“Divergentes" x "antagônicos”: conheça a frase de Paulo Freire citada por Lula no Jornal Nacional”

 


A frase do pedagogo pernambucano Paulo Freire citada pelo candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em entrevista ao Jornal Nacional, na quinta (25), é do livro "Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido". Nele, o educador que virou uma referência mundial sobre educação fala sobre a necessidade do diálogo entre minorias para combater quem os oprime.

No livro, Freire afirma "que só uma política radical, jamais, porém, sectária, buscando a unidade na diversidade das forças progressistas, poderia lutar por uma democracia capaz de fazer frente ao poder e à virulência da direita. Vivia-se, porém, a intolerância, a negação das diferenças. A tolerância não era o que deve ser: a virtude revolucionária que consiste na convivência com os diferentes para que se possa melhor lutar contra os antagônicos".

Na entrevista do Jornal Nacional, Lula citou o educador ao afirmar que aprendeu a conversar, a negociar com os contrários.


"Tem uma frase do Paulo Freire que é fantástica, que eu utilizei para mostrar aos militantes do PT para falar da entrada do Alckmin: de vez em quando a gente precisa estar junto com os divergentes para combater os antagônicos. E agora nós precisamos vencer o antagonismo do fascismo, da ultradireita", afirmou 

De acordo com o historiador Dimas Brasileiro, pesquisador de 38 anos que integra a Cátedra Paulo Freire, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o livro de Freire é um apelo pelo diálogo democrático. Ele cita como exemplo um debate que ocorreu na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, no início dos anos 1970.

"Paulo Freire estava nos Estados Unidos no auge dos movimentos das identidades, dos movimentos sociais, movimentos identitários de gênero, movimento negro, movimento dos imigrantes. E inicialmente esses movimentos tinham dificuldade em dialogar entre si. E ele faz um apelo por um diálogo entre esses movimentos", explicou o historiador.

Segundo Dimas Brasileiro, o educador pernambucano vinha sendo convidado por universidades, movimentos sociais e governos do mundo todo para falar sobre "Pedagogia do Oprimido", um dos seus trabalhos mais conhecidos.

Freire, então, reforçou a importância do diálogo entre as minorias e lembrou que, apesar de diferentes, estes grupos tinham uma luta em comum.

"Que é a luta contra os opressores, né? Que os colocam em lugares de exclusão, de desigualdade. Então essa luta, que é uma luta divergente, tem como como foco o mesmo grupo, que é antagônico a eles, que os oprime, que os exclui. Que é uma luta contra essa opressão", afirmou o historiador.

Dimas Brasileiro disse que algumas pessoas questionaram o apelo feito por Paulo Freire. "Como ele poderiam estar juntos né? E o Paulo Freire diz 'nós somos divergentes, mas nós temos um campo antagônico a enfrentar'. O patriarcado, uma elite descomprometida, irresponsável com essas questões. Como se fosse um apelo por uma luta pela democracia que comportaria todas essas lutas".


Patrono da educação

Considerado subversivo pela ditadura militar, o pernambucano ficou exilado por 16 anos e escreveu mais de 30 livros, traduzidos para vários idiomas (veja vídeo acima). A principal obra dele, "Pedagogia do Oprimido", lançada em 1968, é o único livro brasileiro que consta na lista dos 100 títulos mais solicitados nas ementas de cursos de universidades dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Austrália e da Nova Zelândia.

Apesar de Paulo Freire ter o título de patrono da educação desde 2012, uma iniciativa popular que contou com 20 mil assinaturas, em 2017, e um projeto de lei de 2019, de autoria do deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), tentaram transferir a condição de patrono da educação brasileira para José de Anchieta, padre jesuíta canonizado pelo papa Francisco em 2014.

Criticada pelo governo Bolsonaro, que atribui a ela o baixo desempenho escolar do Brasil em avaliações da qualidade da educação nacional, a metodologia freireana de alfabetização prioriza as necessidades práticas de cada grupo que participa do aprendizado.

É uma teoria pedagógica ligada ao dia a dia das pessoas e que vai além do objetivo de ensinar a ler e escrever, buscando possibilitar uma conscientização crítica dos alunos sobre a realidade e a sociedade.

A permanência do pensamento de Paulo Freire, mesmo após a sua morte, em 1997, é comprovada pela atualidade de diversas declarações educador. Mesmo ditas no século passado, várias frases do patrono da educação brasileira ainda trazem ensinamentos e lições pertinentes para a realidade atual do país e da educação brasileira.

Disponível em: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2022/08/26/entenda-o-contexto-da-frase-de-paulo-freire-citada-por-lula-durante-sabatina-do-jornal-nacional.ghtml. Acesso em 26/08/2022.

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