Com o enredo "Fala, Majeté! Sete
chaves de Exu", Gabriel Haddad e Leonardo Bora homenagearam o
orixá, equivocadamente associado à figura do diabo no imaginário cristão.
Quem é
Exu?
"Exu não é diabo. A maioria das
pessoas não sabe o que realmente é o Exu, não estudou o Exu", explica o
zelador espiritual Danilo de Oxóssi.
"É o orixá, é o guardião, é o
primeiro que come na mesa dos orixás. O último é Oxalá, que é o rei de todos os
orixás. E Exu come primeiro do que ele."
"Exu é quem abre os caminhos da gente, é quem traz a
prosperidade, quem traz a fartura para a sua casa. Todo mundo cultua Exu na
África pois Exu é um guardião de todos os orixás. Ele é o guardião da
gente".
Para o zelador espiritual e
integrante da Grande Rio, a importância do enredo é desmistificar os
estereótipos negativos associados à Exu.
"Depois que a Grande Rio passar
pela Sapucaí, muita gente de casa e das arquibancadas vai ter uma outra visão
de Exu".
A dupla de carnavalescos Haddad e
Bora, que vem apostando em temas religiosos desde matriz africana, querem
combater a demonização da cultura afro.
Exu é a divindade mais brincalhona,
assim como o ser humano. Ele traz essa mistura do que é bom e ruim, pecado e
santidade, alegria e tristeza, remédio e veneno", disse Bora.
"Engana-se quem associa Exu a
coisas pesadas, sombrias e maléficas. Ao contrário, ele é uma entidade
complexa, cheia de variações e a mais parecida com o homem. Está associado ao
carnaval, às festas, às artes e até ao lixo. Não o lixo material, mas o lixo de
valores, o resto da sociedade que ninguém quer, que está à margem."
Lixo, aliás, que fez a ponte do
enredo com Duque de Caxias, através da representação do Lixão de Gramacho — o
maior aterro sanitário da América Latina, desativado em 2012 — e da figura da
catadora de lixo Estamira, que deu origem a um documentário. No setor, foram
representados os profetas das ruas e artistas da "loucura", como
Bispo do Rosário, Jardelina e Stela do Patrocínio, que escrevia poesias em
pedaços de papelão.
"Queremos não só combater o
racismo religioso, mas também provocar a reflexão. Estamira era uma mulher com
problemas mentais, que vivia no lixão, excluída, considerada inadequada para o
modelo de sociedade que temos hoje. E que, em seus delírios, usava um telefone
para conversar com a divindade: 'Câmbio, Exu. Fala, Majeté', dizia ela",
contou Bora, acrescentando que escola e a comunidade de Caxias se identificaram
e receberam muito bem o enredo.
"Exu é uma divindade complexa, é
energia circular e infinita, movimento, luta, insubmissão, mudança, que se
transforma em incontáveis entidades e que tem muito a ver com a nossa
ancestralidade. Mas que é visto com restrição por muita gente. O enredo deste
ano, como dos anteriores, visa a desconstruir essa imagem estereotipada, o racismo
religioso, a intolerância e a demonização de religiões como o candomblé, a
umbanda e as macumbas. Por isso, as sete chaves, para abrir o conhecimento
sobre Exu", disse o carnavalesco Gabriel Hadd.
Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2022/noticia/2022/04/26/fala-majete-sete-chaves-de-exu-entenda-o-enredo-da-grande-rio-campea-do-carnaval-do-rj.ghtml. Acesso em 25/04/2022.
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