consideram superiores, não há uma luta para valorizar o
trabalho de cuidado, já que é visto como função intrínseca e obrigatória do
gênero feminino.
Em
suma, constata-se que mudanças devem ocorrer para enfrentar os desafios da
invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher. Para isso, cabe ao
poder legislativo, na condição de detentor dos meios legais de transformação,
criar leis que tornem obrigatória a remuneração digna desse ofício com inclusão
no mercado, além de regulamentar sua valorização. Essa proposta deve ser
aprovada por meio de um debate na Câmara dos Deputados e tem como fim acabar
com a invisibilidade desse trabalho. Feito isso, a questão deixará de ser um
problema do corpo social brasileiro.
✏️Heloísa Vitória Silva, de Lagarto (SE)
Trecho da redação nota mil de Heloísa Vitória no Enem 2023 — Foto:
Reprodução/Inep
Na
obra “Utopia”, de Thomas More, é retratada uma sociedade perfeita e em
harmonia, a qual é livre de conflitos e mazelas. Todavia, fora de ficção, a
realidade contemporânea está distante disso, haja vista os desafios para
enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado exercido pela mulher no
Brasil. Por certo, a negligência governamental e a desigualdade social são
fatores que favorecem esse quadro.
Percebe-se,
a princípio, que o descaso estatal possui íntima relação com o revés. Nessa
ótica, de acordo com o filósofo John Locke, configura-se como um rompimento do
Contrato Social, já que o Estado não cumpre com sua função de garantir que
todos desfrutem de seus direitos. Assim, devido à débil ação do Poder Público e
à insuficiência de legislações, os impasses para acabar com a invisibilidade
vivenciada por aquelas que realizam o trabalho de cuidadoras, sejam elas babás,
donas de casa ou empregadas domésticas, têm crescido cada vez mais no Brasil.
Dessa forma, é inadmissível que esse cenário continue a perdurar.
Ressalta-se,
ademais, a situação de vulnerabilidade em que diversas cuidadoras estão
inseridas como impulsionadora do problema. Nesse contexto, segundo o escritor
Ariano Suassuna, o Brasil é dividido em dois países distintos: o país dos
privilegiados e o país dos despossuídos. Sob esse viés, grande parte dessas
mulheres vivem em condições precárias, por isso, tendem a aceitar qualquer
coisa e realizam até mesmo trabalhos sem remuneração; o que faz com que as
dificuldades para enfrentar essa problemática aumentem e tornem essas mulheres
cada dia mais invisíveis perante o corpo social. Destarte, é imprescindível que
haja mudança.
Infere-se,
portanto, a necessidade de combater essa problemática no Brasil. Logo, cabe ao
Governo, como Ministério do Trabalho, desenvolver leis mais rígidas e projetos
sociais, por meio de petições e da criação da campanha “Cuidar também é
trabalhar”, a fim de vencer os impasses enfrentados pelas cidadãs que exercem a
função de cuidadoras e garantir que passem a ser enxergadas e não sofram mais
com a invisibilidade e a desvalorização. Por conseguinte, uma sociedade mais
próxima da que é citada em “Utopia” será consolidada.
✏️Maria Laura Klein, de Chapecó (SC)
Trecho da redação nota mil de Maria Laura Klein no Enem 2023 — Foto:
Reprodução/Inep
O
livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, escrito por Carolina Maria
de Jesus na década de 1950, narra as vivências da autora na favela do Canindé e
suas dificuldades para obter sozinha o sustento de seus três filhos. De maneira
análoga, cerca de setenta anos após a publicação do diário, a realidade
enfrentada por Carolina permanece no Brasil contemporâneo, visto que o trabalho
de cuidado realizado por mulheres, apesar de extremamente importante para a
sociedade nacional, continua invisibilizado. Diante disso, cabe refletir acerca
do legado histórico patriarcal e da intensificação das desigualdades para
compreender os desafios que impedem a valorização do serviço feminino de
assistência.
Nesse
contexto, é válido considerar a existência de permanências históricas como o
principal fator causador da invisibilidade do trabalho de cuidado exercido por
mulheres. Isso ocorre, pois, desde os primórdios do Brasil Colônia, a população
feminina tem recebido o status de sexo frágil e, por supostamente não possuírem
aptidões para o sustento, tornaram-se encarregadas apenas das tarefas
domésticas. Sob essa ótica, é nítido que, duzentos anos depois da superação da
condição de colônia, as raízes patriarcais continuam sendo refletidas nas
relações modernas brasileiras, uma vez que as mulheres permanecem responsáveis
por serviços não remunerados associados à maternidade e à existência de idosos
da família, o que resulta na manutenção de estereótipos de gênero e na redução
do tempo disponível para a inserção feminina no mercado de trabalho, posto que
os trabalhos assistencialistas são - geralmente - exercidos de forma integral.
Assim, torna-se evidente que o legado histórico desvaloriza o papel da mulher
no cuidado familiar, além de corroborar seu estado de vulnerabilidade devido à
falta de remuneração e à dependência financeira de seus maridos.
Ademais,
é relevante considerar a ampliação de disparidades sociais como uma
consequência direta da problemática do cuidado invisibilizado. De acordo com o
escritor brasileiro Ariano Suassuna, o Brasil é uma nação dividida em dois
fragmentos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos, sendo a
estrutura nacional criada para suprir apenas as necessidades dos primeiros. A
partir disso, percebe-se que, em famílias cuja renda não é suficiente para
contratar profissionais especializados na assistência de diversos setores
sociais, tal tarefa recai sobre as mulheres que compõe o âmbito familiar, o que
os condiciona a permanecer na miséria por impossibilitar seu acesso a meios de
mudança de vida, como a educação e o emprego remunerado. Logo, é notório que a
desvalorização do trabalho de cuidado reforça o pensamento de Suassuna,
intensificando a marginalização feminina e a separação dos privilegiados e dos
despossuídos.
Portanto,
tornam-se claros os desafios enfrentados pela invisibilidade dos serviços de
cuidado e a necessidade de combatê-los. Dessa maneira, é imperativo que o
Governo Federal atue na criação de subsídios destinados a mulheres que exercem
o trabalho assistencialista em tempo integral. Isso deve ocorrer por meio de
alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias - redirecionando verbas de forma
igualitária para famílias vulneráveis em todo o país -, a fim de reduzir as
disparidades sociais e, consequentemente, superar o legado histórico patriarcal
que atingiu Carolina Maria de Jess e outros expoentes da população feminina
brasileira.
Arthur Sanches Sales, de Belém (PA)
Trecho da redação nota mil de Arthur Sales no Enem 2023 — Foto:
Reprodução/Inep
Conforme
estudos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a população de idosos crescerá drasticamente nas próximas
décadas. Nesse contexto, o trabalho de cuidado realizado pelas mulheres é
fundamental para acolher essa parcela populacional. Todavia, a invisibilidade e
a omissão estatal são desafios que perpetuam o descaso sofirdo por essas
trabalhadoras no Brasil. Logo, faz-se imperioso a tomada de medidas que
resolvam esse contexto de emergência generalizada.
Sob
essa perspectiva, é crucial que a escassez de debates acerca da importância das
atividades de assistência seja superado. A esse respeito, a ilustre filósofa
Djamila Ribeiro defende que, para atuar em uma situação, deve-se, antes de
tudo, tirá-lo da invisibilidade. Entretanto, o panorama nacional destoa do
pensamento da autora, já que o alto índice de empregadas domésticas em
condições ocupacionais precárias não é enxergado pelo círculo social, de modo
que discussões sobre essa questão não sejam priorizadas, dificultando
intervenções nesse problema. Então, essa nebulosidade prescisa ser exposta para
conscientizar a sociedade.
Outrossim,
vale ressaltar de que maneira a negligência do Estado fomenta a marginalização
das cuidadoras. A partir disso, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman utiliza o
termo "Instituição Zumbi" para simbolizar as entidades que não
cumprem seu papel previamente estabelecido. Segundo o raciocínio, é possível
compreender o Poder Executivo como um exemplo da ideia do expoente da
Sociologia, uma vez que a sua função de garantir dignidade profissional a todo
não está sendo cumprida em sua totalidade, pois muitas trabalhadoras de
acolhimento ainda encontram-se em situações indignas. Por isso, a conduta
governamental necessita ser reformulada para assegurar os direitos dessas
profissionais.
Portanto, torna-se primordial mitigar a marginalidade do trabalho de cuidado realizado pelo gênero feminino. Dessa forma, o Ministério da Cidadania, enquanto responsável por políticas cidadãs, deve propagar dados e pesquisas que revelem a gravidade do esquecimento sofrido pelas cuidadoras, por meio de plataformas midiáticas de destaque, a fim de atingir o maior contingente possível e conscientizá-lo. Ademais, a coletividade, por intermédio do Ministério Público, precisa cobrar do Governo Federal ações efetivas de proteção ocupacional às empregadas domésticas, com o intuito de promover o labor digno a esses indivíduos. Assim, a acolhida da nova geração de pessoas de terceira idade poderá ser efetiva.
Fonte: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2024/03/19/redacoes-nota-mil-do-enem-2023.ghtml.
Acesso em 19/03/2024.
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