A vontade do povo brasileiro de lutar contra o governo
antipovo de Bolsonaro está claramente manifestada nas ruas, nas
redes sociais e nas pesquisas. Com pequenas variações, Bolsonaro é rejeitado
por 82% da população negra, por 60% de quem ganha até dois salários mínimos e
por 59% das mulheres.
Diante do ódio racial e do genocídio da juventude
negra, é fácil entender a elevada rejeição. No povo negro está a maioria dos
que ganham até dois salários mínimos, incluídas, é claro, as mulheres negras,
as maiores vítimas tanto do racismo estrutural quanto das políticas de ódio
racial do atual governo.
O aumento avassalador dos crimes raciais, do feminicídio e
da violência contra as mulheres é motivo mais do que
suficiente para alimentar o desejo de luta, em especial das negras.
Além disso, não podemos esquecer jamais a destruição
do programa Bolsa Família; a exclusão de milhões de famílias do auxílio
emergencial; os cortes das faixas populares do programa Minha Casa Minha Vida;
o fim da aposentadoria integral para os mais pobres; as ameaças de extinção da
política de cotas e o descumprimento impune da PEC das Domésticas.
Embora não tenha o seu papel reconhecido oficialmente
pelos governos elitistas que sempre mandaram no Brasil, à exceção das gestões
de Lula e Dilma, a mulher negra desempenhou no passado escravista e no
presente socialmente excludente o papel central da família e da resistência.
Nunca deveríamos esquecer a sábia observação de Angela
Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se
movimenta com ela”.
A desigualdade social tem empurrado historicamente a
população negra para a base da pirâmide. Mas, no interior dessa desigualdade
extrema, a mulher negra é a mais oprimida, pois sobre seus ombros pesam ao
mesmo tempo três discriminações: racial, social e de gênero.
Por isso, ela é a mais forte, a mais resiliente e a
que mais responsabilidades carrega no dia a dia da sobrevivência da família
popular. Mas também contra isso é que a mulher negra luta, pois ela não quer
apenas sobreviver com seus filhos, mas, sim, viver de forma plena e socialmente
emancipada numa sociedade de igualdade racial e de gênero que lhe garanta
emprego digno, educação, saúde e moradia e um ambiente de paz, sem racismo e
sem machismo.
É preciso priorizar a ligação dos partidos de
esquerda, democráticos e progressistas com a luta dos direitos das
mulheres. E mais, concentrar nossos esforços para elevar a
participação da mulher negra tanto nas instâncias partidárias quanto na
representação política e nas lutas sociais. São tarefas de alcance estratégico
para a transformação estrutural do país.
Disponível
em: https://www.geledes.org.br/a-mulher-negra-e-o-futuro-do-pais/
. Acesso
em 08/03/2022.
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