“Tem quatro laudos periciais no
inquérito. Os de defesa do Rafael, sendo que os dois são contraditórios entre
si. Aí tem o laudo do IGP, que é inconclusivo. Tem outro laudo juntado pelo
Edenílson, pelo advogado dele, que confirma as ofensas. E tem a palavra da
vítima”, explica Sahagoff.
O inquérito foi enviado para o
Ministério Público, que pode ou não dar sequência ao trâmite na Justiça.
Na última quarta-feira (8), o
Instituto Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul, afirmou que não
conseguiu identificar na fala do jogador Rafael Ramos, do Corinthians,
movimentos compatíveis com a palavra “macaco”.
Foram enviados quatro vídeos para
análise, sendo selecionado um “por apresentar maior extensão da cena
questionada e melhor qualidade de sinal”. As imagens foram tratadas por
software de melhoramento e foram extraídos 41 frames.
ENTENDA O CASO
Defendendo a liderança do Campeonato
Brasileiro, o Corinthians foi a Porto Alegre enfrentar o Internacional em 14 de
maio. Durante a partida, Edenilson afirmou ao árbitro que o lateral-direito
Rafael Ramos o teria chamado de “macaco”. A partida ficou paralisada por alguns
minutos e foi retomada.
Edenilson prestou queixa contra Ramos a
agentes da Polícia Civil, que foram ao vestiário apurar o ocorrido
com o jogador. Em publicação nas redes sociais, o atleta do time gaúcho pontuou
que “sabe o que ouviu”, reiterou que sofreu o xingamento e repudiou o suposto
ato do companheiro de profissão.
Em nota, o Internacional confirmou
que Edenilson relatou ter sofrido injúria racial por parte de Ramos. O
pronunciamento acrescenta que “é inadmissível que ainda ocorram fatos desse
tipo em 2022, não há espaço para o racismo em nossa sociedade”.
“O Clube do Povo reitera que repudia
todo e qualquer ato de preconceito e apoia o seu atleta”, finaliza o texto.
O Corinthians se pronunciou
oficialmente apenas na madrugada de domingo (15), informando que Ramos negou
que proferiu o xingamento e que o atleta foi procurar Edenilson no vestiário,
após a partida, para se explicar.
Ainda segundo o clube paulista, “em
decorrência da denúncia feita pelo atleta colorado, a lei obriga que se trate o
caso como flagrante, seguido de detenção. O pagamento de fiança não implica
admissão de culpa, permitindo ao atleta que se defenda em liberdade no
inquérito”.
O Corinthians finaliza pontuando que
tanto o clube quanto o atleta estarão à disposição das autoridades.
Ramos se pronunciou, alegando que
“não fui, não sou, e nunca serei racista”. “Fui me explicar para meu colega de
profissão, sempre me pautei por uma postura correta em toda a minha carreira, e
não iria ser de outra forma agora”.
RECORDE DE RACISMO NO FUTEBOL
Com nove casos de injúria racial,
sendo seis na Libertadores e três na Copa Sul-Americana, e em todos os
episódios de discriminação, os alvos foram torcedores brasileiros, a Conmebol
decidiu desde o dia 9 de maio endurecer as sanções, em todas as competições da
entidade, contra atos de discriminação que ocorram “por motivação de cor de
pele, raça, sexo ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem”.
Ao alterar as medidas previstas no
artigo 17 de seu Código Disciplinar, a Conmebol subiu a multa mínima contra
esses atos de US$ 30 mil para US$ 100 mil. A partir das alterações, o órgão
judicial responsável por um caso pode ainda determinar que o clube punido jogue
um ou mais jogos sem torcida, ou até que tenha que fechar seu estádio para
partidas.
Somente em abril, cinco casos de
racismo foram registrados em jogos válidos pela Libertadores, em jogos do
Flamengo, Corinthians, Bragantino, Palmeiras e Fortaleza. A última ocorrência,
no dia 17 de maio, aconteceu momentos antes da partida entre Corinthians e Boca
Juniors e envolveu um torcedor do time argentino que fez gestos racistas para
brasileiros.
Dos nove casos, até o momento a
Conmebol abriu sete investigações para apurar as denúncias. Em três deles, a
suspeita de injúria racial foi comprovada e os clubes foram multados. A
sentença mais recente foi dada contra o Emelec, no valor de US$ 30 mil (cerca
de R$ 150 mil). A decisão da entidade, do dia 18 do mês passado, julgou
registros de uma partida onde um torcedor do Emelec foi filmado chamando
palmeirenses de “macacos” e rindo com outros torcedores.
No final de abril, foi a vez da
confederação multar o time argentino River Plate, também em US$ 30 mil. Um
torcedor do clube jogou uma banana na direção da torcida do Fortaleza durante
uma partida da Libertadores.
O QUE É INJÚRIA RACIAL
Injúria racial é um crime é previsto
no Código Penal e estabelece punição de 1 a 3 anos de reclusão e multa para
quem ofende a dignidade de outra pessoa utilizando elementos referentes a raça,
cor, etnia, religião, entre outros. Consistindo, assim, ataque à honra ou à
imagem e violação de direitos constitucionais.
Diferente do crime de racismo,
previsto na Lei 7.716/1989, que ocorre quando a pessoa do agressor atinge um
grupo ou coletivo de pessoas, discriminando uma etnia de forma geral. Assim, no
crime de racismo, a ofensa é contra uma coletividade, por exemplo, toda uma
raça, não há especificação da vítima.
(*Com informações de Leandro Silveira,
Tiago Tortella, Douglas Porto, Filipe Brasil e Lucas Janone, da CNN)
Disponível
em: https://www.geledes.org.br/policia-indicia-rafael-ramos-por-injuria-racial-contra-edenilson/.
Acesso em 15/06/2022.
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