Em janeiro de 1947, Otávio
Mangabeira (27/08/1886 a 29/10/1960) foi eleito governador da Bahia com o apoio
da coligação formada pela UDN, o PSD e o Partido de Representação Popular
(PRP). Nesse mesmo mês transmitiu a presidência da UDN a José Américo de
Almeida. Em abril tomou posse no governo baiano, substituindo o interventor
federal general Cândido Caldas. A partir de então passou a estimular com rigor
redobrado uma política de “união nacional”, com a intenção, segundo Hermes
Lima, de garantir sua própria candidatura à presidência da República nas
eleições de 1950.
Em novembro de 1947, ao lado do governador mineiro Mílton Campos,
também udenista, Mangabeira começou a discutir com Dutra os termos de um acordo
interpartidário de apoio a seu governo. Entre as exigências apresentadas pelos
udenistas incluíam-se o respeito à Constituição, que viria a ser violada com a
cassação dos mandatos dos parlamentares comunistas (o registro do PCB fora
cancelado em maio), a manutenção da ordem nos estados e o direito de a UDN
fazer críticas ao governo.
Em janeiro de 1948, foi finalmente assinado o Acordo
Interpartidário entre o PSD, a UDN e o Partido Republicano (PR), que
constituíram assim um bloco parlamentar de sustentação ao governo Dutra. Em
fins de 1949, quando se intensificaram os debates em torno da sucessão
presidencial, Otávio Mangabeira chegou a ser cogitado por alguns líderes da UDN
como possível candidato. Entretanto, o escolhido foi mais uma vez o brigadeiro
Eduardo Gomes, afinal derrotado por Vargas nas eleições de outubro de 1950.
Entre suas realizações à frente do governo da Bahia, Otávio Mangabeira promoveu
a renovação da empresa Navegação Baiana e a construção do Fórum Rui Barbosa, do
estádio Fonte Nova e da avenida Otávio Mangabeira, todos em Salvador.
Incentivou também o desenvolvimento da instrução e da assistência médica
gratuita e impulsionou o setor agrário. Durante sua gestão, ocorreu ainda o
empastelamento — por forças do Exército — do jornal comunista O Momento, em
virtude de uma manchete de primeira página pedindo a renúncia de Dutra. Otávio
Mangabeira governou a Bahia até o final do mandato, em 31 de janeiro de 1951,
sendo substituído no cargo por Régis Pacheco.
Deixando o
Executivo baiano, Mangabeira fez oposição ao governo de Vargas, participando
ativamente da campanha que terminou em agosto de 1954 com a virtual deposição e
o suicídio do presidente. Nesse período, entrou também em dissidência com a
direção udenista, ligando-se à “ala autonomista” desse partido e, em seguida,
ao Partido Libertador (PL).
Concorrendo ao pleito de outubro de 1954 na legenda
da Coligação Baiana — frente eleitoral que congregou o PSD, o PRP e o Partido
Libertador (PL) —, foi mais uma vez eleito deputado federal pela Bahia e
assumiu o mandato em fevereiro de 1955. Pouco depois aderiu à campanha em favor
dos candidatos udenistas à presidência e vice-presidência da República, Juarez
Távora e Mílton Campos, derrotados nas eleições presidenciais de outubro
seguinte por Juscelino Kubitschek e João Goulart, lançados pela aliança formada
entre o PSD e o PTB.
A oposição da UDN e de setores militares à posse dos
candidatos eleitos, baseada na inexistência de maioria absoluta nas eleições,
levou à eclosão, em 11 de novembro, de um movimento militar liderado pelo
general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra demissionário, visando,
segundo suas palavras, barrar uma conspiração em preparo no governo e garantir
a posse de Kubitschek. Nesse mesmo dia Otávio Mangabeira lançou um apelo à
pacificação nacional, em defesa da democracia, afirmando que, do contrário, “o
que aí vem, inelutavelmente, é o governo militar”.
O movimento liderado por
Lott provocou o impedimento do presidente Carlos Luz, em exercício, e colocou
na chefia da nação Nereu Ramos, presidente do Senado e seu sucessor legal.
Quando o presidente João Café Filho, licenciado por motivo de saúde, revelou
disposição de retornar à chefia do governo, alguns parlamentares, entre os
quais Otávio Mangabeira, o apoiaram.
No entanto, Café Filho também teve seu
impedimento aprovado pelo Congresso — com o voto contrário de Mangabeira —, e
Nereu permaneceu no governo até a posse de Kubitschek e Goulart, realizada com
o respaldo das forças armadas em 31 de janeiro de 1956. Em outubro de 1958
Otávio Mangabeira foi eleito senador pela Bahia na legenda da coligação entre a
UDN e o PL.
Deixando a Câmara em janeiro de 1959, assumiu no mês seguinte o
mandato no Senado. Em 1960 engajou-se na campanha em favor da chapa Jânio
Quadros-Mílton Campos à sucessão presidencial e em julho licenciou-se do Senado
para tratamento de saúde. Assistiu à vitória de seus candidatos no pleito de
outubro, mas veio a falecer logo em seguida, em 29 de novembro de 1960, no Rio,
deixando de realizar o desejo de concorrer à prefeitura de Salvador em 1962,
como despedida da vida política. Casado com Ester Pinto Mangabeira, teve dois
filhos. Seu sobrinho, Francisco Mangabeira, participou da Aliança Nacional
Libertadora (ANL) e foi presidente da Petrobras de 1962 a 1963.
Além de
inúmeros discursos, pareceres, relatórios e conferências, publicou as seguintes
obras: Halley e o cometa de seu nome (1910), Voto de saudade (1924), Christus
imperat (1930), Pelos foros do idioma (1930), Tradições navais do Brasil
(1930), As últimas horas da legalidade (1930), Um pregador da paixão (1933),
Palavras... ao vento (1938), Pela honra, pelos direitos, pela soberania do
Brasil (1939) e Machado de Assis (os seus contos e romances em ponto pequeno)
(1954). A respeito de sua vida e atuação política foram publicadas as obras
Otávio Mangabeira: alma e voz da República (1971), de Yves de Oliveira, e
Vultos que ficaram: os irmãos Mangabeira (1977), de Sá Meneses. Em 1978 a
Câmara dos Deputados editou Otávio Mangabeira, discursos parlamentares.
Fonte. http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/MANGABEIRA,%20Ot%C3%A1vio.pdf.
Acesso em 27/08/2021.
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