O 20 de novembro é celebrado como Dia da Consciência Negra no Brasil em homenagem a Zumbi dos Palmares, mas o porquê é a história que explica. A escolha foi motivada pelo enfrentamento do líder do Quilombo dos Palmares ao regime escravocrata. Ato que o coloca como símbolo de resistência e valorização do povo negro no país.
Assim detalha o mestre em História pela Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Fábio Batista Pereira. Em entrevista ao iBahia, o historiador explica
que o começo de toda essa simbologia aconteceu diante do crescimento do
movimento negro brasileiro, e da consequente expansão do debate sobre os
problemas que a escravidão deixou.
“A experiência passou a servir de exemplo quando se
trata das maneiras pelas quais homens e mulheres reagiram às condições impostas
pelo regime escravocrata, que reinou no Brasil por mais de 300 anos e que foi
marcada por várias formas de resistência”.
Nesse período de construção e desenvolvimento das lutas raciais,
segundo o professor, era preciso construir uma memória de luta que trouxesse o
protagonismo desses homens e mulheres, que foram submetidos à escravidão e
resistiram de diferentes formas. Entre elas, o próprio aquilombamento na
comunidade, que atualmente compreende a União dos Palmares, em Alagoas.
Na época, a data da abolição da escravatura era uma
possibilidade, mas não tinha um protagonismo negro nela embutido. “O 13 de maio
passava a ser vista cada vez mais com certa limitação e suspeita, por estar
associada a um ato da Princesa Isabel, e, portanto, esvaziava esse
protagonismo, essa agência, de homens e mulheres escravizados dentro desse
contexto”.
E, à medida que se buscava também superar a tese da democracia
racial, o objetivo era enfatizar que o processo de escravidão no Brasil esteve
longe de ser algo tranquilo. “Procurava-se a partir do estudo de sociólogos
como Florestan Fernandes, Frederico Cardoso, Octavio Ianni, compreender essas
tensões que o Brasil teve ao longo da sua história, pelo menos do ponto de
vista acadêmico”.
O historiador ressalta também a presença e a
contribuição de intelectuais e pesquisadores negros para pensar essa questão,
como Décio Freitas, Clóvis Moura, Abdias Nascimento, que contestaram a reflexão
compreendida por Gilberto Freyre em torno da trajetória da população negra no
Brasil
“O 20 de novembro surge lá nos anos de 1960, 1970,
como uma alternativa, porque trazia à memória da população negra um ícone, que
era Zumbi dos Palmares, como forma de fortalecer essa consciência negra”.
Diante disso, de acordo com o professor, a data
passou a ser compreendida pela memória de trazer alguém para a narrativa
histórica nacional que merece atenção por representar algo completamente
contrário à escravidão.
“A escolha representa uma antítese dentro do processo de uma sociedade escravocrata na qual se estruturou o Brasil, e que até hoje nós temos a necessidade de bater na tecla, na medida que precisamos nos posicionar frente a diferentes formas de racismo. Portanto, adotar uma postura antirracista passa pela construção dessa consciência negra”.
Fonte: https://www.ibahia.com/preta-bahia/entenda-por-que-a-data-da-morte-de-zumbi-dos-palmares-se-tornou-simbolo-da-consciencia-negra.
Acesso em 20 de novembro de 2022.
Fábio Batista Pereira - Possui Mestrado em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas(2016). Graduou-se em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2001). Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), na modalidade Iniciação Científica. Tem artigos publicados em livros e jornais. É professor da Rede Estadual de Ensino. Leciona e presta assessoria pedagógica na área de ensino e aprendizagem em escolas da rede particular de ensino: CAB/FADBA. Possui Curso de Gestão Escolar. Tem sido convidado para proferir palestras em universidades, escolas e participar de programas para televisão e rádio: CANAL NOVO TEMPO (2019) GLOBO REPÓRTER (TV Globo-2017), Programa APROVADO (TVBahia-2016), Comentarista da Festa da Boa Morte (TVE/BAHIA-2011. Músico, participou da FLICA ON LINE (2020) e da FLICA 2022.
0 Comentários