Xaruna é a mesma comunidade que o Fantástico (TV Globo) e o g1 encontraram
uma das piores situações dentro da Terra Yanomami, com dezenas de crianças desnutridas e com sintomas de malária.
De acordo com o presidente do Condisi-YY, Júnior Hekurari Yanomami,
o menino morreu por volta das 16h30 por não haver combustível suficiente para
removê-lo da comunidade. Hekurari fala em "negligência" por parte do
Distrito Sanitário Yanomami (Dsei-Y), órgão que responde à Secretaria Especial
de Saúde Indígena (Sesai), que por sua vez é ligada ao Ministério da Saúde.
Um pedido de providências foi enviado pelo Condisi-YY nessa
quinta-feira (18) ao coordenador do Dsei-Y, Romulo Pinheiro e ao titular da
Sesai, Robson Santos.
Procurado, o Ministério da Saúde, por meio do Dsei Yanomami
informou a remoção da criança foi solicitada na quarta-feira e que ela possuía
indicação de pneumonia.
"Após a autorização da remoção aérea, ao chegar no local a
equipe constatou o óbito da menor. O DSEI informa que empenhou todos os
esforços para o resgate da paciente e que a denúncia de negligência é
infundada", complementou em nota.
Ao g1,
Júnior Hekurari informou que a criança já estava em tratamento contra a
malária, no entanto, teve uma piora significativa e as equipes médicas não
retornaram à comunidade para dar continuidade aos cuidados.
"Eu
conversei com o povo Yanomami e eles relataram que essa criança tinha malária,
já estava em tratamento. A equipe de saúde não retornou para a comunidade por
não ter mais gasolina para fazer o atendimento médico nas comunidades. Ontem eu
fui informado pelos Yanomami que essa criança estava em estado muito
grave", relata o presidente.
Júnior disse
que comunicou Dsei-Y, mas foi informado que não havia combustível para a
remoção do menino. Segundo ele, o Distrito chegou a mandar um helicóptero, mas
a aeronave "não chegou a tempo".
"Eu
comuniquei a equipe do Dsei-Y para remover a criança às 11h e foi autorizado
para resgate urgente com a equipe médica do Parima. Mas, não tinha gasolina
para se deslocar até a comunidade do Xaruna e depois o Dsei-Y acionou o
helicóptero para fazer o resgate. O helicóptero chegou apenas 17h e a criança
tinha falecido às 16h30 sem nenhum socorro".
O presidente relata que o povo Yanomami
precisa urgentemente de ajuda e pede interferência do Governo Federal em
relação às mortes por malária na terra indígena, diante da "falta de
planejamento do Dsei-Y".
"Não tem mais como ficar assim, pois estamos perdendo muitas
crianças. O povo Yanomami está morrendo. Precisamos urgentemente que o Governo
Federal ou a Justiça interfira no Dsei-Y. O distrito não tem mais condição de
atuar sem planejamento na Terra Yanomami. Não queremos mais perder nossas
crianças e nosso povo dessa forma. É uma situação muito triste e o Governo
Federal tem conhecimento do que estamos passando. Precisamos de intervenção no
Dsei-Y".
A criança é a terceira a morrer por malária e o quinto caso em três
meses na Terra Indígena Yanomami. Em setembro, duas crianças indígenas -- uma delas tendo 6
meses de idade -- morreram também na comunidade de Xaruna. No dia 4 de novembro, uma adolescente indígena, de 17
anos, morreu na comunidade Yaritopi, que estava em estado grave de malária
falciparum. Em 1º de outubro, um pajé da comunidade Makuxi Yano, de 50
anos, morreu sem atendimento.
Júnior diz que
foi informado pela comunidade que não há gasolina de barco desde o início deste
mês para deslocar a equipe médica.
"O
Condisi-YY acredita que esse foi mais um caso de negligência do Dsei-Y. É
negligência, pois não tem planejamento, os transportes estavam sem gasolina e
essa é a responsabilidade do coordenador do Distrito Yanomami. Por que não
mandou gasolina? Isso é incapacidade de uma coordenação que está colocando em
risco a vida do povo Yanomami".
De acordo com
Júnior, cinco indígenas se encontram em estado grave de malária na comunidade
de Xaruna. Aproximadamente, 120 pessoas vivem na comunidade.
STF pede providências
Nesta
quarta-feira (17), o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal
(STF), determinou que o governo
federal preste esclarecimentos em até cinco dias sobre a situação do povo
Yanomami.
No último fim
de semana, o Fantástico (TV Globo) e o g1 mostraram
que as crianças Yanomami estão
sofrendo com desnutrição, malária e falta de atendimento médico (veja no vídeo abaixo).
O partido Rede
Sustentabilidade acionou o STF pedindo que o governo Jair Bolsonaro seja
obrigado a adotar as medidas necessárias para garantir a proteção da vida, da
saúde e da segurança da população indígena.
Pela
determinação de Barroso, o governo deverá informar: situação nutricional,
acesso a água potável, serviços de saúde e medicamentos.
O Ministério
Público Federal em Roraima recomendou, nesta segunda-feira (15), que o Mistério
da Saúde faça um plano de reestruturação da assistência básica que possa reverter
o cenário. Foi dado um prazo de 90 dias para a reposta,
e, caso ela não ocorra, foi sugerido intervenção.
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem cerca de 28 mil indígenas que vivem em mais de
370 aldeias. Alvo frequente de garimpeiros, desde o dia 10 de
maio, a região enfrenta tensão na comunidade de Palimiú em razão de ataques armados de garimpeiros.
A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da
floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que
enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.
Em 2020, o ano da pandemia, o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami. Só o
rio Uraricoera concentra 52% de todo o dano causado pela atividade ilegal.
Fonte: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/11/18/crianca-yanomami-de-3-anos-com-malaria-e-pneumonia-morre-sem-atendimento-em-comunidade-diz-conselho-de-saude.ghtml.
Acesso em 18/11/2021.
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