A Ucrânia foi invadida no dia 24 de fevereiro por comboios russos chegando de todas as direções. Desde então, há relatos de ataques à infraestrutura militar ucraniana em todo o país.
Após
meses negando qualquer intenção de atacar seu vizinho, o presidente Vladimir
Putin ordenou o ataque militar em larga escala e adentrou as fronteiras
ucranianas por terra, mar e ar.
À medida em que o número
de mortos aumenta, Putin é acusado de colocar em risco a paz no continente
europeu.
A
seguir, a BBC News Brasil reuniu os principais tópicos necessários para
entender o conflito e as perguntas que ainda precisam ser respondidas nos
próximos dias.
1.
Quais as justificativas da Rússia para invadir a Ucrânia?
Vladimir
Putin anunciou uma
"operação militar" na região de Donbas, no leste da
Ucrânia, em um pronunciamento televisionado na manhã do dia 24 de fevereiro.
O presidente russo disse
que estava intervindo como um ato de legítima defesa. Segundo ele, a Rússia não
queria ocupar a Ucrânia, mas sim proteger a população local de um genocídio e
desmilitarizar e "desnazificar" o país.
Putin
afirma com frequência que a Ucrânia está sendo tomada por extremistas desde que
seu presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, foi deposto em 2014 após meses de
protestos contra seu governo.
Após a queda do chefe de
Estado ucraniano, a Rússia invadiu e anexou a região da Crimeia, no leste do
país. A movimentação desencadeou uma rebelião separatista nas regiões de
Donetsk e Luhansk, onde os rebeldes apoiados por Moscou lutam desde então, em
uma guerra que já custou 14.000 vidas.
No
final do ano passado, Putin passou a enviar tropas para as regiões de fronteira
com a Ucrânia e no dia 21 de fevereiro — três dias antes da invasão — reconheceu a independência das duas regiões separatistas.
O
líder russo ainda afirmou que os acordos de Minsk, acordados em 2014 e 2015
entre Ucrânia e Rússia para estabelecer um cessar-fogo, já não estava mais
válido.
Para
além das acusações de extremismo, Putin há muito resiste ao movimento da
Ucrânia de aproximação com instituições controladas pelos americanos e
europeus, como a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte
(Otan).
Ele
exige garantias que a Ucrânia se desmilitarize e se torne um Estado neutro e,
ao anunciar a invasão da Rússia, acusou a Otan de ameaçar "nosso futuro
histórico como nação".
Putin
quer ainda que a Otan abandone totalmente sua presença militar no leste
europeu, que inclui também exercícios militares regulares na Lituânia, Letônia
e Estônia. Esses ex-estados soviéticos passaram a fazer parte da aliança
militar comandada pelos Estados Unidos e Europa, ampliando ainda mais os
temores de Moscou de perder o controla sobre a região.
2. Por
que a invasão ocorreu agora?
É
difícil saber exatamente qual a estratégia do governo russo nesse momento. Mas
a resposta para entender por que Putin escolheu agir agora pode passar pelo
equilíbrio de poder.
Enquanto
se aproxima cada vez mais da Otan e da União Europeia, a Ucrânia vem se
fortalecendo lentamente e conseguiu reconstruir seu exército desde a anexação
da Crimeia em 2014.
O
conflito há oito anos e as lutas separatistas desde então também serviram como
uma valiosa experiência no combate contra as forças russas.
Ao
mesmo tempo, as Forças Armadas russas também se encontram em sua melhor forma
desde a Guerra Fria.
As
finanças públicas de Moscou estão equilibradas, com as reservas do Banco
Central atingindo 640 bilhões de dólares, segundo a revista Forbes. O total é
um recorde para o país e equivale a 17 meses de receita integrais obtidas com
as exportações nacionais.
Dessa
forma, é possível que Putin acredite que este é o melhor momento para agir do
ponto de vista militar. O líder russo também parece acreditar que tem condições
de arcar com os custos do conflito e das inevitáveis sanções.
3. O
que a Ucrânia diz sobre o ataque?
Desde
que a Rússia deslocou suas primeiras tropas para a fronteira com a Ucrânia, o
governo do presidente Volodymyr Zelensky tem protestado contra os avanços e
pedido apoio da Otan e outros aliados.
Pouco
antes do anúncio de Putin sobre a invasão, o líder ucraniano foi enfático ao afirmar que um ataque ao seu território poderia
"marcar o início de uma grande guerra no continente europeu".
Zelenski
disse que tentou entrar em contato com Putin, mas o líder russo se recusou a
atendê-lo. O ucraniano rejeitou as alegações do Kremlin de que seu país está
tomado por extremistas ou representaria alguma ameaça à Rússia, e disse que uma
possível invasão iria custar milhares de vidas.
"Você
diz que somos nazistas, mas como um povo pode apoiar os nazistas sendo que
demos mais de oito milhões de vidas pela vitória sobre o nazismo?",
questionou Zelensky em um discurso televisionado, fazendo referência às
disputas da Segunda Guerra Mundial.
Quando
o ataque se tornou uma realidade incontestável, a Ucrânia decretou lei marcial
— o que significa que os militares assumem o controle temporariamente — e
cortou relações diplomáticas com a Rússia.
O presidente Zelensky instou os russos a protestar contra a
invasão e disse que armas seriam distribuídas a qualquer pessoa
na Ucrânia que desejasse.
Com
o avanço de forças russas na direção da capital Kiev, autoridades locais pediram à população que faça todo o
possível para resistir às tropas invasoras.
Os
ministérios da Defesa e do Interior passaram a pedir a moradores de Kiev que
"nos informem sobre movimentos de tropas, façam coquetéis molotov e
neutralizem o inimigo".
Um folheto com
instruções, passo a passo, sobre como produzir bombas de gasolina improvisadas
foi publicado na conta do Ministério do Interior nas redes sociais.
Enquanto
isso, o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, implorou ao mundo que
imponha sanções devastadoras à Rússia, incluindo excluir o país do sistema
internacional de transferência bancária Swift.
4.
Quais os interesses russos nas Províncias separatistas?
O
decreto de reconhecimento da independência de Donetsk e Luhansk permite que a
Rússia construa bases militares e envie tropas russas em "missões de
paz" para as duas regiões. Os líderes dessas separatistas solicitaram
apoio militar russo depois do reconhecimento de sua independência.
Tecnicamente,
os militares russos agora têm sinal verde para entrar na área disputada, que
além de ser historicamente ligada a Moscou por laços culturais e políticos,
também representa um ganho do ponto de vista econômico e estratégico para
Rússia.
Ambas
as províncias estão localizadas no chamado "cinturão da ferrugem" da
Ucrânia, uma área rica em minerais, principalmente aço. Donetsk e Luhansk
também fazem parte de uma região conhecida como bacia de Donbass, na fronteira
com a Rússia, que abriga vastas reservas de carvão.
Devido
à sua localização geográfica, a área ainda constitui uma via natural de acesso
à Crimeia, península anexada pelo Kremlin em 2014.
Grande
parte da população da região fala russo, fato que é um dos principais
argumentos do Kremlin para justificar seu apoio aos insurgentes da região.
5.
Há risco de uma 3ª Guerra Mundial?
A resposta para essa pergunta é: não.
Por pior que seja a situação entre Rússia e Ucrânia neste momento, não se
imagina um confronto militar direto entre a Otan e a Rússia.
Ao que parece até o momento, a linha
vermelha para a Otan é se a Rússia ameaçar algum de seus Estados membros.
De acordo com o Artigo 5o da
organização, a aliança militar é obrigada a defender qualquer Estado membro que
seja atacado.
A Ucrânia não é membro da Otan,
embora tenha dito que quer se juntar à aliança militar — algo que Putin está
determinado a impedir.
Países do Leste Europeu como Estônia,
Letônia, Lituânia ou Polônia — que já fizeram parte da órbita de Moscou nos
tempos soviéticos — são todos membros da Otan.
Esses governos estão claramente
temerosos de que as forças russas possam não parar na Ucrânia e usar algum
pretexto de "ajudar" minorias étnicas russas no Báltico para
continuar invadindo outros países.
Por isso, a Otan recentemente enviou
reforços a seus membros do Leste Europeu.
Mas quão preocupado você deve estar?
Segundo especialistas que estudam o tema, enquanto não houver conflito direto
entre a Rússia e a Otan, não há razão para que essa crise, por pior que seja,
vire uma guerra mundial em grande escala.
"Putin não está prestes a atacar
a Otan. Ele só quer transformar a Ucrânia em um Estado vassalo como
Belarus", disse uma importante fonte militar britânica na terça-feira
(22/2) à BBC.
6.
Quais as chances do conflito se transformar em disputa nuclear?
A
Rússia e os EUA têm, entre eles, mais de 8 mil ogivas nucleares, o que desperta
temores em todo o mundo de um conflito violento.
A
apreensão em torno dessa questão se tornou ainda maior depois que Moscou
organizou um exercício militar com armas nucleares na última semana e as forças
armadas russas avançaram contra a planta nuclear desativada de Chernobyl,
próximo à cidade fantasma de Pripyat, nesta quinta-feira.
"É
impossível dizer que a usina nuclear de Chernobyl esteja segura após um ataque
completamente sem sentido dos russos", disse o conselheiro do gabinete
presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak
Mas
segundo especialistas em segurança e política nuclear, não há motivos para
pânico no momento. Como já dito anteriormente, o conflito atual não deve
escalar para uma guerra envolvendo outras potências tão facilmente, e a Ucrânia
não possui um arsenal nuclear próprio.
"Putin
disse que qualquer interferência externa no conflito, ou qualquer ação contra a
Rússia, gerariam uma resposta forte. Nas entrelinhas, há uma ameaça
nuclear", diz Alexander Lanoszka, professor de Relações Internacionais da
Universidade de Waterloo e especialista em segurança nuclear.
"Mas
há um interesse comum de todas as partes de restringir esse conflito à Ucrânia,
então eu ficaria muito surpreso se armas nucleares fossem usadas neste
momento".
Segundo
o especialista, as armas nucleares estão sendo usadas pela Rússia neste
contexto apenas como ameaças para barrar qualquer intenção dos Estados Unidos
ou outra potência de interferir no confronto.
A
Rússia, assim como outros países que têm apoiado a Ucrânia como os EUA, o Reino
Unido, e a França, assinaram no início deste ano um tratado em que se
comprometem na prevenção de uma guerra nuclear e contra a corrida armamentista.
Essas nações também são signatárias do Tratado de não proliferação de armas
nucleares (TNP), válido desde 1970.
7. O
que a população russa pensa sobre a invasão?
A
invasão é recente e é difícil saber exatamente como a população russa enxerga
os últimos acontecimentos na Ucrânia.
Mas
desde que a tensão começou a escalar na região, a popularidade de Vladimir
Putin cresceu na Rússia. Levantamento do centro independente Levada Center
mostra que atualmente cerca de 69% dos russos aprovam o governo do presidente,
contra 61% em agosto de 2021.
E
se 29% dos russos desaprovam o governo de Putin hoje, 37% o reprovavam há cerca
de seis meses.
Uma
outra pesquisa divulgada também pelo Levada Center na última terça-feira
(22/02) mostrou ainda que 45% dos russos apoiam a decisão do presidente de
reconhecer a independência das Províncias de Donetsk e Luhansk.
Nas
redes de televisão e jornais estatais, controlados pelo Kremlin, a invasão
também é retratada com tons positivos.
Já
entre ativistas e jornalistas independentes se multiplicam as expressões de
rejeição e revolta. Uma petição organizada pela repórter Elena Chernenko, do jornal
local Kommersant, reuniu assinaturas de 100 outros jornalistas que condenam a
operação militar russa.
Mais
de 140 deputados e funcionários municipais de Moscou, São Petersburgo, Samara,
Ryazan e outras cidades assinaram uma carta aberta aos cidadãos russo,
exortando-os a não apoiar de nenhuma forma a invasão e se pronunciarem
ativamente para condenar os atos de Putin.
Celebridades,
organizações em prol dos direitos humanos e da democracia e ativistas
contrários ao atual governo também se mostraram insatisfeitos com os últimos
acontecimentos e usaram as redes sociais para protestar.
Nas
ruas de Moscou, capital da Rússia, repórteres do serviço russo da BBC ouviram relatos de
jovens que descrevem seus sentimentos atuais com termos como
choque, horror e perplexidade. Mas há uma divisão de opiniões sobre se as ações
do presidente Vladimir Putin devem ser condenadas ou aplaudidas.
Diversas
cidades da Rússia também foram palco de protestos contra a invasão nesta
quinta-feira. A polícia russa reprimiu as manifestações e dezenas de ativistas
foram detidos.
8. Que
países condenaram e que países apoiaram a Rússia?
A
invasão russa provocou reações fortes na Europa e nos Estados Unidos — com a
interrupção de negociações diplomáticas e o anúncio de diversas sanções.
O
presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Putin "escolheu uma guerra
premeditada que trará uma perda catastrófica de vidas e sofrimento
humano".
Em
um pronunciamento no primeiro dia da invasão, o americano ainda anunciou novas sanções contra a Rússia que
atingem as transações do governo russo em moedas estrangeiras e bloqueiam os
ativos dos quatro grandes bancos russos.
Biden
também reiterou que as forças dos EUA "não estão e não estarão"
envolvidas no conflito entre Rússia e Ucrânia.
·
Quais são os países
aliados da Rússia de Putin?
O
primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou estar "chocado
com os eventos horríveis na Ucrânia" e que Putin "escolheu um caminho
de derramamento de sangue e destruição ao lançar este ataque sem
provocação".
Johnson
anunciou ainda as sanções que o Reino Unido aplicará à Rússia, entre elas o
congelamento de ativos de indivíduos e de bancos russos e a exclusão destas
instituições do sistema financeiro britânico, veto a financiamentos ou
empréstimos a empresas russas, proibição de que a companhia aérea Aeroflot
pouse no Reino Unido, suspensão das licenças de exportação de itens que podem
ser usados para fins militares, de alta tecnologia e de refinamento de
petróleo, além de outras medidas.
O
secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, condenou o "ataque
irresponsável" da Rússia, dizendo que "coloca em risco inúmeras vidas
de civis".
Jessica
Parker, correspondente de política da BBC, informou que a União Europeia (UE)
poderia, em represália à Rússia, suspender parte de seu acordo de facilitação
de vistos com o país como parte de seu novo pacote de sanções.
A
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que Rússia corre o
risco de um "isolamento sem precedentes" por sua ação militar na
Ucrânia. "Condenamos veementemente o ataque injustificado da Rússia à
Ucrânia", disse.
França,
Alemanha, Itália, Polônia, Espanha e outras nações europeias também condenaram
a ação. Japão e Austrália classificaram a ação como uma violação das normas
internacionais.
Mas
apesar dos muitos posicionamentos contrários, a Rússia possui aliados que
manifestaram apoio direto e indireto à Moscou.
Os
principais parceiros russos pertencem a um bloco chamado de Organização do
Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), que além da própria Rússia inclui
Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão.
Belarus
concordou em receber milhares de soldados russos em seu território a partir de
2020, e essas tropas apoiaram a ofensiva contra a Ucrânia na manhã desta
quinta-feira, usando suas posições para fogo de artilharia.
Os
governos da Síria, Venezuela, Cuba, Nicarágua e Irã também se pronunciaram de
forma favorável à Rússia, fazendo coro às acusações de Moscou contra a Otan.
A
China, por sua vez, vem se aproximando cada vez mais da Rússia, apesar de nunca
ter apoiado diretamente uma incursão na Ucrânia.
Em
uma coletiva de imprensa nesta quinta, o ministro das Relações Exteriores
chinês, Wang Yi, evitou usar a palavra invasão. O diplomata disse ainda que
Pequim entende as preocupações de segurança da Rússia.
9. Qual
foi a reação do Brasil?
No
Brasil, as respostas oficiais
do Executivo à invasão começaram com manifestações do Ministério das Relações
Exteriores (MRE) e do vice-presidente, Hamilton Mourão. O presidente
Jair Bolsonaro se limitou ate o momento a manifestar apoio aos brasileiros que
estão na região. "Estou totalmente empenhado no esforço de proteger e
auxiliar os brasileiros que estão na Ucrânia", escreveu em uma rede
social.
O
Itamaraty divulgou uma nota em que não condena explicitamente as ações russas,
mas afirma que o país acompanha as operações militares na região com
"grave preocupação" e pede a "suspensão imediata das
hostilidades".
"O
Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações
conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de
Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as
partes envolvidas e a proteção da população civil", diz um trecho da nota
divulgada pelo MRE.
Além
da nota divulgada pelo Itamaraty, a Embaixada do Brasil em Kiev divulgou orientações aos brasileiros que vivem no país.
O
vice-presidente, Hamilton Mourão, por sua vez, usou um tom mais crítico ao
comentar o assunto. Ele comparou as ações russas na Ucrânia às ações da
Alemanha nazista comandada por Adolf Hitler entre os anos 1930 e 1940.
"Se
o mundo ocidental pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o
próximo será a Bulgária, depois os Estados bálticos, e assim sucessivamente,
assim como a Alemanha hitlerista fez nos anos 30", disse Mourão, segundo o
jornal O Globo.
A
reação comedida do Brasil condiz com a tradição da diplomacia nacional de
tentar se manter sempre o mais neutra possível. Apesar disso, segundo
especialistas, o país precisará se posicionar agora que assumiu um assento
não-permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas no início de janeiro.
"A
tradição brasileira em casos como esse sempre foi de manter uma posição 'neutra',
então é de se esperar que o Brasil não se posicionaria de maneira clara apesar
da atuação russa obviamente representar uma violação do direito internacional e
da soberania da Ucrânia", diz o professor de Relações Internacionais da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel "Porém, como membro do
Conselho de Segurança, o país não pode ficar de fora do radar".
A
primeira grande manifestação no Conselho aconteceu na noite desta sexta-feira
(25/02), quando o Brasil apoiou uma resolução apresentada pelo governo dos EUA
que condena a invasão.
Apesar
do documento ter sido rejeitado pela Rússia, membro permanente do órgão com
poder de veto, a iniciativa é considerada importante do ponto de vista
diplomático.
O
embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, disse que o Conselho de
Segurança deve agir urgentemente diante da agressão da Rússia. "O
enquadramento do uso da força contra a Ucrânia como um ato de agressão,
precedente pouco utilizado neste Conselho, sinaliza ao mundo a gravidade da
situação", afirmou.
Segundo
o analista, a posição que o Brasil adotar nas próximas semanas influenciará
muito mais sua percepção pela comunidade internacional do que qualquer
comentário feito pelo presidente Jair Bolsonaro durante sua visita a Moscou na
semana passada.
Em
pronunciamentos após seu encontro com Vladimir Putin no Kremlin na última
terça-feira (16/02), Bolsonaro evitou mencionar a Ucrânia, mas enfatizou o
compromisso do Brasil e da Rússia com a paz. Em outro momento, o presidente
brasileiro ainda ressaltou a proximidade de valores cultivados pelas duas
nações.
As
declarações de Bolsonaro foram na contramão de governos como o dos Estados
Unidos e, segundo analistas, a própria visita em um momento de tanta tensão
pode ter causado desconforto.
Na sexta-feira (18/2), a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, chegou a afirmar que o Brasil "parece estar do lado oposto à maioria da comunidade global" em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia.
10. Como o Brasil pode ser afetado?
Segundo
especialistas consultados pela BBC News Brasil, os principais efeitos da crise na Ucrânia serão sentidos
na economia brasileira. Esse impacto pode chegar aqui na forma de um
aumento na inflação e na alta nos preços do petróleo e seus derivados.
A
Rússia é atualmente um dos maiores produtores de petróleo do mundo e o conflito
militar e a imposição de sanções podem paralisar a produção e a exportação da
commodity.
"Uma
invasão deve ser respondida com sanções mais graves do que as que já estão
sendo aplicadas atualmente. Isso impacta diretamente na subido dos preços do
petróleo e, consequentemente, no aumento dos preços dos combustíveis no
Brasil", afirmou o economista e ex-ministro da Fazenda, Maílson da
Nóbrega, à BBC News Brasil.
Por
sua vez, o aumento no preço do petróleo impacta diretamente na inflação mundial
e, consequentemente, na brasileira, que já vem sofrendo uma alta desde o ano
passado.
Economistas
apontam ainda que a imposição de sanções contra a Rússia pode prejudicar
indiretamente o mercado nacional, em especial o agronegócio brasileiro, que tem
a Rússia como sua principal fonte exportadora de fertilizantes.
"Com
as sanções ou até a perda de capacidade de exportação russa, os fertilizantes
se tornam mais caros e a rentabilidade dos produtores brasileiros cai, afetando
sua capacidade de continuar a ampliar a oferta nos próximos anos", avalia
Maílson da Nóbrega.
Tudo
isso pode ainda impactar diretamente no resultado das eleições presidenciais,
marcadas para outubro, já que o peso de problemas econômicos e inflação alta
costuma sempre cair sobre o chefe de Estado atual.
Nos
últimos três dias, o conflito ucraniano ainda gerou um impacto na cotação do
dólar em relação ao real. A moeda americana atingiu seus menores valor desde
junho do ano passado, fechando a R$ 5,004 na quarta-feira (23/2), antes da
concretização da invasão.
O
movimento, segundo analistas, foi consequência não só do aumento da taxa Selic
pelo Banco Central, mas também da entrada de capital estrangeiro no país em
tempos de alto risco.
Nesta
quinta, porém, a tendência foi revertida e os rumos da taxa de câmbio deram um
salto diante da onda global de incerteza.
Disponível
em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60462510.
Acesso em 26/02/2022.
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