A prática do
trabalho doméstico remonta a um período de mais de 300 anos de escravização
Brasileira, de bases racista e patriarcal, que mesmo após a abolição em 1988,
continua mantendo viva uma tradição de exploração e violências simbólicas no
seio da sociedade — ainda que com rotinas diárias diferentes e com avanços na
legislação trabalhistas —, mantém práticas atuais de violências diversas.
Realidades como a vivenciada por Raiane e pelos rescentes casos de três
trabalhadoras domésticas resgatadas em situação análogas à escravidão, também em
bairros de classe média de Salvador, acabam por denunciar uma abolição mal
acabada, que subjugou a população negra,
e sobretudo as mulheres, ao subemprego e expostas a vulnerabilidades diversas,
sendo empurradas ao trabalho doméstico, para ingressarem mais facilmente no
mercado de trabalho, como uma alternativas na luta pela sobrevivência,
principalemnte, na informalidade, que precariaza o trabalho, propiciando as
práticas de violências.
O atual
momento histórico de pandemia e de crise econômica, sob um desgoverno
antipopular e genocida, é mais que oportuno para voltarmos a refletir sobre a
situação de vulnerabilidade que ainda vivem essas mulheres. Não à toa, o
segundo caso do coronavírus (Covid-19) registrado no Brasil foi de uma mulher
trabalhadora doméstica, Cleonice Gonçalves, por ter tido contato com seus
patrões que testaram positivo para a covid-19, antes de Cleonice ser infectada.
Esses casos revelam, entre outras coisas, às extrema vulnerabilidade que estão
expostas essas mulheres, reflexo das desigualdades estruturais
de raça, gênero e classe que afetam as relações do trabalho doméstico, nos
convidando a incitar o debate e impulsionar ações de ordem prática de combate à
exploração paralelamente ao enfrentamento ao racismo e do sexismo presentes
na sociedade.
O combate à
exploração e violência no trabalho doméstico é um debate tão atual quanto
necessário sobre reparação de injustiças sociais que afetam majoritariamente as
mulheres negras. O movimento social e, sobretudo, o movimento sindical das
trabalhadoras domésticas no Brasil, iniciado por Laudelina de Campos Mello, vem
há mais de oitenta anos pautando a igualdade de direitos trabalhistas e
denunciando casos como o de Raiane e tantas outras mulheres.
É necessário
ressignificar social e economicamente o trabalho doméstico de modo que essa
profissão não mais seja alvo de tais violências e para que se possa ampliar e
garantir os direitos trabalhistas e previdenciários de mulheres e homens que
fazem do trabalho doméstico a sua profissão, ocupação ou meio de sobrevivência.
Essa é uma demanda de toda a sociedade para a garantia da dignidade da pessoa
humana e pelo respeito aos direitos constitucionais.
¹ Música de
Elza Soares, Mulher do Fim do Mundo. Composição de Romulo Fróes e
Alice Coutinho.
Fonte: https://www.geledes.org.br/joguei-do-alto-do-terceiro-andar-quebrei-a-cara-e-me-livrei-do-resto-dessa-vida%c2%b9/.
Acesso em 14/09/2021.
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