Culto ao corpo aos atletas e a celebridades, cerimônias grandiosas de abertura e encerramento, transmissões ao vivo com milhões de telespectadores ao redor do mundo. Os Jogos Olímpicos atuais são um retrato perfeito do nosso tempo.
Mas eles são muito diferentes
dos primeiros Jogos disputados na Grécia Antiga, que tinham até um cunho
religioso, com homenagens a Zeus e outros deuses.
Como, então, as Olimpíadas
atuais se comparam às originais? Durante a edição dos Jogos em Londres, em
2012, a BBC conversou com o historiador de Grécia Antiga Paul Cartledge para
entender como eram as competições naquela época.
Os primeiros jogos aconteceram em 776 a.C. e há relatos de jogos tendo sido disputados a cada quatro anos até o ano de 393 d.C — mais de mil anos depois.
Os Jogos duravam cinco dias inteiros no século 5 a.C. Pelo menos 40 mil espectadores lotavam o estádio todos os dias no auge da popularidade dos Jogos, no século 2 d.C.
No século 19,
houve um ressurgimento na Grécia de competições chamadas olimpíadas. Em 1890, o
barão francês Pierre de Courbetin fundou o Comitê Olímpico Internacional, que
seis anos depois organizou os primeiros jogos olímpicos da era moderna, em
Atenas.
Um evento para homens nus
As antigas
Olimpíadas eram apenas para os homens, no que diz respeito a competições de
atletismo e esportes de combate.
As mulheres
sequer eram autorizadas a assistir. No entanto, algumas podiam competir nos
eventos equestres, mas só no papel de substitutas dos donos dos cavalos e das
carruagens.
A primeira
vitória feminina de que se tem registro foi a de uma princesa espartana.
Acredita-se
que uma possível razão para a exclusão das mulheres seja o fato de que os
atletas, lutadores e boxeadores tinham que competir sem roupa.
A antiga palavra grega para
"exercitar-se" significava literalmente "ser inflexível
pelado", provavelmente por motivos religiosos, já que os Jogos eram uma
festa de homenagem a Zeus.
Cavaleiros e condutores de carruagens usavam roupas nas competições, mas eles eram vistos como empregados, e não donos dos cavalos — que ficavam com os louros da vitória.
As provas que sobreviveram aos tempos e as que não existem mais
"Dos eventos de corrida
antigos, só sobreviveram (nos Jogos Olímpicos atuais) os 200 metros rasos, os
400 metros e a prova dos 5 mil metros", explica Cartledge.
A pista de corrida do século 4
a.C. ainda é visível na antiga cidade de Olímpia.
"Além deles, havia as
provas de combate. Dessas, a luta greco-romana e o boxe sobreviveram (mas em
formato diferente)."
A luta também era um dos cinco
eventos do pentatlo antigo, junto com a corrida de 200 m, o arremesso de
dardos, o arremesso de disco e o salto em altura.
"As antigas provas equestres, de
carruagem e de corrida de mula não têm equivalentes nas Olimpíadas
modernas", diz o professor.
Também havia provas em que os atletas não competiam completamente pelados: seus corpos eram cobertos com um capacete e um protetor de canela para a corrida em armadura e para eventos equestres.
O local e o propósito dos Jogos
As antigas Olimpíadas eram um
festival explicitamente religioso, dedicado à veneração da mais poderosa
divindade grega, Zeus, do Monte Olimpo, a mais alta montanha grega.
Os jogos sempre eram disputados
no mesmo lugar, num local remoto e de difícil acesso a pé no noroeste do
Peloponeso. Os competidores e espectadores vinham não apenas da Grécia, mas de
todo o mundo grego, que na época se estendia da Espanha à Geórgia.
O local dos jogos era conhecido como Olímpia, em homenagem ao título de "Olímpio" de Zeus, derivado do Monte Olimpo.
Os prêmios
A vitória já era um prêmio por
si só, em teoria. Uma guirlanda simbólica de folhas de oliva, cultivadas em
Olímpia, era a única recompensa, e destinada apenas ao campeão — não havia
medalhas de prata ou bronze.
Mas a cidade natal de um
campeão também poderia oferecer-lhe uma recompensa monetária ou o direito de
fazer refeições gratuitas no centro administrativo. O campeão também podia
encomendar versos a um poeta local para imortalizar a sua fama, ou pedir a um
artista para esculpir uma escultura sua em bronze ou mármore — a qual seria
dedicada a um deus.
Os vencedores também ganhavam em prestígio. No fim do século 4 a.C., o lutador Milo, originário do que hoje é o sul da Itália, era considerado o Usain Bolt de sua época: não só foi seis vezes campeão olímpico, como também ficou conhecido por seus dotes em carregar touros e em consumir carne.
Um evento internacional
A princípio e por muitos
séculos, o evento permitia apenas a adesão de gregos, ou pan-helênicos. Na
época, os "bárbaros" (não-gregos) não podiam participar.
Mas quando Roma conquistou a
Grécia, no século 2 a.C., os romanos rejeitaram o título de bárbaros e exigiram
o status de grego para que pudessem competir - algo que conseguiram.
Os Jogos, assim, continuaram a
acontecer a cada quatro anos, até 393 d.C., quando foram banidos por um
imperador romano cristão, Teodósio I, que alegava que a competição era
politeísta e pagã.
Outro imperador romano que
colocou à prova o espírito olímpico era Nero, morto em 68 d.C. Com ameaças e
subornos, ele exigiu que o comitê pan-helênico adiasse a data das Olimpíadas
por dois anos, para que o imperador pudesse combinar sua aparição na competição
com seu tour imperial, em 67 d.C.
Ele caiu de sua carruagem de 16 cavalos, mas mesmo assim foi premiado com a guirlanda de oliva, dando mostras de seu poder imperial na época.
Outros fatos
O site oficial das Olimpíadas
também lista outras curiosidades sobre os Jogos Olímpicos da Antiguidade:
·
Competidores
de pancrácio (uma espécie de arte marcial mista que combinava boxe e luta
livre) lutavam cobertos de óleo
·
Havia
apenas duas regras no pancrácio: não morder e não apertar os olhos do
adversário
·
Falsas
largadas eram punidas com violência
·
Boxeadores
deveriam evitar atacar os órgãos genitais masculinos expostos
·
No boxe,
não havia pontos, limite de tempo ou classificações por peso
·
Lutadores
tinham que indicar sua rendição levantando o dedo indicador, mas às vezes,
morriam antes de conseguir se render.
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