A “mercadoria” causou indignação do turista, e de
muitas pessoas nas redes sociais. Segundo Paulo, a imagem foi feita no final da
tarde de domingo (6), no estabelecimento.
“Foi um choque tremendo né? Em primeiro lugar porque
eu acho que é um tipo de coisa que não deve se comercializar em lugar nenhum,
muito menos uma cidade como Salvador, principalmente depois da experiência
que eu tive, vendo a vivência das pessoas pretas, dos movimentos e tudo mais”,
disse o historiador ao g1. A família materna
de Paulo é de Salvador.
“FOI REALMENTE
MUITO CHOCANTE. PRIMEIRO A SENSAÇÃO FOI DECHOQUE E DEPOIS DE INDIGNAÇÃO”.
As
peças, em alusão ao sistema escravocrata que durou até 1888 no Brasil, mostram
mulheres e homens acorrentados pelas mãos. Vendidos como “obra de arte”, as
cerâmicas estavam na prateleira principal da loja, com uma
etiqueta: “Escravos de cerâmica – R$ 99,90, a unidade”.
“A IMAGEM ESTAVA
NA PRATELEIRA CENTRAL DA LOJA, QUE FICA DE FRENTE PARA O CORREDOR ONDE PASSA AS
PESSOAS, ESTAVA IDENTIFICADA O NOME ‘ESCRAVOS’ E O PREÇO EMBAIXO. ALÉM DO
TREMENDO MAU GOSTO, UMA QUESTÃO NITIDAMENTE RACISTA, PORQUE É DE MAU GOSTO VOCÊ
COLOCAR UMA OBRA IDENTIFICADA COMO ‘ESCRAVOS’ E COM PREÇO”, CONTOU PAULO CRUZ.
A repercussão ganhou força depois que o ativista
Antônio Isupério, com mais de 83 mil seguidores nas redes sociais, compartilhou
a revolta do historiador e criticou a venda nas redes sociais.
“Você imagina que poderia ter um boneco de crianças
judias em ‘forninhos’ para serem vendidas como adereços? Então, isso não
acontece porque o repúdio à violência do Nazismo já está em domínio público,
enquanto nós n*gros ainda estamos em processo de conquista da nossa
humanidade”, disse Antônio Isupério.
Após a
repercussão nas redes sociais, a loja Hangard das Artes publicou uma nota de
retratação onde justifica a venda da cerâmica e pede desculpas as pessoas que
se sentiram feridas e menosprezadas. [Veja o posicionamento completo
no final da reportagem]
Em nota, a
Vinci Airports, que administra o terminal aéreo, informou que recomendou a
retirada dos produtos do estoque, após tomar conhecimento da comercialização de
peças “que remetem à desonrosa atividade da escravidão no Brasil” em uma das
lojas que ficam dentro de suas dependências.
A empresa
ressaltou que não determina a curadoria dos produtos vendidos por cada
subconcessionário. No entanto, afirmou que a administração entendeu que era
fundamental se posicionar nesse caso.
A Vinci Airports
afirmou ainda que trabalha para construir uma comunidade antirracista e
reafirma o compromisso com a diversidade e valorização da cultura afro.
O que diz a
Hangard das Artes?
A loja Hangar
das Artes vem a público se retratar e esclarecer os fatos ocorridos na manhã de
hoje (07/02/2022).
Trata-se de
uma empresa que emprega inúmeras pessoas, atuante no mercado de artesanato e
obras de arte há mais de 20 anos, comercializando e divulgando a confecção de
obras de diversos artistas regionais, sempre incentivando a produção daquele
pequeno artesão cujo seu sustento depende exclusivamente de sua arte.
Todas as obras
que exibimos são voltadas para a exaltação da cultura e história baiana e
brasileira. Nossa loja está localizada no Aeroporto de Salvador e sempre exaltou as diversas culturas,
com ênfase na cultura africana, já que temos orgulho de demarcar que somos,
provavelmente, a cidade mais negra fora de África. Sempre com muito respeito e
admiração.
As imagens que
estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do
Preto(a) Velho(a) – espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos
africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, entidades
essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram
para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso,
algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a
história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças
foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa
forma, a história que carrega.
Pedimos nossas
mais sinceras desculpas a todos que se sentiram feridos e menosprezados pela
maneira como conduzimos às coisas. Nossa intenção JAMAIS foi menosprezar, ferir
ou destituir da imagem de uma entidade tão importante e a potência de sua
história. Nossas correntes foram quebradas! E não queremos de maneira alguma
trazer de volta memórias desse passado tenebroso e vergonhoso.
Por isso,
retiramos todas as peças de circulação afim de minimamente nos retratar diante
do ocorrido. Sabemos que não se apaga o que foi feito, mas reconhecemos a nossa
falha e não tornaremos a repeti-la, não só pela repercussão que houve e sim por
não condizer com a nossa verdade.
Nossas sinceras
desculpas pelo ocorrido.
Fonte: https://www.geledes.org.br/historiador-encontra-ceramicas-de-negros-escravizados-a-venda-em-loja-no-aeroporto-de-salvador-sensacao-de-choque-e-indignacao%ef%bf%bc/. Acesso em 07/02/2022.
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