Em um
cruzamento no Leblon, Zona Sul do Rio, o vendedor de balas Daniel Wallace Cruz
vende balas e busca um emprego com carteira assinada.
“Ou eu botava
o currículo, ou trabalhava. Não encontrava tempo para fazer os dois: ou um ou
outro. Então juntei os dois e fui botando no vidro dos carros”, conta Daniel.
Ele tem ensino
médio completo, informática básica, já trabalhou como atendente no comércio,
mas não consegue trabalho desde abril de 2021. Com um filho de 5 anos para
criar e a namorada grávida de 4 meses, a saída foi vender bala no sinal. A
estratégia do currículo já rendeu alguns bicos, mas ainda nenhum emprego fixo.
O trabalho
informal acaba sendo a solução para muitos jovens que precisam levar algum
dinheiro para casa e isso ajuda a explicar por que eles ganham pouco. Segundo o IBGE, quem tem de 18 a 24 anos recebe, em média, R$ 1.452 por mês. É
praticamente metade da renda média do brasileiro.
“R$ 150 por
dia. Enquanto não faço, não saio do sinal. A gente vai vendendo até bater a
meta”, diz Daniel.
De janeiro a março,
de cada dez jovens nessa faixa etária, pelo menos dois não conseguiam emprego.
A taxa de desocupação para quem tem de 18 a 24 anos foi o dobro da média
brasileira. É o caso de
Ryan Thalis de Souza, de 21 anos. Ele teve que largar o último ano da escola
durante a pandemia para trabalhar numa lanchonete.
“Ou trabalhava
ou estudava. E dentro das condições que se passavam lá em casa, era muito mais
viável trabalhar do que estudar para ajudar em casa”, conta Thalis.
Depois de um
tempo no trabalho, a falta de transporte público e de segurança pesaram. Ele
deixou o emprego e não conseguiu mais oportunidades.
“A minha
dificuldade é, principalmente, a falta do ensino médio, que muitas das vezes
nos cargos bons que gostaria de trabalhar, a maioria pede o ensino médio”, diz
Thalis.
No primeiro
trimestre de 2022, a população com ensino médio incompleto teve a maior taxa de
desemprego no Brasil. O
pesquisador Bruno Ottoni Eloy Vaz, da Consultoria Idados, ressalta que essa
dificuldade dos jovens de entrar no mercado de trabalho é prejudicial para o
país.
“Se esses
jovens, que são o futuro da nossa força de trabalho, não estão se tornando mais
experientes, não estão conseguindo entrar no mercado de trabalho, eles não
aumentam a produtividade deles. E, com isso, a produtividade de trabalho do
Brasil não cresce muito, se mantém estagnada, e o país apresenta menos
crescimento econômico”, explica Bruno Ottoni.
Para Thalis e
Daniel, por enquanto, a prioridade é garantir a comida em casa.
“O que eu
quero é minha família estabilizada, trabalho digno, poder botar o pão na mesa
da minha família”, afirma Daniel.
“Eu só quero
deitar na cama sem me preocupar se vai faltar alguma. Botar minha cabeça no
travesseiro e saber que meus familiares, a minha família, estão bem. É isso que
eu quero”, diz Thalis.
Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/06/01/jovens-sao-os-mais-atingidos-pelo-desemprego-no-brasil-diz-ibge.ghtml.
Acesso em 02/03/2022.
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