Precisamos falar sobre o Haiti

 

Haiti, “terra das grandes montanhas”, nome dado à ilha pelos indígenas nativos daquelas terras. Um território belo, banhado pelo mar caribenho e ofuscado pelas constantes mazelas as quais vem sendo acometido.

A República do Haiti é um país marcado pela pobreza e pela instabilidade política e institucional. Esse país ocupa o terço oeste da ilha Hispaniola, segunda maior do Caribe, compartilhada com a República Dominicana. Este país possui características, que há anos corroboram para o agravamento dos aspectos relacionados à qualidade de vida da população. 


Alguns fatores que justificam esse cenário são: as atividades econômicas principais do país giram em torno do mercado informal, o que leva a maioria das pessoas a não possuírem cobertura para ações de prevenção à saúde. Outro fato é a desestruturação familiar acarretada pelo grande movimento das migrações e imigrações no país, e um fator extremamente crítico é sua localização geográfica que encontra-se numa zona propícia a formação de furacões e terremotos.


O país também registra alta incidência de vetores de doenças de veiculação hídrica e epidemias que não são prevenidas com campanhas de vacinação para a população. Todas essas características já predominavam antes da pandemia da Covid-19, e todo este cenário foi intensificado com os impactos diretos e indiretos advindos dessa crise sanitária mundial.


Outro agravante, é a estimativa apontada pelo Ministério de Saúde Pública e da População (MSPP) do Haiti que, em 2017, indicava que cerca de 47% da população haitiana não tinha acesso à serviços básicos de saúde e 50% não tinha aceso à medicamentos, esse panorama não sofreu grandes mudanças até os dias atuais.


Fato marcante do Haiti, foi a ocorrência da catástrofe ambiental em 2010, quando o país foi fortemente atingido por abalos sísmicos de magnitude 7,0 na escala Richter, que devastou as áreas de seu território. Foram desencadeados uma série de agravos na saúde ambiental da população como a destruição das poucas estruturas de saneamento, dentre outras privações. Além disso, a questão da presença de doenças infectocontagiosas à época, podem ser explicadas pelo fato de que nenhuma cidade no Haiti possuía sistemas de esgotamento sanitário (apenas unidades de tratamento isoladas de águas residuais). 


Não bastasse todo esse cenário, no último sábado 14 de agosto, outro terremoto (de magnitude 7,2) atingiu a parte oeste do país, trazendo um profundo desalento à população. Registra-se, até o presente momento, mais de 300 mortos e cerca de 2.000 feridos. Outro acontecimento recente foi o fatídico assassinato do presidente Jovenel Moïse, ocorrido em julho passado, que reflete a complexidade e gravidade dos problemas sócio-políticos que o país enfrenta.


Alguns esforços são empregados pela comunidade internacional para mediar os conflitos e atenuar as adversidades enfrentadas pelo país, mas fica a questão de como e quanto as questões haitianas são relevantes para o mundo? 


O Haiti tem uma população majoritariamente negra e possui uma história muito significativa para a geopolítica mundial ao se firmar como o primeiro país do continente americano a findar com a escravidão, e posteriormente concretizar uma revolução eminentemente da população negra conquistando a independência do país. 


Esse país é o verdadeiro cenário da resiliência humana, que “faz das tripas coração” para sobreviver. Um povo de luta, com poucas perspectivas e oportunidades, que tem seus direitos privados devido a um desgoverno que impede que as variantes sociais sejam conduzidas com melhores práticas e políticas. 


E assim, não posso deixar de pensar: quais vidas negras importam? E a quem importam? Onde está a comoção internacional para socorrer os cidadãos de um país que há anos está desafortunado por uma série de desastres que desencadeiam mortes, adoecimentos, crises políticas, crises sanitárias e a privação dos direitos humanos básicos da população. 


Precisamos falar sobre o Haiti. Precisamos colocar esse país no centro político das tomadas de decisões mundiais. Precisamos clamar por direitos equânimes. Precisamos exercer a empatia ao povo preto mundo a fora. Precisamos zelar pelos nossos irmãos. Precisamos enaltecer suas histórias e seus legados. Precisamos refletir privilégios e questionar a geopolítica internacional. Precisamos falar sobre o Haiti.

Fonte: https://www.geledes.org.br/precisamos-falar-sobre-o-haiti/. Acesso em 03/09/2021.

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