É a primeira
vez que o IPCC - um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) - quantifica a responsabilidade das ações
humanas no aumento da temperatura na Terra.
"Muitas
das mudanças observadas no clima não têm precedentes em milhares, centenas de
milhares de anos. Algumas das mudanças - como o aumento contínuo do nível do
mar - são irreversíveis ao longo de centenas a milhares de anos", aponta o
relatório.
A conclusão é
um dos pontos do documento nomeado "Climate Change 2021: The
Physical Science Basis", que apresenta ainda os seguintes
destaques:
- Papel da influência humana no
aquecimento do planeta é inequívoco e
inquestionável;
- Mudanças recentes no clima não têm
precedentes ao
longo de séculos e até milhares de anos;
- Todas as regiões do globo já são
afetadas por eventos extremos como
ondas de calor, chuvas fortes, secas e ciclones tropicais provocadas pelo
aquecimento global;
- Cada uma das últimas quatro décadas foi sucessivamente mais quente do
que qualquer outra década que a precedeu desde 1850;
- Temperatura vai continuar a subir até meados deste século em
todos os cenários projetados para as emissões de gases de efeito estufa;
- Aquecimento de 1,5°C a 2°C será
ultrapassado ainda neste século se não houver forte e profunda redução
nas emissões de CO² e outros gases de efeito estufa
- Reduções fortes e sustentadas na emissão de
dióxido de carbono (CO²) e outros gases de efeito estufa ainda podem limitar as mudanças climáticas;
- Caso as reduções ocorram, ainda
pode levar até 30 anos para que as
temperaturas se estabilizem.
·
Os dados
integram a primeira das três etapas do relatório do IPCC. As duas próximas
publicações abordarão como lidar com o aquecimento e quais as estratégias para
evitar um aumento ainda maior da temperatura.
No entanto, o
texto desta segunda-feira deve ser o único divulgado antes da Conferência das Partes (COP26),
prevista para novembro em Glasgow, na Escócia.
Meta de 1,5°C para barrar devastação
O relatório
indica que o impacto da ação humana já está perto do limite de 1,5ºC de aumento
da temperatura global que foi definido em 2015 durante a COP21, no Acordo de
Paris. À época, os países presentes se comprometeram com algumas metas para
conseguir barrar as mudanças do planeta, incluindo o Brasil, que diz querer atingir a
neutralidade nas emissões de gases causadores do efeito estufa até 2060.
A
pesquisadora Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB)
e uma das participantes do grupo de trabalho da terceira parte do relatório do
IPCC, alerta que os dados exigem uma resposta urgente – apesar de a ação humana
ter causado danos irreversíveis por séculos ou milênios, o cenário como um todo
não é considerado irreversível.
"1,07°C é
a estimativa média entre 0,8ºC e 1,3ºC. O valor de 1,3ºC nos coloca bem
próximos da meta de 1,5ºC do Acordo de Paris para 2100. Ou seja, a urgência é
evidente para trabalhar nas causas do aquecimento", disse Bustamante.
A especialista
diz que um ponto importante a destacar é que está mais quente "em sistemas
terrestres (onde vive a população) do que nos oceanos, pois a água segura mais
as variações de temperatura". A alta da temperatura total do planeta, com
influência humana e com a variação do próprio sistema climático, é de 1,09ºC
(variação de 0,95ºC a 1,20ºC).
Irrefutável
Nas primeiras
páginas, o documento utiliza o adjetivo "inequívoca" para se referir
à influência humana nas mudanças climáticas. A ciência já considera que as
provas são irrefutáveis.
"É
inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra.
Ocorreram mudanças rápidas e generalizadas na atmosfera, no oceano, na
criosfera e na biosfera" - IPCC.
Stela
Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima,
explica que o documento "mudou a linguagem" e acrescentou esse grau
de certeza, sem margem para "contestação".
"A gente
não está mais discutindo se o homem foi um fator ou se é o um fator
preponderante nas mudanças climáticas. Não se discute o 'se', mas o 'quanto'. É
inequívoca a influência humana no clima da Terra e eles [IPCC] agora mostram
quanto conseguem estimar em graus de temperatura", disse.
Perspectiva: 9 pontos do
impacto
Abaixo, veja nove pontos do impacto do aumento da temperatura
global na vida na Terra, segundo o relatório do IPCC:
- A temperatura
da superfície terrestre subiu mais rapidamente desde 1970 do que em
qualquer outro período de 50 anos visto nos
últimos 2 mil anos;
- As ondas
de calor se tornaram mais frequentes e mais intensas em quase todos os
continentes do planeta desde 1950, enquanto frios
extremos se tornaram menos frequentes e menos severos;
- Nas
últimas 4 décadas, houve
um aumento da proporção de ciclones tropicais;
- A influência
humana aumentou a chance de eventos extremos desde 1950 e
isso inclui a frequência da ocorrência de ondas de calor, secas em escala
global, incidência de fogo e inundações.
- Em
2019, a
concentração de CO² na atmosfera era maior do que em qualquer outro
momento nos últimos 2 milhões de anos e a
concentração de metano e óxido nitroso era a maior em 800 mil anos;
- As ondas
de calor marítimas ficaram aproximadamente duas vezes mais frequentes desde
1980;
- Entre
2011 e 2020, a área
média de gelo no Ártico atingiu seu número mais baixo desde
pelo menos 1850 e era, no final do verão, menor do que em qualquer época
nos últimos mil anos;
- O recuo
das geleiras – com uma redução sincronizada
em qualquer todas as geleiras do mundo desde os anos 50 — é sem
precedentes pelo menos pelos últimos 2 mil anos;
- O nível
médio do mar aumentou mais rápido desde 1900 do que em qualquer século em
pelo menos nos últimos 3 mil anos.
Fonte: https://g1.globo.com/natureza/aquecimento-global/noticia/2021/08/09/influencia-humana-e-responsavel-por-alta-de-107c-na-temperatura-global-estima-relatorio-do-ipcc-orgao-da-onu.ghtml.
Acesso em 09/08/2021
0 Comentários