No livro, Freire afirma "que só uma política radical,
jamais, porém, sectária, buscando a unidade na diversidade das forças
progressistas, poderia lutar por uma democracia capaz de fazer frente ao poder
e à virulência da direita. Vivia-se, porém, a intolerância, a negação das
diferenças. A tolerância não era o que deve ser: a virtude revolucionária que consiste na convivência com os
diferentes para que se possa melhor lutar contra os antagônicos".
Na entrevista do Jornal Nacional, Lula citou o educador ao
afirmar que aprendeu a conversar, a negociar com os contrários.
"Tem uma frase do Paulo Freire que é fantástica, que eu
utilizei para mostrar aos militantes do PT para falar da entrada do
Alckmin: de vez em quando a gente precisa
estar junto com os divergentes para combater os antagônicos. E
agora nós precisamos vencer o antagonismo do fascismo, da ultradireita",
afirmou
De
acordo com o historiador Dimas Brasileiro, pesquisador de 38 anos que integra a
Cátedra Paulo Freire, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
o livro de Freire é um apelo pelo diálogo democrático. Ele cita como exemplo um
debate que ocorreu na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, no
início dos anos 1970.
"Paulo Freire estava nos Estados Unidos no auge dos
movimentos das identidades, dos movimentos sociais, movimentos identitários de
gênero, movimento negro, movimento dos imigrantes. E inicialmente esses
movimentos tinham dificuldade em dialogar entre si. E ele faz um apelo por um
diálogo entre esses movimentos", explicou o historiador.
Segundo Dimas Brasileiro, o educador pernambucano vinha sendo
convidado por universidades, movimentos sociais e governos do mundo todo para
falar sobre "Pedagogia
do Oprimido", um dos seus trabalhos mais conhecidos.
Freire, então, reforçou a importância do diálogo entre as
minorias e lembrou que, apesar de diferentes, estes grupos tinham uma luta em
comum.
"Que é a luta contra os opressores, né? Que os colocam em
lugares de exclusão, de desigualdade. Então essa luta, que é uma luta
divergente, tem como como foco o mesmo grupo, que é antagônico a eles, que os
oprime, que os exclui. Que é uma luta contra essa opressão", afirmou o
historiador.
Dimas Brasileiro disse que algumas pessoas questionaram o apelo
feito por Paulo Freire. "Como ele poderiam estar juntos né? E o Paulo
Freire diz 'nós somos divergentes, mas nós temos um campo antagônico a
enfrentar'. O patriarcado, uma elite descomprometida, irresponsável com essas
questões. Como se fosse um apelo por uma luta pela democracia que comportaria
todas essas lutas".
Patrono da educação
Considerado subversivo pela ditadura militar, o pernambucano
ficou exilado por 16 anos e escreveu mais de 30 livros, traduzidos para vários
idiomas (veja vídeo acima).
A principal obra dele, "Pedagogia do
Oprimido", lançada em 1968, é o único livro brasileiro que consta na lista
dos 100 títulos mais solicitados nas ementas de cursos de universidades dos
Estados Unidos, do Reino Unido, da Austrália e da Nova Zelândia.
Apesar de Paulo Freire ter o título de patrono da educação desde
2012, uma iniciativa popular que contou com 20 mil assinaturas, em 2017, e um projeto
de lei de 2019, de autoria do deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), tentaram transferir a condição de patrono da educação brasileira para
José de Anchieta, padre jesuíta canonizado pelo papa Francisco em 2014.
Criticada pelo governo Bolsonaro, que atribui a ela o baixo
desempenho escolar do Brasil em avaliações da qualidade da educação nacional, a
metodologia freireana de alfabetização prioriza as necessidades práticas de
cada grupo que participa do aprendizado.
É uma teoria pedagógica ligada ao dia a dia das pessoas e que
vai além do objetivo de ensinar a ler e escrever, buscando possibilitar uma
conscientização crítica dos alunos sobre a realidade e a sociedade.
A permanência do pensamento de Paulo Freire, mesmo
após a sua morte, em 1997, é comprovada pela atualidade de diversas declarações
educador. Mesmo ditas no século passado, várias frases do patrono da educação
brasileira ainda trazem ensinamentos e lições pertinentes para a realidade
atual do país e da educação brasileira.
Disponível
em: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2022/08/26/entenda-o-contexto-da-frase-de-paulo-freire-citada-por-lula-durante-sabatina-do-jornal-nacional.ghtml.
Acesso em 26/08/2022.
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