A proposta foi apresentada pelo professor Dennis de Oliveira,
do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da Escola de Comunicações e
Artes (ECA) e do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro
(NEINB-USP), e apoiada pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) da ECA.
“Este
é um dia marcante para celebrarmos este grande brasileiro. A USP se sente muito
honrada em poder conceder este título a Luiz Gama”, ressaltou o reitor Vahan
Agopyan após a votação dos conselheiros.
De acordo com o Estatuto da Universidade, o título de doutor honoris causa é
concedido “a personalidades nacionais ou estrangeiras que tenham contribuído,
de modo notável, para o progresso das ciências, letras ou artes; e aos que
tenham beneficiado de forma excepcional a humanidade, o País, ou prestado
relevantes serviços à Universidade”.
Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 21 de junho de 1830, em
Salvador, filho de um fidalgo português, cujo nome nunca revelou, e Luiza
Mahín, africana livre da Costa Mina, importante ativista envolvida em diversos
levantes dos escravos na Bahia no início do século XIX.
Luiz Gama, nascido livre, foi vendido como escravo aos dez anos
pelo próprio pai para saldar dívidas de jogo e, com isso, levado para São Paulo
onde, aos 17 anos, aprendeu a ler e escrever. De posse das letras, conseguiu
conquistar judicialmente a própria liberdade.
Em 1850, tentou ingressar no curso de Direito da Faculdade de
Direito do Largo São Francisco. Negro e pobre, não foi admitido formalmente
como aluno. Entretanto, permaneceu nos corredores da faculdade, frequentou
diuturnamente a biblioteca e assistiu a inúmeras aulas como ouvinte.
Luiz
Gama adquiriu conhecimentos jurídicos sólidos que Ihe possibilitaram atuar na
defesa jurídica de escravos. Formou-se advogado provisionado, tornando-se o
maior especialista jurídico na libertação de escravos, tendo libertado mais de
500 pessoas e realizado ações também na defesa de pessoas pobres, inclusive
imigrantes europeus.
Paralelamente, atuava como jornalista e literato. Participou dos
movimentos contra a escravidão e é reconhecido como um dos principais líderes
abolicionistas do Brasil. Nos tribunais, com oratória distinta e domínio das
letras jurídicas, lutou arduamente contra a escravidão, o racismo e a
desigualdade.
Sua
atuação nesta área rendeu-lhe o reconhecimento em vida e postumamente com a
concessão, em novembro de 2015, do título de advogado pela Ordem dos Advogados
do Brasil, em homenagem inédita àquele que se imortalizou na luta por um país
“sem reis e sem escravos”.
Foi um dos expoentes do Romantismo, com a publicação, em 1859, das Primeiras Trovas Burlescas de
Getulino, reeditada ampliada em 1861, livro em que Gama introduz a
subjetividade do autor negro na literatura brasileira.
Como um dos principais personagens na luta republicana, Luiz Gama
esteve ao lado de vários nomes ilustres, como Ruy Barbosa. Também foi um
inovador no jornalismo, tendo fundado o primeiro jornal ilustrado da cidade de
São Paulo, o Diabo Coxo, em
1864, e participado ativamente de periódicos republicanos da época. Criou, em
1869, com Ruy Barbosa, o jornal Radical Paulistano,
do Partido Liberal Radical paulista. Luiz Gama foi personagem central da
história da imprensa em São Paulo e no Brasil.
Faleceu em 24 de agosto de 1882, aos 52 anos, antes da assinatura
da Lei Áurea (1888).
No dia 17 de janeiro de 2015, o Diário Oficial da
União publicou e declarou, por meio da Lei nº 13.629, que Luiz Gama é o patrono
da abolição da escravidão do Brasil. Também, na mesma data, o Diário Oficial da
União publicou a Lei nº 13.628, que inscreveu o nome de Luiz Gama no Livro dos
Heróis da Pátria.
Gama é o 120º homenageado com o título concedido pela USP em toda a
sua história, dentre eles, o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, em
2000. Mais recentemente, em 2020, o catedrático do Instituto de Educação e
reitor honorário da Universidade de Lisboa, António Manuel Sampaio da Nóvoa, e
o diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial
(Embrapii), Jorge Almeida Guimarães, foram agraciados com o título.
Fonte:
https://www.geledes.org.br/usp-concede-titulo-de-doutor-honoris-causa-postumo-a-luiz-gama/.
Acesso em 01/07/2021.
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