"Você nunca pode se
preparar totalmente para algo assim", disse o chefe Jason Louie da tribo
Lower Kootenay, que integra a Nação Ktunaxa.
Líderes indígenas disseram que
esperam que mais sepulturas sejam encontradas à medida que as investigações
avancem.
Muitos povos indígenas no Canadá nunca
reconheceram a data, sentimento que cresceu nas últimas semanas, à medida que
mais e mais túmulos foram encontrados.
Municípios em todo o país cancelaram as celebrações, e estátuas foram vandalizadas ou removidas.
Como os corpos foram encontrados?
A comunidade de ʔaq'am, uma das quatro tribos da Nação Ktunaxa,
usou aparelhos que emitem ondas eletromagnéticas para descobrir os túmulos
perto da antiga Escola Missionária de St. Eugene
A nação indígena disse que é
cedo para dizer se os restos mortais pertencem a ex-alunos. Alguns restos
mortais foram encontrados em covas rasas, disse a Lower Kootenay em um
comunicado.
A St. Eugene's foi operada pela
Igreja Católica de 1912 até o início dos anos 1970. Até cem membros da Lower
Kootenay foram forçados a estudar lá, disse a tribo.
Mas os restos mortais foram
encontrados no cemitério de ʔaq̓am, que data de 1865. Os cemitérios
costumavam ser marcados com cruzes de madeira que se desintegraram ou foram
removidas ao longo dos anos.
"Esses fatores, entre
outros, tornam extremamente difícil estabelecer se essas sepulturas não
marcadas contêm ou não os restos mortais de crianças que frequentaram a
escola", disse a comunidade.
O que são essas escolas
A St. Eugene's foi um dos mais de 130
internatos financiados pelo governo canadense e administrados por autoridades
religiosas durante os séculos 19 e 20 com o objetivo de assimilar os jovens
indígenas. A Igreja Católica foi responsável por até 70% deles.
Quando a matrícula nestas
instituições se tornou obrigatória na década de 1920, os pais enfrentaram a
ameaça de prisão se não cumprissem a ordem.
Entre 1863 e 1998, mais de 150
mil crianças indígenas foram tiradas de suas famílias e colocadas nessas
escolas. Elas muitas vezes não tinham permissão para falar sua língua ou
praticar sua cultura.
Estima-se que 6 mil morreram
enquanto frequentavam essas escolas — até agora, mais de 4,1 mil crianças foram
identificadas —, em grande parte devido às péssimas condições de salubridade .
Os alunos muitas vezes eram
alojados em instalações mal construídas, mal aquecidas e pouco higiênicas. Em
1945, a taxa de mortalidade de crianças nos internatos era quase cinco vezes
maior do que a de outras crianças canadenses. Na década de 1960, a taxa ainda
era o dobro.
Abusos físicos e sexuais cometidos por autoridades escolares levaram outras pessoas a fugir. "Eles nos fizeram acreditar que não tínhamos alma", disse a ex-estudante em uma entrevista coletiva. "Eles estavam nos rebaixando como pessoas, então, aprendemos a não gostar de quem éramos."
Política foi considerada genocídio cultural
Essas notícias chega em meio a um longo
processo de reexame da consciência nacional sobre o legado destas escolas do
Canadá. As descobertas incitaram a ira de muitos, e memoriais improvisados
foram criados em todo o país.
"A indignação e a surpresa
do público em geral são bem-vindas, sem dúvida", disse o chefe da
Assembleia das Primeiras Nações, Perry Bellegarde. "Mas isso não é
surpreendente. Os sobreviventes vêm dizendo isso há anos e anos, mas ninguém
acreditava neles."
Na quarta-feira (30/7), o
primeiro-ministro Justin Trudeau disse que as descobertas de túmulos "nos
obrigaram a refletir sobre as injustiças históricas e contínuas que os povos
indígenas enfrentam".
O Centro Nacional para Verdade
e Reconciliação, criado por meio de um acordo entre o governo e as nações
indígenas, descobriu que um grande número de crianças nunca voltou para suas
comunidades. O relatório da comissão, publicado em 2015, disse que a prática
equivale a um genocídio cultural.
O documento de 4 mil páginas
detalhou falhas abrangentes no cuidado e segurança das crianças e a
cumplicidade por parte da igreja e do governo. As péssimas condições das
escolas, disse o relatório, foram em grande parte por causa da decisão do
governo do Canadá de cortar custos.
Em 2008, o governo canadense se desculpou formalmente pelo sistema. A Igreja Católica ainda não emitiu um pedido formal de desculpas.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57687334. Acesso em 01/07/2021.
0 Comentários