100 anos de Paulo Freire: o educador que revolucionou a educação no Brasil e pelo mundo

 

Hoje, 19 de setembro, é o centenário do educador Paulo Freire, um dos principais nomes da educação no Brasil e de grande influência no mundo. Ele foi o criador da "educação crítica" e pregou a pedagogia da libertação. Conheça mais sobre a história de Paulo Freire a seguir.

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife em 1921. Embora sua família fosse de classe média, presenciou a fome e a pobreza de seu povo, agravada com a crise de 1929. Por testemunhar tantas dificuldades, talvez tenha surgido daí sua indignação contra as injustiças e seu desejo de transformação da sociedade, para que se fosse menos autoritária, discriminatória e desigual.

Mesmo tendo se formado em direito e nunca exercido a profissão, realizou estudos na área da filosofia da linguagem. Tempos depois, tornou-se professor de língua portuguesa para o segundo grau. No ano de 1963, propôs um programa de alfabetização revolucionário. O método era voltado para pessoas da época que não haviam frequentado a escola.


Mesmo tendo se formado em direito e nunca exercido a profissão, realizou estudos na área da filosofia da linguagem. Tempos depois, tornou-se professor de língua portuguesa para o segundo grau. No ano de 1963, propôs um programa de alfabetização revolucionário. O método era voltado para pessoas da época que não haviam frequentado a escola. Construção do próprio saber

Diante dessas reflexões, Paulo Freire propôs uma educação que considerava o aluno como sujeito do processo de conhecimento, dotado de capacidade reflexiva. Assim, o estudante deixa de ser objeto passivo e passa a participar ativamente da construção do seu saber. Por exemplo, para desenvolver as habilidades da leitura e da escrita, o educador deveria buscar a realidade de vida dos seus alunos. Assim, o aprendizado ocorreria de uma forma contextualizada e inclusiva.

Libertação e transformação

Dessa forma, em contraponto à educação bancária, o pedagogo propôs a educação libertadora, na qual a separação entre professor e aluno não fosse rígida. Assim, foi criada uma aprendizagem com espaço para o diálogo entre as partes, apresentando problemas, reflexões e soluções para a vida real.

Paulo Freire afirmava: "Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda."

Anos de chumbo

Preso pelo governo, Freire se exilou no Chile, onde escreveu sua obra mais importante − Pedagogia do Oprimido. Nela, o pedagogo propõe que a educação seja uma prática libertária, que deve ser concebida pelos próprios oprimidos. Nessa concepção, o objetivo fundamental da escola é orientar o aluno a ler o mundo para poder transformá-lo. A ideia é mostrar que o próprio aluno tem um papel de romper com a cultura do silêncio, tornando-se protagonistas de suas histórias.

Esse modelo "revolucionário" de pedagogia seria uma alternativa ao ensino oferecido pela maioria das escolas (tanto em sua época quanto atualmente), consideradas pelo educador como burguesas, oferecendo uma educação bancária. Para Paulo Freire, o professor apenas deposita seu conhecimento no aluno, um receptor dócil e passivo uma relação tão ideologizada quanto propõem os críticos em relação à sua obra.


Quais as ideias de Freire?

Freire é estudado em universidades americanas, homenageado com escultura na Suécia, nome de centro de estudos na Finlândia e inspiração para cientistas em Kosovo. De acordo com levantamento do pesquisador Elliott Green, professor da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, na Inglaterra, o livro fundamental da obra do educador, 'Pedagogia do Oprimido', escrito em 1968, é o terceiro mais citado em trabalhos acadêmicos na área de humanidades em todo o mundo.


Para Freire, o ensino ocorre a partir do diálogo entre professor e aluno, desenvolvendo assim capacidade crítica e preparando os estudantes para sua emancipação social. No jargão do meio, o método Freire é o oposto ao conceito "bancário" de educação - aquele no qual o professor "deposita" o conhecimento nas mentes dos alunos. Para Freire, a educação é construída em conjunto.


O método Paulo Freire chegou a ser adotado pelo governo de João Goulart (1919-1976) em esforços para alfabetização de adultos. Com a ditadura militar, entretanto, o educador passou a ser perseguido, chegou a ser preso por 70 dias e viveu no exílio na Bolívia e no Chile. Após a publicação da 'Pedagogia do Oprimido', em 1968, Freire foi convidado para ser professor visitante na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Reconhecido desde 2012 como o Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire é considerado o brasileiro mais vezes laureado com títulos de doutor honoris causa pelo mundo. No total, ele recebeu homenagens em pelo menos 35 universidades, entre brasileiras e estrangeiras, como a Universidade de Genebra, a Universidade de Bolonha, a Universidade de Estocolmo, a Universidade de Massachusetts, a Universidade de Illinois e a Universidade de Lisboa. Em 1986, Freire recebeu o Prêmio Educação para a Paz, concedido pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura.

Há instituições de ensino que seguem o método Paulo Freire em diversos países. É o caso da Revere High School, escola em Massachusetts que em 2014 foi avaliada como a melhor instituição pública de Ensino Médio nos Estados Unidos. Em Kosovo, um grupo de jovens acadêmicos criou um projeto de ciência cidadã inspirado na pedagogia crítica do brasileiro. Os participantes recebem um kit para monitorar as condições ambientais e, assim, juntos, pressionar o governo por melhorias na área.


"Acredito que seria ótimo que a pedagogia em qualquer escola de qualquer país partisse do pensamento de Freire", comentou a pedagoga finlandesa Anttila. "Especialmente no Brasil, dada a atual situação política e a história do país." Ela diz que um método de ensino, para funcionar bem, precisa levar em conta as situações de vida dos alunos. "Não acredito em pedagogia autoritária. As aulas não precisam ser autoritárias. É preciso diálogo, discussão, negociação, exploração. Construir conhecimento para que haja capacidade de expressar ideias e ouvir os outros. Eis a chave para a democracia. E a educação democrática é a única maneira de salvaguardar uma sociedade democrática", declarou.

Fontes:

https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/horoscopo/paulo-freire-100-anos-do-pensador-que-acreditava-na-educacao-como-forma-de-liberdade,dc0e540c8c262053a6a91736de91f49dcwxl12s7.html. Acesso em 19/09/2021.

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46830942. Acesso em 19/09/2021.

Foto - Google Imagens (https://www.jb.com.br/pais/opiniao/artigos/2021/09/1032906-paulo-freire-presente-hoje-e-sempre.html). Acesso em 19/09/2021.


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