Relatório divulgado hoje pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) mostra que 22% dos adolescentes e jovens brasileiros de 15 a 24 anos entrevistados pela organização disseram que se sentem, “muita vezes”, deprimidos ou com “pouco interesse em fazer as coisas”.
Para o Unicef,
o impacto da pandemia do coronavÃrus na
piora da saúde mental das crianças,
adolescentes e jovens de todo mundo é só a “ponta do iceberg” para um tema que
é, muitas vezes, deixado de lado.
Os dados e
análises da organização fazem parte do relatório “Situação Mundial da Infância
2021”. Outros dados fazem parte de estudo internacional feito pelo Unicef com a
Gallup, que será divulgado integralmente no próximo mês.
O Brasil não
ocupa o primeiro lugar no ranking —a República dos Camarões tem 32% dos jovens
da mesma faixa etária dizendo que se sentem deprimidos. Ainda assim, o paÃs,
segundo Gabriela Mora, oficial da área de Desenvolvimento de Adolescentes do
Unicef no Brasil, precisa reforçar as polÃticas públicas já existentes no
Brasil.
“O Brasil tem
um histórico de uma polÃtica pública universalizada e gratuita na área da
saúde, mas que poderia estar muito melhor. Os Caps (Centros de Atenção
Psicossocial), por exemplo, não alcançam todos os municÃpios de pequeno e médio
porte”, explica Mora. Para ela, o paÃs precisa pensar uma “polÃtica
intersetorial com educação, assistência social, saúde”.
Uma outra
preocupação apontada por ela foi o tempo que as escolas brasileiras ficaram
fechadas. “As crianças e adolescentes ficaram sem acesso à educação, o desafio
da conectividade, a falta de aparelhos móveis. Essas pessoas tiveram um
rompimento e demorarão para retornar para um estágio confortável”, diz Mora.
O Unicef
sempre defendeu com a OMS (Organização Mundial da Saúde) que os governos
priorizassem a reabertura das escolas durante a pandemia, já que as perdas de
aprendizagem e em outras áreas são gravÃssimas para crianças e jovens de todo o
mundo.
A preocupação
com o futuro e a dificuldade para se obter uma renda são desafios que podem
impactar a saúde mental de adolescentes e jovens.
O relatório
que ressalta que os dados se baseiam em apenas uma pergunta, não em múltiplas,
nem a um diagnóstico feito por profissionais da saúde.
Saúde mental pode gerar perda de US$ 390 bilhões
por ano
O relatório
também apontou que a falta de ação por parte dos governos em propor polÃticas
que cuidem da saúde mental de jovens e adolescentes em todo o mundo pode trazer
riscos financeiros e até mesmo a morte dessas pessoas. “Estima-se que 45.800
adolescentes morrem de suicÃdio a cada ano —ele é a quinta causa de morte mais
prevalente em adolescentes de 10 a 19 anos”, diz o relatório.
Ao todo, o
Unicef estima que o mundo perde US$ 387,2 bilhões por ano de capital humano
devido à condição de saúde mental das pessoas com 0 a 19 anos. Deste total, US$
340,2 bilhões refletem transtornos que incluem ansiedade e depressão,
e US$ 47 bilhões são referentes a perda por suicÃdio.
Esses dados
nos mostram quanto terÃamos em perda de capital humano se não forem tomadas as
devidas providências para saúde mental. Se essas questões não forem endereçadas
e abordadas da maneira correta, vidas podem não ser inseridas no mercado de
trabalho ou até mesmo serem perdidas.”
Gabriela Mora, oficial da área de Desenvolvimento do Adolescente no Unicef
Brasil.
Menos de 1 dólar por pessoa para tratar saúde
mental
O estudo
apresenta também que 83% dos jovens dos 21 paÃses acreditam que é melhor lidar
com “problemas de saúde mental compartilhando experiências com outras pessoas e
buscando apoio do que sozinho”.
Apesar dessa
demanda por parte da sociedade, o fundo afirma que há governos que gastam menos
de 1 dólar por pessoa para tratar questões de saúde mental.
“O número de
psiquiatras especializados no tratamento de crianças e adolescentes é inferior
a 0,1 por 100 mil em todos os paÃses, exceto os de alta renda, onde o número
era de 5,5 por 100 mil”, afirma o relatório.
Para Mora, o
Brasil também derrapa na atenção do tema. “Temos uma estrutura de polÃtica
pública, embora seja interessante, está limitada. Ou seja, além da desigualdade
social, como podem evitar que municÃpios pequenos fiquem desassistidos para
tratamentos mais complexos? Articular um trabalho entre as cidades é um
caminho”, indica.
A organização
lançou recentemente o site podefalar.org.br para dialogar de
saúde mental com adolescentes e jovens de 13 a 24 anos de 21 paÃses diferentes
de forma totalmente anônima e gratuita. O espaço têm materiais sobre o tema,
depoimentos de pessoas com a mesma faixa etária e um espaço com profissionais
da área da saúde.
Fonte: https://www.geledes.org.br/22-dos-jovens-de-15-a-24-anos-se-sentem-deprimidos-aponta-unicef/.
Acesso em 05/10/2021.
0 Comentários