"Não necessariamente você
precisa vir de uma carreira técnica. É um excelente momento para as pessoas que
querem ver a tecnologia ajudando na transformação das organizações embarcarem
nessas oportunidades", diz o coordenador do curso de Data Science do
Insper, André Filipe Batista.
Os
primeiros passos
Aprenda primeiro a base: o ideal é não sair por aí buscando vagas sem saber nada da área
desejada. Mas partir de cara para uma especialização ou pós-graduação também
pode ser desafiador: é mais tranquilo começar com cursos fundamentais
para a área.
"Procurei uma pós de Big Data
com 'business inteligence' e 98% dos alunos eram profissionais de ciência da
computação, análise de sistema e áreas correlatas, eu era a única
jornalista", conta Isabela Marinho, que escolheu entrar para a área de
dados em TI.
"Eu não tinha um conhecimento
prévio em linguagem de programação, acabei tendo que correr muito atrás para
dar conta. Foi árduo e intenso. Basicamente, tive que trocar o pneu com o carro
andando."
"Se eu tivesse conversado lá
atrás, talvez tivesse buscado trilhas de conhecimento mais específicas e depois
caminhado para a pós para ter um olhar mais macro, de negócios", avalia.
"Isso foi em 2017, quando existiam poucos cursos de especialização com uma
mentalidade mais voltada aos negócios. As escolas ofereciam apenas um olhar
técnico. Hoje há uma variedade de cursos para objetivos diferentes."
Isabela atualmente trabalha no Google e
ajuda outras pessoas a fazerem uma transição mais suave por meio de um canal no
YouTube onde faz lives sobre o tema, promove workshops e destrincha fundamentos
da área.
Onde
encontrar vagas
Os cursos já serão uma oportunidade
de, paralelamente, fazer contatos e até participar de seleções. Claro que vale
ficar ligado nos anúncios de vagas, mas cuidado para não limitar sua busca.
Amplie o olhar: às vezes nem será o caso de mudar de empresa ou setor...
Isso porque as oportunidades em TI não estão mais restritas a companhias de
tecnologia em si.
Empresas e startups de varejo
(Magazine Luiza, Casas Bahia), saúde (Sami, Alice, Dasa), pagamentos (AME,
Neon, PicPay), finanças (Itaú, Bradesco, Santander, Nubank, C6bank, Empiricus),
fabricantes de alimentos e bebidas (Ambev), entre várias outras, dão espaço
para profissionais de tecnologia.
Lembra da Isabela, a jornalista que
encarou uma pós sem saber o básico da área de dados? Na hora de procurar os primeiros empregos, ela decidiu continuar
na área de comunicação e foi para agências de relações públicas e
de publicidade e propaganda.
"Assim, eu era aprendiz, por um
lado, mas também trazia minha bagagem. Aproveitei para me aperfeiçoar durante
este período, estudando bastante", lembra.
Participe de comunidades, grupos e fóruns:
além de cursos, profissionais de TI costumam frequentar espaços on-line para
trocar conhecimento e ter uma rede de contatos.
Converse com
pessoas dos cursos que frequentar para saber quais são as principais
comunidades para a sua área. Pesquise pelo nome da área em plataformas
como LinkedIn, Discord, Medium...
Isso amplia sua
visão sobre as áreas e faz você ficar sabendo de oportunidades. Na hora de
preencher vagas, muitas empresas levam o famoso
"q.i." (de quem indica), ou seja,
profissionais conhecidos dos próprios colaboradores — ainda que isso não seja
uma regra, principalmente considerando a falta de mão de obra.
Em português ou inglês:
empresas também podem anunciar vagas no
Brasil usando nomes de cargos em inglês (ex: data
analyst/analista de dados). Esteja atendo aos dois casos.
Siga empresas onde gostaria de
trabalhar: muitas companhias anunciam suas
vagas por meio de redes sociais, além das plataformas de recrutamento. Fique de
olho nas marcas que você admira ou acha que seriam um bom lugar para trabalhar.
Cuide dos seus perfis:
muitas empresas também buscam os candidatos de forma proativa em redes sociais.
Caprichar na foto e manter as informações atualizadas aumenta até 21 vezes a
visualização dos perfis no LinkedIn, por exemplo.
Como fazer seu perfil se destacar
Ajuste seus objetivos nas plataformas de vagas:
não esqueça de atualizar seu perfil no LinkedIn e outros sites. Para quem está
fazendo a transição, é
importante restabelecer quais são seus cargos desejados e destacar suas novas
qualificações, ainda que sejam acompanhadas do nível
"estudante".
Demonstre interesse em aprender:
muito dinâmica, a área de tecnologia exige que os profissionais estejam sempre
atualizados. Uma forma de fazer isso é realizando
cursos e certificações em ferramentas mais populares do segmento escolhido.
Eles enriquecem
seu currículo e os certificados podem ser
colocados na seção Destaque do seu perfil no LinkedIn, por
exemplo, junto com projetos que você desenvolver nesses cursos (via Github,
Dashboard, etc).
Projetos tocados por conta:
ter experiência com o desenvolvimento de projetos na sua nova área, mesmo que
como um passatempo, pode ser a diferença entre um sim ou um não no primeiro
emprego em tecnologia.
Como se preparar para entrevistas
A falta de
experiência prática é um dos temores de quem muda de carreira. Não perca
de vista tudo o que aprendeu na área anterior: este pode
ser o seu diferencial.
"Busque,
por meio das qualificações e experiências, tanto as vividas em âmbito
profissional quanto em intercâmbios ou trabalhos voluntários, demonstrar como
esses marcos têm a capacidade de agregar ao novo desafio", orienta o
diretor da consultoria Robert Half Caio Arnaes.
Acha difícil
enxergar isso? Veja
algumas perguntas que podem servir como guia na preparação para as entrevistas:
- O que as suas experiências
oferecem de interessante para quem vai empregá-lo?
- Quais são os resultados
efetivos que você levou para os últimos empregadores?
- Por que essas experiências
são relevantes na sua carreira?
- De onde surgiu seu
interesse pela área de TI?
Vai começar de baixo sempre?
Quem
pretende apostar em uma nova carreira em TI e já vem de um cargo pleno ou
sênior provavelmente terá de lidar com uma redução salarial.
Se preparar para esse fato e para o momento é importante, segundo os
especialistas.
Carolina
Coelho, de 33 anos, prestava serviços como arquiteta urbanista autônoma havia 7
anos quando decidiu dar uma guinada. Ela e o marido trocaram Belo Horizonte
pela cidade de Gonçalves, no sul de Minas Gerais, atrás de uma vida mais
saudável. E a mudança profissional veio na sequência.
Ela escolheu a
área de designer de experiência do usuário ou UX, na sigla em inglês. Depois de
três meses em um curso, conseguiu um estágio na área, com uma marca de
maquiagens naturais.
"Sei
que estou investindo tanto no curso quanto no estágio, com um retorno
financeiro menor do que eu ganhava antes", conta Carolina.
A especialista em recrutamento em TI
Aline Oliveira explica que, apesar do normal seja começar como júnior, há
carreiras que podem ter caminhos diferentes – em especial, quando se fala de
cargos de menos técnicos.
Uma pessoa com experiência no mercado
financeiro, por exemplo, pode ter esse trunfo na hora de migrar para uma
startup de pagamentos, por exemplo. A depender da experiência do profissional,
a mudança pode ser para um cargo melhor.
A vice-presidente de pessoas, dados e
estratégia da fintech Neon, Juliana Yamada, é um desses casos. Formada em
engenharia, ela fez um mestrado em economia e trabalhou em consultorias e
gestoras de investimento antes de ser contratada pela startup em 2020.
"Eu não dei um passo para trás.
Na verdade, dei um passo para frente porque a empresa enxergou que alguém com a
minha bagagem poderia trazer estímulos diferentes para área de pessoas",
resume Juliana.
Disponível em: https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/05/07/como-comecar-carreira-em-ti-vindo-de-outras-areas.ghtml.
Acesso em 09/05/2022.
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