A festa remete Ă chegada a Salvador, em 2 de julho de
1823, do exĂ©rcito — se Ă© que a palavra se aplica a uma tropa maltrapilha —
libertador brasileiro, que havia expulsado os portugueses. Os primeiros
soldados começaram a chegar pela manhã. Não pareciam fazer parte de um exército
vitorioso. Estavam descalços, quase nus, fracos e cansados.
Situação bem diferente da cena do
quadro Entrada do
Exército Libertador, do artista Presciliano Silva, pintado em 1930 e hoje
exposto no Memorial da CĂąmara Municipal de Salvador. Ele mostra o comandante
brasileiro, o entĂŁo coronel Joaquim de Lima e Silva, tio de Luiz Alves de Lima
e Silva, o futuro Duque de Caxias, montado num belĂssimo cavalo alazĂŁo, seguido
por um exército de homens muito contentes, alegres e saudåveis.
De acordo com
o escritor, historiador e autor de vĂĄrios livros sobre a histĂłria da Bahia, Luiz
Henrique Dias Tavares (1926-2020), em entrevista publicada pela revista
Pesquisa Fapesp, em janeiro de 2006, a obra "nĂŁo representa a
verdade". Segundo Laurentino Gomes, em seu livro 1822, os moradores, que jĂĄ sabiam que os portugueses
haviam partido de madrugada, receberam os soldados com festa naquele dia.
"E com festa ainda sĂŁo lembrados todos os anos no dia 2 de julho."
Festa popular
Diferentemente das comemoraçÔes
de 7 de setembro, que tĂȘm carĂĄter mais militar em todo o Brasil — e na prĂłpria
Bahia — os festejos de 2 julho tĂȘm maior participação popular, com desfiles
pelas ruas e festas nas casas de Salvador, que duram o dia todo.
A data marca o fim de uma guerra
que começou em 1822.
"A Guerra de IndependĂȘncia
na Bahia começou dois meses e meio antes do Grito do Ipiranga, quando a cùmara
da cidade de Cachoeira aclamou D. Pedro como prĂncipe regente, desligando-se
das Cortes de Lisboa", conta o historiador e escritor Paulo Rezzutti,
autor do livro IndependĂȘncia,
a história não contada: a construção do Brasil de 1500 a 1825.
Os portugueses nĂŁo gostaram dessa
decisĂŁo e, com o auxĂlio de um navio, atacaram pessoas que estavam saindo de
uma missa em celebração, mas a população e os soldados reagiram, até que a
embarcação se rendesse.
Mas antes disso, houve vĂĄrios eventos que levaram a
esse combate. De acordo com o historiador Francisco Eduardo Torres Cancela, da
Universidade do Estado da Bahia (Uneb), a guerra no Estado aconteceu num
contexto geral de grandes transformaçÔes, a chamada era das revoluçÔes.
"Em agosto de 1820, eclodiu
na cidade do Porto uma revolução liberal que, entre outras coisas, defendia o
retorno do rei d. JoĂŁo 6Âș para Portugal e a elaboração de uma constituição para
o paĂs", explica.
Segundo Cancela, a recepção dos
ideais constitucionalistas na Bahia alimentou uma expectativa de mudança, ainda
que sem uma perspectiva de ruptura imediata com o Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves, levando a uma rĂĄpida adesĂŁo da provĂncia Ă s Cortes Gerais,
Extraordinårias e Constituintes da Nação Portuguesa, que era uma espécie de
parlamento na Ă©poca.
"No entanto, as medidas
delas referentes ao Brasil começaram a restringir a autonomia anteriormente
conquistada, gerando tensÔes entre diferentes grupos e alterando o jogo de
equilĂbrio de poder", explica Cancela.
"Foi nessa conjuntura que as
divergĂȘncias sobre a autoridade polĂtica acabaram se transformando em conflito
armado na Bahia."
Do ponto de vista factual, os
antecedentes da guerra começaram em 10 de fevereiro de 1821, quando houve um
levante contra o governador local, que levou à criação de uma junta de governo
provisĂłria.
"Por meio de decretos, com o
intuito de desarticular qualquer iniciativa de implantação de um poder
executivo no Brasil, em setembro de 1821, o governo portuguĂȘs alterou o comando
militar do Brasil subordinando-o a Lisboa", conta o historiador Walter
Silva, diretor do Centro de MemĂłria da Bahia (CMB), unidade gerida pela
Fundação Pedro Calmon (FPC) da Secretaria de Cultura da Bahia. "Além
disso, determinaram o retorno do prĂncipe d. Pedro para Portugal."
Segundo Rezzutti, a junta provisĂłria, que obedecia
diretamente a Lisboa, e nĂŁo ao prĂncipe regente no Rio de Janeiro, passou a ter
brasileiros em altos postos, entre os quais o militar Manuel Pedro de Freitas
GuimarĂŁes, que assumiu o comando de armas da provĂncia.
As Cortes Constitucionais de
Lisboa não gostaram da situação. Por isso, determinaram eleiçÔes para uma nova
junta de governo em janeiro de 1822, que tomou posse em 2 de fevereiro e
parecia mais propensa a aceitar a liderança de d. Pedro, em vez da de Lisboa.
Essa junta confirmou GuimarĂŁes
como comandante de armas, no entanto, o que gerou conflito com os militares
portugueses, especialmente a partir de 11 de fevereiro, quando chegou de
Portugal a nomeação, por meio de um decreto de 9 de dezembro de 1821, do
militar portuguĂȘs InĂĄcio LuĂs Madeira de Melo para o posto.
E foi aà que a guerra começou de
fato. Veterano das guerras de Portugal contra NapoleĂŁo Bonaparte,
semianalfabeto e autoritĂĄrio, o general Madeira de Melo tentou subjugar a Bahia
pelas armas. Como nĂŁo poderia deixar de acontecer naquele contexto, houve
reação. No dia 19 de fevereiro daquele ano, logo de manhã, militares
brasileiros se rebelaram contra a decisĂŁo das Cortes, no forte de SĂŁo Pedro,
onde ainda hoje funciona uma unidade militar, e nos quartéis da Palma e da
Mouraria.
Madeira de Melo exigiu a rendição dos rebelados, mas
eles não o atenderam. Então ele mandou bombardear o forte e os quartéis. Sem
condiçÔes de resistir, no dia seguinte os brasileiros abandonaram as
instalaçÔes e foram para a cidade. De acordo com o historiador Johny Santana de
AraĂșjo, a partir desse dia, tropas portuguesa e forças baianas passaram a lutar
abertamente nas ruas de Salvador.
"Foi ficando cada vez mais evidente que havia dois partidos com interesses antagĂŽnicos, um portuguĂȘs e um brasileiro, o que acabou criando uma tensĂŁo cada vez maior e levando a provĂncia a uma guerra civil", diz.
Saques e tumultos
Os combates duraram quatro dias.
De acordo com Gomes, em seu livro 1822, saques, tumultos e quebra-quebras
tomaram conta da cidade, nos quais de 200 a 300 pessoas foram mortas. Entre
elas, estava a primeira mårtir da guerra, Joana Angélica de Jesus, superiora do
Convento da Lapa, em Salvador. Ela foi assassinada com por soldados
portugueses, que queriam invadir o local em busca de munição e dos nativistas
contrĂĄrios ao general Madeira de Melo.
Soror Angélica tentou impedir que
os soldados entrassem no claustro, que era vedado para os homens, e acabou
sendo morta com golpes de baioneta. O capelão Daniel Nunes da Silva também foi
ferido no ataque, mas nĂŁo morreu.
Depois desses confrontos, os principais oponentes de Madeira
de Melo, compostos por grandes comerciantes e senhores de terra brasileiros, se
refugiaram no RecĂŽncavo, passando a organizar dali a resistĂȘncia ao governo
portuguĂȘs. Entre as principais vilas da regiĂŁo estavam Santo Amaro da
Purificação — municĂpio famoso hoje por ser a terra de Dona CanĂŽ, a mĂŁe de
Caetano Veloso e Maria BethĂąnia —, Cachoeira, SĂŁo Francisco do Conde e
Maragogipe.
Mas nĂŁo foram sĂł eles que
deixaram Salvador. Segundo Gomes, "assustados com a violĂȘncia, centenas de
civis seguiram o mesmo caminho, evacuando a cidade com suas famĂlias e os
pertences que conseguiram carregar. Em poucos dias, as vilas e fazendas do
RecĂŽncavo se transformaram em imensos campos de refugiados brasileiros. O
restante da Bahia aderiu em peso Ă IndependĂȘncia do Brasil formando um cinturĂŁo
de isolamento aos portugueses encastelados em Salvador".
Segundo AraĂșjo, entre maio e junho de 1822, nas
cùmaras municipais da região do RecÎncavo, começaram a se fazer conclamaçÔes a
d. Pedro para se tornar defensor perpĂ©tuo do Brasil, tĂtulo oferecido em 13 de
maio ao prĂncipe pelo Senado da CĂąmara do Rio de Janeiro. "Essas açÔes
eram abertamente contrĂĄrias Ă s vontades das Cortes de Lisboa, de levar o
prĂncipe regente de volta a Portugal, e acabaram provocando a reação das tropas
portuguesas estacionadas em Salvador", acrescenta.
Rezzutti lembra que, na Ă©poca, as
vilas do RecĂŽncavo, que sustentavam a economia da Bahia, cada vez mais se
voltavam para o Rio de Janeiro. Os baianos passaram a considerar a ideia de um
Brasil unido ao redor do prĂncipe regente, como a Ășnica maneira de evitar a
recolonização do paĂs. "Em 25 de junho, a CĂąmara da Vila de Cachoeira, com
a presença de oficiais brasileiros, do clero e do povo, aclamou D. Pedro como
regente do Reino do Brasil, e os cidadĂŁos decidiram nĂŁo obedecer mais a Madeira
de Melo", conta.
Eles pagaram um preço por isso,
no entanto. Os portugueses, a bordo de uma canhoneira ancorado do Rio
Paraguaçu, que banha a cidade, abriram fogo contra a vila em festa. "Após
a aclamação, seguiu-se um cortejo para uma missa, que foi atacado a partir do
rio, assim como a vizinha cidade de SĂŁo FĂ©lix", conta AraĂșjo. "Esse
ataque marca oficialmente o inĂcio da Guerra da IndependĂȘncia na Bahia."
Mas os brasileiros de Cachoeira
reagiram e reverteram a situação. Gomes relata que no amanhecer do dia
seguinte, uma improvisada flotilha de canoas e pequenos barcos de pesca cercou
a canhoneira de todos os lados.
"Na falta de equipamentos
mais modernos, os brasileiros usavam espingardas de caça e um canhĂŁo antiquĂssimo,
exibido atĂ© entĂŁo como relĂquia na praça da cidade. Sem comida e munição, na
tarde do dia 28 o comandante portuguĂȘs e seus 26 marinheiros finalmente se
renderam. Foi a mais singela, e talvez a mais heroica, de todas as batalhas
navais da independĂȘncia brasileira."
De acordo com Silva, instaurado o conflito e eclodida
a guerra, a população em sua grande parte composta por homens negros
escravizados, vislumbrando a possibilidade de garantir sua liberdade aderiu Ă
causa. "à fundamental reafirmar a importùncia da participação do povo (o
Ăndio, o caboclo, o negro africano escravizado, o livre) em busca de sua
liberdade", diz.
"Porque foi em nome da
liberdade que o povo majoritariamente das vilas da regiĂŁo do RecĂŽncavo baiano,
munido de armamento improvisado (facĂŁo, foice, enxada e outros) foi para o
front, para as trincheiras, formando diversos batalhÔes patrióticos."
Entre eles, Silva cita o dos
VoluntĂĄrios do PrĂncipe Dom Pedro, que ficou conhecido dos Periquitos, por
causa da cor da farda, os VoluntĂĄrios da Vila de SĂŁo Francisco e a Companhia
dos Caçadores de Santo Amaro, por exemplo.
"Num segundo momento, esses
batalhĂ”es formaram o ExĂ©rcito Pacificador, comandado pelo general francĂȘs
Pierre Labatut", acrescenta Silva. "Hoje, o povo que Ă© representado
nas comemoraçÔes em diversos municĂpios da Bahia pelas figuras da Cabocla e do
Caboclo."
Veterano como
Madeira de Melo das guerras napoleĂŽnicos, sĂł que pelo lado francĂȘs, Labatut foi
contratado por d. Pedro para organizar as forças brasileiras na Bahia em um
exĂ©rcito regular. Em 3 de julho de 1822, ele foi nomeado pelo prĂncipe regente
como comandante das forças brasileiras, o chamado Exército Pacificador, que
combateu as forças de Madeira de Melo. Em 17 de julho ele partiu do Rio de
Janeiro para Salvador, levando armas, muniçÔes e cerca de 300 homens, entre
soldados e oficiais.
Ele deveria desembarcar na capital, mas foi impedido
por navios de guerra lusos, que patrulhavas as ĂĄguas ao largo. Sua esquadra
rumou até Maceió, onde ele e suas tropas desembarcaram, em 21 de agosto. Dali,
ele foi por terra até o Recife e de lå iniciou a marcha de volta a Salvador,
alistando combatentes pelo caminho, numa difĂcil viagem de trĂȘs meses.
Neste Ănterim, os portugueses
receberam reforços na capital baiana. "Em agosto, chegaram 620 soldados
enviados pelas Cortes e, em outubro, 10 navios de guerra, levando o total de
tropas portuguesas na Bahia a 15 mil homens", conta Rezzutti.
A maior e mais decisiva batalha
entre os dois exĂ©rcitos aconteceu no mĂȘs seguinte. "Madeira de Melo
começou a tentar furar o bloqueio feito pelos brasileiros em torno de Salvador
e avançar para o norte, enquanto as tropas de Labatut marchavam para o sul, na
direção da cidade", diz Rezzutti.
"Os dois exércitos se
encontraram em 8 de novembro em PirajĂĄ, na periferia de Salvador." Durante
10 horas, cerca de 10 mil soldados combateram com ferocidade.
Esse combate consagrou uma
heroĂna e deu origem a um mito. A primeira Ă© Maria QuitĂ©ria de Jesus, entĂŁo com
30 anos. Nascida em Feira de Santana, em 27 de julho de 1792, ela foi a
primeira mulher nas forças armadas brasileiras. Mas para isso, se disfarçou de
homem - cortou, amarrou os seios e vestiu roupas masculinas - e se alistou como
soldado Medeiros. Pouco depois o pai dela descobriu o estratagema e foi até o
quartel para levĂĄ-la de volta para casa.
NĂŁo conseguiu. Os colegas, impressionados com sua
pontaria, coragem e habilidade nos combates, pediram para Maria Quitéria ficar.
O comandante concordou, mas exigiu que a partir dali ela usasse um saiote.
"Maria Quitéria esteve envolvida em vårios combates, juntamente com a sua
unidade o BatalhĂŁo de VoluntĂĄrios do PrĂncipe, do qual fazia parte", conta
AraĂșjo.
Em fins de outubro de 1822, ela
jĂĄ estava ativamente participando da defesa da ilha de MarĂ© e na sequĂȘncia
seguiu para as localidades de Conceição, Pituba, e a cidade de Itapuã. Neste
caso, ela foi citada na ordem do dia por sua valentia em atacara uma trincheira
inimiga, fazendo vĂĄrios prisioneiros.
"Em abril, avançando com
ågua até os seios, impediu o desembarque de tropas inimigas na barra do
Paraguaçu", diz Rezzutti. "Foi recebida em jĂșbilo em Salvador, junto
com o exército que libertou a cidade dos portugueses, em 2 de julho de
1823."
No dia 20 de agosto, ela foi
recebida no Rio de Janeiro pelo jĂĄ entĂŁo imperador d. Pedro I, que pessoalmente
a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro do Sul. Também lhe foi concedida,
pelo resto da vida, uma pensĂŁo militar, pela sua bravura em combate.
"Maria Quitéria teria, na ocasião, pedido ao imperador que escrevesse ao
seu pai para perdoĂĄ-la", revela Rezzutti.
O mito Ă© a histĂłria do corneteiro
LuĂs Lopes. Os brasileiros estavam em menor nĂșmero e começaram em desvantagem,
tanto que o comandante das tropas decidiu dar ordem de retirada. Mas Lopes, ao
invés de dar esse toque, se confundiu e deu o de "cavalaria, avançar e
degolar". Os portugueses se assustaram, porque nĂŁo estavam vendo cavalaria
nenhuma, e recuaram em pĂąnico.
Na verdade, nĂŁo havia cavalaria
mesmo. Isso deu espaço aos brasileiros para avançar e derrotar o inimigo.
Alguns dizem que a história, outros que não. O certo é que não hå documentação
sobre ela.
A segunda e Ășltima tentativa de os portugueses de
furar o cerco de Salvador pelos brasileiros ocorreu em 7 de janeiro de 1823.
Segundo Gomes, foi um ataque cerrado Ă ilha de Itaparica, com "40 barcas,
dois brigues de guerra e lanchas canhoneiras contra a fortaleza de São Lourenço
e o povoado". Mas os baianos resistiram heroicamente e depois de trĂȘs dias
de combates, derrotaram os inimigos, que tiveram cerca de 500 mortes. A batalha
era decisiva, pois se eles vencessem teriam rompido o bloqueio brasileiro.
Mesmo cercado e com escassez de
alimentos e de tudo, Madeira de Melo se recusou a se render. Em vez disso,
embarcou suas tropas, num total de cerca de 10 a 12 mil, e zarpou rumo a
Portugal, 300 anos depois da chegada de Pedro Ălvares Cabral.
Segundo o historiador Pablo Antonio
Iglesias MagalhĂŁes, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), a
expulsĂŁo dos militares portugueses da cidade do Salvador impediu que Portugal
mantivesse um porto estratégico no Atlùntico sul. "Além disso,
possibilitou, nos anos seguintes, a formação do território sob uma unidade
constitucional", diz. "Um enclave militar portuguĂȘs na segunda maior
cidade do Brasil poderia ser um fator de instabilidade."
Para AraĂșjo, a vitĂłria brasileira
consolidou a derrota polĂtica e militar dos portugueses na Bahia. "Isso
contribuiriam para a independĂȘncia da Bahia, considerada por muitos
pesquisadores e comentadores como marco para a efetiva e prĂĄtica independĂȘncia
do Brasil", diz.
Seja como for, os baianos estĂŁo
comemorando atĂ© hoje. "As comemoraçÔes pela IndependĂȘncia do Brasil na
Bahia, popularmente conhecida como 2 de Julho, teve inĂcio poucos anos depois
da data magna do 2 de julho de 1823", diz Silva. "Ela Ă© marcada por
um desfile que remonta a entrada do Exército Pacificador na cidade de Salvador,
apĂłs a fuga dos portuguĂȘs vencidos por uma estratĂ©gia, que lhes cercou dentro
da cidade restringindo o acesso aos mantimentos necessĂĄrios no front."
As
comemoraçÔes começam em Cachoeira, de onde sai a tocha simbólica em direção a
Pirajå, em Salvador. Além disso, é realizado o Te Deum, cerimÎnia religiosa em
uma igreja de grande relevĂąncia da capital (este ano, na Igreja Nossa Senhora
do RosĂĄrio dos Pretos, no dia 1Âș de julho,), uma homenagem da CĂąmara Municipal
aos herĂłis da IndependĂȘncia e uma cerimĂŽnia cĂvica do 2Âș Distrito Naval.
O desfile realizado no dia 2 de julho tem percurso
entre a Lapinha e o Campo Grande, e conta com a presença do Caboclo e da
Cabocla, sĂmbolos da guerra pela independĂȘncia baiana e da cultura local.
"No caminho, grupamentos militares, fanfarras e grupos culturais fazem um
lindo cortejo nos turnos da manhĂŁ e da tarde que mostra a diversidade presente
na Bahia", orgulha-se Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório
de Mattos, ĂłrgĂŁo municipal responsĂĄvel pelas festividades do 2 de Julho, em
Salvador. "Ao final do desfile, a tocha Ă© acesa por um atleta de destaque
no estado, em cerimÎnia no Campo Grande, com a presença das forças armadas e
autoridades pĂșblicas."
Festa
rica e emblemĂĄtica
Para ele, a festa do 2 de Julho Ă©
a comemoração mais rica e emblemĂĄtica da cidade. "Ela une espĂrito cĂvico,
religiosidade e viés profano", explica. "O caboclo e a cabocla voltam
às ruas, podendo ser reverenciados e marcarem seu espaço no nosso território. O
2 de julho precisa da rua e do povo para ser comemorado e reverenciado. Muita
alegria com essa volta à normalidade, depois da pandemia, e a ocupação de nosso
território e nosso espaço."
Apesar de sua grandeza, poucas
pessoas de outras regiÔes conhecem ou jå ouviram falar na guerra da
independĂȘncia na Bahia e nas comemoraçÔes de 2 de julho na Bahia. "A
HistĂłria do Brasil Ă© feita na perspectiva do Centro sul do paĂs, notadamente
instituiçÔes no Rio de Janeiro e São Paulo", diz o historiador Pablo
Antonio Iglesias MagalhĂŁes, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB).
"A busca do projeto de unidade constitucional conduziu a um pagamento da
histĂłria de forças polĂticas provinciais, sendo que muitos personagens foram
absorvidos pelos gabinetes polĂticos de D. Pedro 1Âș."
Segundo ele, com exceção dos
estudos de Braz do Amaral e de LuĂs Henrique Dias Tavares, muitos elementos
foram omitidos, proposital ou por ignorĂąncia, da guerra de independĂȘncia do
Brasil na Bahia. Mas aos isso começa a mudar, no entanto. "Hoje, as
universidades do interior do estado da Bahia, por meio dos seus professores e
programas de pós-graduação, começam a desempenhar papel estratégico na
recuperação dessa história", explica. "E fazem mesmo com poucos
recursos para pesquisas sérias."
DisponĂvel:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62007314.
Acesso em 03/07/2022.
0 ComentĂĄrios