“LICURI: UMA PALMEIRA DE USO MÚLTIPLO”

 


Segundo o Manual do Licuri, publicado em 2016 pelos pesquisadores Aurélio José Antunes de Carvalho, Marco Harrison Santos Ferreira e Josenaide de Souza Alves do Instituto Federal Baiano, o licuri (Syagrus coronata, Arecaceae), é uma palmeira nativa do semiárido Nordestino (Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco) e do norte de Minas Gerais, sendo que a maior parte dos licurizais concentra-se no semiárido baiano. 

É uma palmeira de uso múltiplo, existentes em solos profundo e arenosos ou argilosos. Nos locais de sua ocorrência garante vida para pessoas e animais. Na paisagem, essa palmeira fica verde durante todo ano, mesmo em períodos de estiagem prolongada.

Conforme os pesquisadores, o licuri foi citado pela primeira vez de forma escrita no Tratado Descrito do Brasil em 1589, por Gabriel Soares de Souza: “as principais palmeiras bravas da Bahia são as que chamam ururucuri, que não são muito altas, e dão uns cachos de cocos muito miúdos, aos quais se come o de fora, por ser brando e de sofrível sabor...É mantimento muito sadio, sustentável e proveitoso aos que andam pelo sertão, a que chamam farinha-de-pão” (CARVALHO, 2016, p.14).

O texto, enfatiza que o licurizeiro faz parte da família Arecaceae, sendo um dos grupos de plantas mais antigo da terra, com as maiores concentrações no estado da Bahia. Um licuri em fase adulta, mede entre 3 a 10 metros de altura e de 15 a 25 cm de diâmetro. A espécie apresenta flores e frutos durante o ano inteiro, porém é no período de março a julho que apresentam maior quantidade de frutos.

Quanto ao fruto do Licuri, os autores destacam que: ”é uma drupa ovóide (elipsóide), com polpa carnosa e fibrosa, apresentando de 2,5 a 3 cm de comprimento. No período em que seu fruto está verde, possui endosperma líquido que se torna sólido no processo de amadurecimento. Quando maduro, sua coloração varia do amarelo-claro ao alaranjado a depender da fase de maturação. Os frutos maduros têm polpa amarela, pegajosa e adocicada, e as sementes quando secas, são de cor escura, apresentando 49,2% de teor de lipídios e 11% de proteínas (Idem, p. 17).

Segundo os pesquisadores, o licuri começa a frutificar seis anos após o plantio e um licurizeiro nativo produz, anualmente, em média 2.000kg de frutos por hectare. Além de ser uma palmeira ornamental, com forte potencial paisagístico, todas as partes do licuri são utilizáveis. A partir das folhas é obtido o artesanato e uma diversidade de utensílios, como sacolas, chapéus, vassouras e espanadores. As amêndoas são consumidas in natura e também utilizada para a fabricação de diversos doces.

O manual, também revela que “embora seja uma planta de uso múltiplo, observa-se um secular desprestígio dessa espécie vegetal. A Instrução Normativa (IN 19/2008), proíbe o corte de licuri nas áreas de sua ocorrência natural. Na Bahia está sua maior reserva, entretanto tem-se observado sua retração devido à queimadas, desmatamento, sobrepastejo e mecanização” (Idem, p. 41).

Os autores, ainda destacam que em cada cacho do licuri são encontrados de 400 a 1400 frutos. Potencialmente, um licurizeiro pode produzir aproximadamente 8 cachos. As suas amêndoas são utilizadas na alimentação humana por ser muito rico em ferro, cálcio, cobre, magnésio, zinco, manganês, sais minerais e betacaroteno, tornando-se importante para a soberania alimentar e geração de renda para diversas comunidades.

Na relevante narrativa dos pesquisadores, aparecem as diversas atividades produtivas com os derivados do licuri, como a produção de vários alimentos: “petiscos, granola, paçoca, biscoitos, doces, tortas, cocada, licor, sorvete, moqueca de peixe e de ovos, galinha e azeite. A Farinha é um dos melhores produtos derivados do licuri. Ela é pura fibra; pode ser acrescentada em outros alimentos como cuscuz, farofa, bolo, pães e paçoca” (Item, p. 69).

Ainda, os pesquisadores enfatizam que, os saberes e práticas que perpassam essa expressão cultural com foco no licuri, constitui-se um patrimônio biocultural essencial para que essas populações idealizem e efetivem práticas de auto-gestão e manejo dos recursos naturais de seus territórios, de modo que possam assegurar a conservação do licuri para as gerações presentes e futuras, apoiadas em políticas públicas governamentais que possam preservar/conservar esses saberes e práticas ancestrais.

Por último, os autores apresentam um conjunto de receitas envolvendo o uso do licuri na culinária, a exemplo da cocada – “ingredientes: 2 xícaras de rapadura, 800 gramas de açúcar, 1 litro de licuri moído ou pisado e um copo de leite. Beiju de Licuri - Ingredientes: goma fresca, uma pitada de sal, licuri triturado e rapadura" (Idem, p. 82). Também, destacam uma série de cantorias que estão relacionadas com as práticas e saberes do licuri, como: “o licuri é um produto, de grande valor, serve para o gado, e também para o agricultor. O licuri está sofrendo, vamos juntos ajudar, sem matar, nem desmatar, ajudando a preservar” (Item, p. 85).

Resumo do texto – Luís Carlos Borges da Silva (professor Borges)

Referência

CARVALHO, Aurélio José Antunes de. FERREIRA, Marco Harrison dos Santos e ALVES. Joseneide de Souza. Manual do Licuri. Programa Conca: Sustentabilidade, Saberes e Sabores da Caatinga. Salvador: Áttem Editora, 2016.

Também disponível em: https://issuu.com/xerofilas.cnpq/docs/manual_licuri_v13_epub. Acesso 15/12/2021.

Origem das imagens - Google Imagens.

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