Os
temas de 2022 foram os seguintes:
"Desafios
para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil"
(aplicação regular);
"Medidas
para o enfrentamento da recorrência da insegurança alimentar no Brasil"
(reaplicação).
Observação: as
transcrições abaixo foram fiéis aos textos dos alunos, incluindo possíveis
erros de português.
✏️ Luís Felipe de Brito, de 24 anos
O
poeta modernista Oswald de Andrade relata, em "Erro de Português",
que, sob um dia de chuva, o índio foi vestido pelo português - uma denúncia à
aculturação sofrida pelos povos indígenas com a chegada dos europeus ao
território brasileiro. Paralelamente, no Brasil atual, há a manutenção de
práticas prejudiciais não só aos silvícolas, mas também aos demais povos e
comunidades tradicionais, como os pescadores. Com efeito, atuam como desafios
para a valorização desses grupos a educação deficiente acerca do tema e a
ausência do desenvolvimento sustentável.
Diante
desse cenário, existe a falta da promoção de um ensino eficiente sobre as
populações tradicionais. Sob esse viés, as escolas, ao abordarem tais povos por
meio de um ponto de vista histórico eurocêntrico, enraízam no imaginário
estudantil a imagem de aborígenes cujas vivências são marcadas pela defasagem
tecnológica. A exemplo disso, há o senso comum de que os indígenas são
selvagens, alheios aos benefícios do mundo moderno, o que, consequentemente,
gera um preconceito, manifestado em indagações como “o índio tem ‘smartphone’ e
está lutando pela demarcação de terras?” – ideia essa que deslegitima a luta
dos silvícolas. Entretanto, de acordo com a Teoria do Indigenato, defendida
pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o direito dos povos
tradicionais à terra é inato, sendo anterior, até, à criação do Estado
brasileiro. Dessa forma, por não ensinarem tal visão, os colégios fometam a
desvalorização das comunidades tradicionais, mediante o desenvolvimento de um
pensamento discriminatório nos alunos.
Além
disso, outro desafio para o reconhecimento desses indivíduos é a carência do
progresso sustentável. Nesse contexto, as entidades mercadológicas que atuam
nas áreas ocupadas pelas populações tradicionais não necessariamente se
preocupam com a sua preservação, comportamento no qual se valoriza o lucro em
detrimento da harmonia entre a natureza e as comunidades em questão. À luz
disso, há o exemplo do que ocorre aos pescadores, cujos rios são contaminados
devido ao garimpo ilegal, extremamente comum na Região Amazônica. Por
conseguinte, o povo que sobrevive a partir dessa atividade é prejudicado pelo
que a Biologia chama de magnificação trófica, quando metais pesados acumulam-se
nos animais de uma cadeia alimentar – provocando a morte de peixes e a infecção
de humanos por mercúrio. Assim, as indústrias que usam os recursos naturais de
forma irresponsável não promovem o desenvolvimento sustentável e agem de
maneira nociva às sociedades tradicionais.
Portanto, é essencial que o governo mitigue os desafios supracitados. Para isso, o Ministério da Educação – órgão responsável pelo estabelecimento da grade curricular das escolas – deve educar os alunos a respeito dos empecilhos à preservação dos indígenas, por meio da inserção da matéria “Estudos Indigenistas” no ensino básico, a fim de explicar o contexto dos silvícolas e desconstruir o preconceito. Ademais, o Ministério do Desenvolvimento – pasta instituidora da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – precisa fiscalizar as atividades econômicas danosas às sociedades vulneráveis, visando à valorização de tais pessoas, mediante canais de denúncias.
✏️Carina Moura, de 18 anos
Na
segunda metade do século XVIll, os escritores da primeira fase do
Romantismo elevaram, de maneira completamente idealizada, o indígena e a
natureza à condição de elementos personificadores da beleza e do poder da
pátria (quando, na verdade, os nativos continuaram vítimas de uma exploração
desumana no momento em questão). Sem desconsiderar o lapso temporal, hoje
nota-se que, apesar das conquistas legais e jurídicas alcançadas, a exaltação
dos indígenas e dos demais para tradicionais não se efetivou no cenário
brasileiro e continua restrita às prosas e poesias do movimento romântico. A
partir desse contexto, é imprescindível compreender os maiores desafios para
uma plena valorização das comunidades tradicionais no Brasil.
Nesse
sentido, é inegável que o escasso interesse político em assegurar o respeito à
cultura e ao modo de vida das populações tradicionais frustra a valorização
desses indivíduos. Isso acontece, porque, como já estudado pelo sociólogo
Boaventura de Sousa Santos, há no Brasil uma espécie de “Colonialismo
Insidioso”, isto é, a manutenção de estruturas coloniais perversas de
dominação, que se disfarça em meio a avanços sociais, mas mantém a camada mais
vulnerável da sociedade explorada e negligenciada. Nessa perspectiva,
percebe-se o quanto a invisibilização dos povos tradicionais é proposital e
configura-se como uma estratégia política para permanecer no poder e fortalecer
situações de desigualdade e injustiça social. Dessa forma, tem-se um país que,
além de naturalizar as mais diversas invasões possessórias nos territórios dos
povos tradicionais, não respeita a forma de viver e produzir dessas populações,
o que comprova uma realidade destoante das produções literárias do Romantismo.
Ademais,
é nítido que as dificuldades de promover um verdadeiro reconhecimento e
valorização das comunidades tradicionais ascendem à medida que raízes
preconceituosas são mantidas. De fato, com base nos estudos da filósofa Sueli
Carneiro, é perceptível a existência de um “Epistemicídio Brasileiro” na
sociedade atual; ou seja, há uma negação da cultura e dos saberes de grupos
subalternizados, a qual é ainda mais reforçada por setores midiáticos. Em
outras palavras, apesar da complexidade de cultura dos povos tradicionais, o
Brasil assume contornos monoculturais, um vez que inferioriza e “sepulta” os
saberes de tais grupos, cujas relações e produções, baseadas na relação harmônica
com a natureza, destoam do modelo ocidental, capitalista e elitista. Logo,
devido a um notório preconceito, os indivíduos tradicionais permanecem
excluídos socialmente e com seus direitos negligenciados.
Portanto, faz-se necessário superar os desafios que impedem a vilanização das comunidades tradicionais no Brasil. Para isso, urge que o Poder Executivo - na esfera federal - amplie a verba destinada a órgãos fiscalizadores que visem garantir os direitos dos povos tradicionais e a preservação de seus territórios e costumes. Tal ação deve ser efetivada pela implantação de um Projeto Nacional de Valorização dos Povos Tradicionais, de modo a articular, em conjunto com a mídia socialmente engajada, palestras e debates que informem a importância de tais grupos em todos os 5570 municípios brasileiros. Isso deve ser feito a fim de combater os preconceitos e promover o respeito às populações tradicionais. Afinal, o intuito é que elas sejam tão valorizadas quanto os índios na primeira fase da literatura romântica.
✏️ Maria Fernanda Simionato, de 21 anos
Historicamente,
a partir da implementação das missões jesuíticas no Brasil colonial, os povos
nativos tiveram suas tradições suprimidas e o seu conhecimento acerca das
peculiaridades territoriais menosprezado. Na contemporaneidade, a importância
dessas populações configura um fator indispensável à compreensão da diversidade
étnica do nosso país. Contudo, ainda persistem desafios à valorização dessas
comunidades, o que interfere na preservação de seus saberes. Logo, urgem
medidas estatais que promovam melhorias nesse cenário.
Sob
esse viés, é válido destacar a fundamentabilidade dos povos tradicionais como
detentores de pluralidade histórica e cultural, que proporciona a disseminação
de uma vasta sabedoria na sociedade. Nesse sentido, o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirma as heranças tradicionais desses
grupos como constituintes do patrimônio imaterial brasileiro. Dessa forma,
sabe-se que a contribuição desses indivíduos para a formação intelectual do
corpo social engloba práticas de sustentabilidade, agricultura familiar e,
inclusive, confere a eles uma participação efetiva na economia do país. Assim,
evidencia-se a extrema relevância dessas comunidades para a manutenção de
conhecimentos diferenciados, bem como para a evolução da coletividade.
Entretanto,
a falta de representantes políticos eleitos para essa classe ocasiona a
desvalorização das suas necessidades sociais, que não são atendidas pelos
demais legisladores. Nesse contexto, a Constituição Federal assegura direitos
inalienáveis a todos os cidadãos brasileiros, abordando o dever de inclusão de
povos tradicionais nas decisões públicas. Desse modo, compreende-se que a
existência de obstáculos para o reconhecimento da importância de populações
nativas se relaciona à ineficácia na incorporação de representantes que sejam,
de fato, interessados na perpetuação de saberes e técnicas ancestrais
propagados para esses grupos. Sendo assim, comprova-se a ocorrência de um grave
problema no âmbito coletivo, o qual impede a garantia plena dos direitos
básicos dessas pessoas.
Diante do exposto, denota-se a urgência de propostas governamentais que alterem esse quadro. Portanto, cabe ao Estado – cuja função principal é a proteção dos direitos de seus cidadãos – a implantação de mudanças no sistema eleitoral, por meio da criação de cotas rígidas para a eleição de políticos oriundos de localidades nativas. Tal reestruturação terá como finalidade a valorização de povos tradicionais, reconhecendo a sua fundamentalidade na composição histórica e cultural da sociedade brasileira.
✏️Ana Alice Teixeira, de 18 anos
Na
minissérie documental “Guerras do Brasil.doc”, presente na plataforma Netflix,
o professor indígena Ailton Krenak propõe a reflexão acerca da dizimação dos
povos originários a partir de perspectivas atuais, em que é retratada a
história sob o olhar do esquecimento e da violência contra esses povos, a
despeito da sua riqueza cultural e produtiva. Essas formas de desvalorização
das comunidades tradicionais do Brasil são respaldadas, dentre outros fatores,
pela invisibilização histórica desses atores sociais no ensino básico e pelo
preconceito que rege o senso comum. Dessa forma, é imprescindível a intervenção
sociogovernamental, a fim de superar os desafios mencionados.
Com
efeito, cabe destacar a exclusão generalizada dos aspectos históricos e
culturais referentes às etnias tradicionais dentro do sistema educacional como
fator proeminente à perpetuação da desvalorização do grupo em questão, uma vez
que, sendo a escola um dos núcleos de integração social e informacional, a
carência de estímulos ao conhecimento dos povos nativos provoca
desconhecimento, e consequentemente, o cidadão comum não tem base da informação
acerca da indispensabilidade das comunidades originárias à formação do corpo
social brasileiro. Nesse sentido, os versos “Nossos índios em algumas poucas
memórias/Os de fora nos livros das nossas escolas”, da banda cearense Selvagens
a Procura de Lei, ilustram a construção do ensino escolar pautada no
esquecimento dessa minoria, de maneira a ampliar sua desvalorização. Assim, é
constatável a estreita relação entre as lacunas na educação e o fraco
reconhecimento dos povos e das comunidades tradicionais.
Ademais,
vale ressaltar o preconceito cultivado no ideário popular como empecilho à
importância atribuída aos povos nativos, posto que, em decorrência da baixa
representatividade em ambientes escolares, como mencionado anteriormente, e do
baixo respaldo cultural, marcado por estereótipos limitantes e etnocentristas,
isto é, que supõem superioridade de uma etnia em relação à outra, há formação
de estigmas sobre pessoas dessas minorias e, por conseguinte, não há o
reconhecimento de suas ricas peculiaridade. Seguindo essa linha de raciocínio,
é possível estabelecer conexões entre a atualidade e a carta ao rei de Portugal
escrita por Pero Vaz de Caminha, no momento da chegada dos portugueses ao
Brasil, de forma que a perspectiva do navegador em relação ao indígena,
permeada de suposta inocência, maleabilidade e passividade, pouco alterou-se na
concepção atual, evidenciando a prepotência e a altivez que são implicações da
ignorância e do silenciamento das fontes tradicionais. Então, são necessárias
medidas de mitigação dessa problemática para o alcance do bem-estar da
sociedade.
Em suma, entende-se o paralelo entre a desvalorização dos povos nativos e o apagamento histórico destes, além do preconceito sobre este grupo, de modo a urgir atenuação do cenário exposto. Para isso, cabe ao Ministério da Educação a ampliação do ensino histórico e cultural do acervo tradicional, por meio da reformulação das bases de assuntos abordados em sala de aula e da contratação de profissionais dessas etnias, com o objetivo de pluralizar as narrativas e evitar a exclusão provocada por apenas uma história, em consonância com o livro da escritora angolana Chimamanda Ngozie Adichie “O perigo da história única”. Também, é papel dos veículos culturais, como a mídia, a representação ampla e fidedigna desses grupos, com o fito de minorar a visão estigmatizada do que foi construída. Com isso, o extermínio simbólico denunciado por Krenak será minguado.
✏️ Maria Eduarda Braz, de 18 anos
Na
obra literária “Triste fim de Policarpo Quaresma”, do autor brasileiro Lima
Barreto, a figura do protagonista é construída a partir de um ideal
ultranacionalista baseado na valorização das questões do próprio país.
Analogamente, fora da ficção, a sociedade brasileira não se comporta com
Policarpo, visto que esta não se preocupa em valorizar a memória dos povos
tradicionais brasileiros, embora sejam tão importantes para a identidade
nacional. Nesse interím, entende-se a negligência estatal e a não eficiência da
legislação como causas desse desafio.
A
princípio, sobre esse assunto, vale ressaltar a importância de um Estado ativo
na resolução de questões sociais. Dessa forma, para o filósofo polonês Zygmmunt
Bauman, uma instituição, quando posicionada de forma a ignorar sua função
original, é considerada em um estado de “zumbi”. Sob esse viés, o Estado
brasileiro é análogo a esse conceito, visto que, no que tange à valorização e
proteção dessas comunidades, ele é ausente. Isso posto, tal postura negligente
contribui para que os povos tradicionais não recebam o amparo estatal
necessário, colocando em risco anos de história, de resistência e de memória de
uma parcela fundamental da sociedade.
Outrossim,
a ausência de uma legislação que abrace a causa ameaça diretamente a
sobrevivência desses grupos. Nessa ótica, a obra literária “Cidadão de papel”,
do jornalista Gilberto Dimenstein, apresenta um contexto social em que as
garantias constitucionais estão restritas apenas à parte escrita, sem ser
colocada em prática. Diante disso, essas comunidades originais tupiniquins
podem ser consideradas de papel, tendo em vista a não eficiência das leis e
projetos que garantem seus direitos. Assim, ao invés de promover a valorização
e o reconhecimento dessas populações, tais determinações falhas contribuem para
a manutenção do sentimento de invisibilidade social desses povos.
Dessarte, é inegável que, a respeito dos povos tradicionais, o Brasil possui entraves que precisam ser resolvidos. Logo, o Governo Federal, órgão de maior poder político nacional, deve, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, criar projetos de reconhecimento e que garantam os direitos desses grupos. Essa ação será viabilizada por meio de campanhas estabelecidas pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), de forma que a valorização dessas populações torne-se cada vez mais uma pauta discutida na sociedade. Para isso, é fulcral a disseminação de informações acerca da importância de proteger os territórios indígenas e quilombolas, evidenciando a necessidade da não reivindicação desses locais para fins economicos e privados. Dessa forma, será possível formar uma sociedade ciente das causas sociais do país e, principalmente, manter viva a memória daqueles que essencialmente formaram a identidade nacional.
✏️ Juliana Moreau de Almeida, de 17 anos
Declarado
patrimônio imaterial brasileiro, o ofício das quebradeiras de coco é exemplo de
preservação de conhecimentos populares que marcam a cultura, a economia e as
relações interpessoais dos povos envolvidos. Similarmente, muitos outros grupos
tradicionais possuem saber de extrema importância e, no entanto, não recebem o
respeito merecido, o que cria uma urgente necessidade de promover a valorização
dessas comunidades. Nesse contexto, é válido analisar como a negligência
estatal e a existência de uma visão capitalizada da natureza representam
desafios para a resolução de tal problemática.
Diante
desse cenário, nota-se a inoperância governamental como fator agravante do
descaso em relação às culturas tradicionais. Para pensadora contemporânea
Djamila Ribeiro, é preciso tirar as situações da invisibilidade para que
soluções sejam encontradas, perspectiva que demonstra a falha cometida pelo
Estado, uma vez que existe uma forte carência de conscientização popular sobre
o assunto - causada pelo baixo estímulo governamental a essas discussões, tanto
nas salas de aula quanto no âmbito político. Nesse sentido, fica evidente que,
por não dar notoriedade à luta desses povos, o governo permite o esquecimento e
a minimização de seus costumes, o que gera não somente a massiva perda cultural
de um legado cultivado por gerações, mas também o prejuízo da desestruturação
econômica de locais baseados nessas técnicas.
Ademais,
percebe-se a influência de uma ideologia que mercantiliza o ambiente na
manutenção de tal entrave. "Para a ganância, toda natureza é
insuficiente" - a frase, do filósofo Sêneca, critica uma concepção
recorrente na atual conjuntura brasileira, segundo a qual o meio ambiente é
visto como um objeto para o luxo humano- logicamente, tal visão mercadológica se
choca com o modo de vida experienciado pelos povos tradicionais, que vivenciam
seu relacionamento respeitoso e recíproco com o ecossistema, fazendo uso de
seus recursos sem fins exploratórios. Por conseguinte, as comunidades que vivem
dessa intimidade com a natureza são altamente reprimidas pelas classes que se
beneficiam do uso capitalizado e desigual do meio natural, como grandes
empresas pecuaristas, que lucram da concentração de terras e do monopólio
comercial, o que exclui - ainda mais - a população originária e resulta no
declínio de sua cultura.
Portanto, cabe ao Estado - em sua função de promotor do bem-estar social - estabelecer uma ampla fiscalização do uso comercial do meio ambiente em áreas com maior volume de povos tradicionais, mediante a criação de mais delegacias especializadas no setor ambiental, a fim de garantir a preservação do estilo de vida desses indivíduos. Outrossim, é dever do Governo Federal organizar uma campanha de valorização de tais grupos, por meio da divulgação de informativos em redes sociais e da realização de palestras em escolas, de modo a enfatizar a contribuição socioambiental desses cidadãos, para, assim, conscientizar a população e possibilitar a exaltação das culturas tradicionais brasileiras.
✏️ Giovana Guimarães, de 18 anos
O
documentário “Guerras do Brasil”, que tem participação do ativista indígena
Ailton Krenak, apresenta, em seu primeiro episódio, a perspectiva dos povos
originários em relação ao processo de colonização brasileiro, ressaltando a
manutenção da luta dessas comunidades pela conservação da cultura e preservação
da natureza na atualidade. A partir desse cenário, é necessário avaliar os
obstáculos que impedem a valorização efetiva dos povos tradicionais no Brasil,
o que está associado à relação conflituosa com o modelo econômico
agroexportador brasileiro, bem como à visão de parte da sociedade que
inferioriza organizações sociais que se diferenciam do padrão ocidental.
De
início, é importante observar a contraposição existente entre a forma como as
comunidades originárias e uma parcela da população lidam com a natureza. Nesse
contexto, destaca-se o modelo de colonização do Brasil, chamado de “colônia de
exploração”, o qual estabeleceu uma economia pautada na exploração dos recursos
naturais em vista da possibilidade do lucro. Esse tipo de visão, que é
observado, na atualidade, pela manutenção de um modelo econômico
agroexportador, se opõe à visão dos povos tradicionais em relação à natureza,
os quais estabelecem uma íntima relação de reciprocidade, identificando, nesse
local, a sua fonte de sobrevivência e de moradia. Como consequência dessas
realidades opostas, alguns indivíduos consideram a população originária
contrária ao progresso econômico buscado pelo capitalismo, o que impede a
valorização do saber desses povos sobre a natureza.
Além
disso, percebe-se a existência de um pensamento que estabelece uma relação de
hierarquização entre os povos brasileiros, o que impede o reconhecimento
efetivo das comunidades tradicionais. Nesse sentido, evidencia-se a
disseminação, durante o processo de colonização brasileiro, do mito do “Bom
Selvagem”, em que os nativos foram caracterizados como ingênuos e puros, sendo
possíveis de serem civilizados pela cultura ocidental, desconsiderando a
organização social já existente entre esses povos. Consequentemente, devido à
desqualificação da noção própria de organização dessas comunidades
culturalmente diferenciadas, observa-se a inferiorização de costumes e hábitos
não ocidentais, impedindo uma visão de igualdade que permite a valorização dos
povos tradicionais.
Portanto, conclui-se que o Governo Federal, em parceria com o Ministério da Educação, deve promover o reconhecimento das características singulares de cada comunidade tradicional brasileira, por meio de debates com lideranças desses grupos com a população, o que pode ser realizado em instituições públicas, como as escolas, bem como em ambientes virtuais, como as redes sociais, a fim de garantir a valorização plena desses povos que pertencem à noção. Ademais, é relevante que se estabeleçam relações mais amistosas entre o ser humano e a natureza, a partir da valorização dos saberes tradicionais.
✏️ Ana Alice de Souza Azevedo, de 21 anos
Na
primeira fase do Romantismo, os aspectos da natureza brasileira e os povos
tradicionais foram intensamente valorizados nas obras, criando um movimento
ufanista em relação a características nacionais. Tal quadro de valorização,
quando comparado à realidade, não foi perpetuado, apresentando preocupantes
desafios para a exaltação das comunidades nativas na contemporaneidade. Nesse
sentido, a problemática não só deriva da inércia estatal, mas também do descaso
social.
De
início, é importante observar que a inércia governamental é uma das principais
barreiras para a valorização dos povos tradicionais. Nessa perspectiva, de
acordo com a Constituição Brasileira de 1988 é responsabilidade do Estado
garantir a preservação e a exaltação das comunidades nativas, incluindo medidas
voltadas para a proteção de suas culturas. Entretanto, tal postulado é quebrado
quando comparado à contemporaneidade, haja vista que a maioria dos povos
tradicionais, como indígenas e quilombolas, não possui seus direitos
estabelecidos, a exemplo da demarcação de terras, sendo perversamente
abandonada por um governo que não oferece o suporte e o auxílio garantidos por
lei. Por conseguinte, a partir do momento que o Estado é passivo e negligente,
as autoridades são responsáveis tanto por estabelecer um equivocado cenário de
quebra de direitos constitucionais, quanto por criar um errôneo quadro de
desvalorização cultural da nação, já que as culturas das comunidades nativas
representam o patrimônio de todos os brasileiros. Desse modo, a postura governamental
vigente acentua a negligência perante os povos naturais do país.
Além disso, o descaso social é outro desafio que alastra a
desvalorização de comunidades nacionais. Nesse viés, segundo o escritor Nelson
Rodriguês, isso ocorre devido ao Complexo Vira-Lata presente entre os
indivíduos, em que os brasileiros apresentam, em sua maneira, um sentimento de
inferioridade perante as nações exteriores, depreciando, assim, a cultura
nacional. Sob tal ótica, grande parte da população assume equivocadamente um
papel inerte e indiferente em relação à valorização das comunidades nativas,
uma vez que, devido ao errôneo sentimento depreciativo, não é capaz de enxergar
que a proteção e a exaltação dos povos tradicionais é de suma importância para
garantir a sobrevivência desses grupos e para a preservação do patrimônio
cultural da nação. Consequentemente, a visão míope e deturpada da sociedade é
responsável por formar um corpo social negligente e indiferente acerca da
própria história, ocasionando o abandono de parcelas tradicionais e o
esquecimento do legado cultural dos povos nativos.
Fica claro, portanto, que medidas necessitam ser tomadas para
solucionar a problemática. Nesse sentido, é preciso que o Estado elabore um
projeto de amplificação da valorização das comunidades tradicionais, por meio
do aumento de medidas de proteção a tais grupos, a exemplo da intensificação da
demarcação de terras, com o objetivo de reverter a postura inerte dos órgãos
governamentais, para que, dessa forma, os povos nativos tenham seus direitos
garantidos. Ademais, a mídia institucional deve criar projetos de exaltação
cultural, por intermédio da produção de campanhas digitais que abordem a
importância da preservação de traços nacionais com o intuito de desconstruir o
sentimento de inferioridade social, para que, dessa maneira, seja possível
reverter o descaso dos indivíduos perante a valorização das comunidades
nativas. Assim, os princípios de exaltação nacional presentes no Romantismo
poderão ser relacionados à realidade brasileira.
Competências
avaliadas na redação
A redação do Enem vale 1.000 pontos. Cada uma das competências explicadas abaixo, portanto, representa 200 pontos.
Competência 1 - Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
Competência 2 - Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.
Competência 3 - Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Competência 4 - Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
Competência 5 - Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/04/10/enem-2022-leia-redacoes-nota-mil.ghtml.
Acesso em 30/09/2023.
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