Temas da redação
Foram três versões do Enem 2020. Os temas foram os seguintes:
- Enem impresso (1ª aplicação): “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”
- Enem impresso (reaplicação e PPL): "A
falta de empatia nas relações sociais no Brasil"
- Enem digital: "O desafio de reduzir as
desigualdades entre as regiões do Brasil"
Confira, abaixo, algumas das redações que tiraram nota 1000 no Enem 2020 sobre “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Em seguida, a transcrição do texto completo.
Redação nota 1.000 de Isabella Gadelha, PA
"Nise da Silveira foi uma renomada psiquiatra
brasileira que, indo contra a comunidade médica tradicional da sua época, lutou
a favor de um tratamento humanizado para pessoas com transtornos psicológicos.
No contexto nacional atual, indivíduos com patologias mentais ainda sofrem com
diversos estigmas criados. Isso ocorre, pois faltam informações corretas sobre
o assunto e, também, existe uma carência de representatividade desse grupo nas
mídias.
Primariamente, vale ressaltar que a ignorância é
uma das principais causas da criação de preconceitos contra portadores de
doenças psiquiátricas. Sob essa ótica, o pintor holandês Vincent Van Gogh foi
alvo de agressões físicas e psicológicas por sofrer de transtornos neurológicos
e não possuir o tratamento adequado. O ocorrido com o artista pode ser
presenciado no corpo social brasileiro, visto que, apesar de uma parcela
significativa da população lidar com alguma patologia mental, ainda são
propagadas informações incorretas sobre o tema. Esse processo fortalece a ideia
de que integrantes não são capazes de conviver em sociedade, reforçando
estigmas antigos e criando novos. Dessa forma, a ignorância contribui para a
estigmatização desses indivíduos e prejudica o coletivo.
Ademais, a carência de representatividade nos veículos
midiáticos fomenta o preconceito contra pessoas com distúrbios psicológicos.
Nesse sentido, a série de televisão da emissora HBO, "Euphoria",
mostra as dificuldades de conviver com Transtorno Afetivo Bipolar (TAB),
ilustrado pela protagonista Rue, que possui a doença. A série é um exemplo de
representação desse grupo, nas artes, falando sobre a doença de maneira
responsável. Contudo, ainda é pouca a representatividade desses indivíduos em
livros, filmes e séries, que quando possuem um papel, muitas vezes, são
personagens secundários e não há um aprofundamento de sua história. Desse modo,
esse processo agrava os esteriótipos contra essas pessoas e afeta sua
autoestima, pois eles não se sentem representados.
Portanto, faz-se imprescindível que a mídia - instrumento de ampla abrangência - informe a sociedade a respeito dessas doenças e sobre como conviver com pessoas portadoras, por meio de comerciais periódicos nas redes sociais e debates televisivos, a fim de formar cidadãos informados. Paralelamente, o Estado - principal promotor da harmonia social - deve promover a representatividade de pessoas com transtornos mentais nas artes, por intermédio de incentivos monetários para produzir obras sobre o tema, com o fato de amenizar o problema. Assim, o corpo civil será mais educado e os estigmas contra indivíduos com patologias mentais não serão uma realidade do Brasil."
Redação nota 1.000 de Julia Vieira, MA
"No filme estadunidense “Coringa”, o
personagem principal, Arthur Fleck, sofre de um transtorno mental que o faz ter
episódios de riso exagerado e descontrolado em público, motivo pelo qual é
frequentemente atacado nas ruas. Em consonância com a realidade de Arthur, está
a de muitos cidadãos, já que o estigma associado às doenças mentais na
sociedade brasileira ainda configura um desafio a ser sanado. Isso ocorre, seja
pela negligência governamental nesse âmbito, seja pela discriminação desta
classe por parcela da população verde-amarela. Dessa maneira, é imperioso que
essa chaga social seja resolvida, a fim de que o longa norte-americano não mais
reflita o contexto atual da nação.
Nessa perspectiva, acerca da lógica referente aos
transtornos da mente, é válido retomar o aspecto supracitado quanto à omissão
estatal neste caso. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é o
país que apresenta o maior número de casos de depressão da América Latina e,
mesmo diante desse cenário alarmante, os tratamentos às doenças mentais, quando
oferecidos, não são, na maioria das vezes, eficazes. Isso acontece pela falta
de investimento público em centros especializados no cuidado para com essas
condições. Consequentemente, muitos portadores, sobretudo aqueles de menor
renda, não são devidamente tratados, contribuindo para sua progressiva
marginalização perante o corpo social. Este quadro de inoperância das esferas
de poder exemplifica a teoria das Instituições Zumbis, do sociólogo Zygmunt
Bauman, que as descreve como presentes na sociedade, mas que não cumprem seu
papel com eficácia. Desse modo, é imprescindível que, para a refutação da
teoria do estudioso polonês, essa problemática seja revertida.
Paralelamente ao descaso das esferas governamentais
nessa questão, é fundamental o debate acerca da aversão de parte dos civis ao
grupo em pauta, uma vez que ambos são impasses para sua completa socialização.
Esse preconceito se dá pelos errôneos ideais de felicidade disseminados na
sociedade como metas universais. Entretanto, essas concepções segregam os
indivíduos entre os “fortes” e os “fracos”, em que tais fracos, geralmente,
integram a classe em discussão, dado que não atingem essas metas estabelecidas,
como a estabilidade emocional. Por conseguinte, aqueles que não alcançam os
objetivos são estigmatizados e excluídos do tecido social. Tal conjuntura
segregacionista - os que possuem algum tipo de transtorno, nesse caso -- na
teia social. Dessa maneira, essa problemática urge ser solucionada para que o
princípio da alemã seja validado no país tupiniquim.
Portanto, são essenciais medidas operantes para a reversão do estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira. Para isso, compete ao Ministério da Saúde investir na melhora da qualidade dos tratamentos a essas doenças nos centros públicos especializados de cuidados, destinando mais medicamentos e contratando, por concursos, mais profissionais da área, como psiquiatras e enfermeiros. Isso deve ser feito por meio de recursos autorizados pelo Tribunal de Contas da União - órgão que opera feitos públicos - com o fito de potencializar o atendimento a esses pacientes e oferecê-los um tratamento eficaz. Ademais, palestras devem ser realizadas em espaços públicos sobre os malefícios das falsas concepções de prazer e da importância do acolhimento dos vulneráveis. Assim, os ideais inalcançáveis não mais serão instrumentos segregadores e, finalmente, a cotação de Fleck não mais representará a dos brasileiros."
Redação nota 1.000 de Raíssa Piccoli Fontoura, MS
"De acordo com o filósofo Platão, a associação
entre saúde física e mental seria imprescindível para a manutenção da
integridade humana. Nesse contexto, elucida-se a necessidade de maior atenção
ao aspecto psicológico, o qual, além de estar suscetível a doenças, também é
alvo de estigmatização na sociedade brasileira. Tal discriminação é configurada
a partir da carência informacional concatenada à idealização da vida nas redes
sociais, o que gera a falta de suporte aos necessitados. Isso mostra que esse
revés deve ser solucionado urgentemente.
Sob essa análise, é necessário salientar que
fatores relevantes são combinados na estruturação dessa problemática. Dentre
eles, destaca-se a ausência de informações precisas e contundentes a respeito
das doenças mentais, as quais, muitas vezes, são tratadas com descaso e
desrespeito. Essa falta de subsídio informacional é grave, visto que impede que
uma grande parcela da população brasileira conheça a seriedade das patologias
psicológicas, sendo capaz de comprometer a realização de tratamentos adequados,
a redução do sofrimento do paciente e a sua capacidade de recuperação. Somada a
isso, a veiculação virtual de uma vida idealizada também contribui para a
construção dessa caótica conjuntura, pois é responsável pela crença equivocada
de que a existência humana pode ser feita, isto é, livre de obstáculos e
transtornos. Esse entendimento falho da realidade fez com que os indivíduos que
não se encaixem nos padrões difundidos, em especial no que concerne à saúde
mental, sejam vítimas de preconceito e exclusão. Evidencia-se, então, que a
carência de conhecimento associado à irrealidade digitalmente disseminada
arquitetam esse lastimável panorama.
Consequentemente, tais motivadores geram
incontestáveis e sérios efeitos na vida dos indivíduos que sofrem de algum
gênero de doença mental. Tendo isso em vista, o acolhimento insuficiente e a
falta de tratamento são preocupantes, uma vez que os acometidos precisam de
compreensão, respeito e apoio para disporem de mais energia e motivação no
enfrentamento dessa situação, além de acompanhamento médico e psicológico
também ser essencial para que a pessoa entenda seus sentimentos e organize suas
estruturas psicológicas de uma forma mais salutar e emancipadora. O filme “Toc
toc” retrata precisamente o processo de cura de um grupo de amigos que são
diagnosticados com transtornos de ordem psicológica, revelando que o carinho
fraternal e o entendimento mútuo são ferramentas fundamentais no
desenvolvimento integral da saúde. Mostra-se, assim, que a estigmatização de
doentes mentais produz a escassez de elementos primordiais para que eles possam
ser tratados e curados.
Urge, portanto, que o Ministério da Saúde crie uma plataforma, por meio de recursos digitais, que contenha informações a respeito das doenças mentais e que proponha comportamentos e atitudes adequadas a serem adotados durante uma interação com uma pessoa que esteja com alguma patologia do gênero, além de divulgar os sinais mais frequentes relacionados à ausência de saúde psicológica. Essa medida promoverá uma maior rede informacional e propiciará um maior apoio aos necessitados. Ademais, também cabe à sociedade e a mídia elaborar campanhas que preguem a contrariedade ao preconceito no que tange os doentes dessa natureza, o que pode ser efetivado através de mobilizações em redes sociais e por intermédio de programas televisivos com viés informativo. Tal iniciativa é capaz de engajar a população brasileira no combate a esse tipo de discriminação. Com isso, a ideia platônica será convertida em realidade no Brasil."
Redação nota 1.000 de Aécio Fernandes, RN
Manoel de Barros, grande poeta pós-modernista,
desenvolveu em suas obras uma “teologia do traste”, cuja principal
característica reside em dar valor às situações frequentemente esquecidas ou
ignoradas. Segundo a lógica barrosiana, faz-se preciso, portanto, valorizar também
a problemática das doenças mentais no Brasil, ainda que elas sejam
estigmatizadas por parte da sociedade. Nesse sentido, a fim de mitigar os males
relativos a essa temática, é importante analisar a negligência estatal e a
educação brasileira.
Primordialmente, é necessário destacar a forma como
parte do Estado costuma lidar com a saúde mental no Brasil. Isso porque, como
afirmou Gilberto Dimenstein, em sua obra “Cidadão de Papel”, a legislação
brasileira é ineficaz, visto que, embora aparente ser completa na teoria,
muitas vezes, não se concretiza na prática. Prova disso é a escassez de
políticas públicas satisfatórias voltadas para a aplicação do artigo 6 da
“Constituição Cidadã”, que garante, entre tantos direitos, a saúde. Isso é
perceptível seja pela pequena campanha de conscientização acerca da necessidade
a saúde mental, seja pelo pouco espaço destinado ao tratamento das doenças
mentais nos hospitais. Assim, infere-se que nem mesmo o princípio jurídico foi
capaz de garantir o combate ao estigma relativo a doenças psíquicas.
Outrossim, é igualmente preciso apontar a educação,
nos moldes predominantes no Brasil, como outro fator que contribui para a
manutenção do preconceito contra as doenças psiquiátricas. Para entender tal
apontamento, é justo relembrar a obra "Pedagogia da Autonomia", do
patrono da educação brasileira, Paulo Freire, na medida em que ela destaca a
importância das escolas em fomentar não só o conhecimento técnico-científico,
mas também habilidades socioemocionais, como respeito e empatia. Sob essa
ótica, pode-se afirmar que a maioria das instituições de ensino brasileiras,
uma vez que são conteudistas, não contribuem no combate ao estigma relativo às
doenças mentais e, portanto, não formam indivíduos da forma como Freire
idealiza.
Frente a tal problemática, faz-se urgente, pois, que o Ministério Público, cujo dever, de acordo com o artigo 127 da "Constituição Cidadã", é garantir a ordem jurídica e a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis, cobre do Estado ações concretas a fim de combater o preconceito às doenças mentais. Entre essas ações, deve-se incluir parcerias com as plataformas midiáticas, nas quais propagandas de apelo emocional, mediante depoimentos de pessoas que sofrem esse estigma, deverão conscientizar a população acerca da importância do respeito e da saúde mental. Ademais, é preciso haver mudanças escolares, baseadas no fomento à empatia, por meio de debates sobre temas socioemocionais.
Redação nota 1.000 de Adrielly Clara Enriques Dias, MG
No filme estadunidense "Joker", estrelado
por Joaquin Phoenix, é retratado a vida de Arthur Fleck, um homem que, em
virtude de sua doença mental, é esquecido e discriminado pela sociedade,
acarretando, inclusive, piora no seu quadro clínico. Assim como na obra
cinematográfica abordada, observa-se que, na conjuntura brasileira
contemporânea, devido a conceitos preconceituosos perpetuados ao longo da
história humana, há um estigma relacionado aos transtornos mentais, uma vez que
os indivíduos que sofrem dessas condições são marginalizados. Ademais, é
precisa salientar, ainda, que a sociedade atual carece de informações a
respeito de tal assunto, o que gera um estranhamento em torno da questão.
Em primeiro lugar, faz-se necessário mencionar o
período da Idade Média, na Europa, em que os doentes mentais eram vistos como
seres demoníacos, já que, naquela época, não havia estudos acerca dessa
temática e, consequentemente, ideias absurdas eram disseminadas como verdades.
É perceptível, então, que exista uma raiz histórica para o estigma atual
vivenciado por pessoas que têm transtornos mentais, ocasionando um intenso
preconceito e exclusão. Outrossim, não se pode esquecer que, graças aos fatos
supracitados, tais indivíduos recebem rótulos mentirosos como, por exemplo, o
estereótipo de que todos que possuem problema psicológicos são incapazes de
manter relacionamentos saudáveis, ou seja, não conseguem interagir com outros
seres humanos de forma plena. Fica claro, que as doenças mentais são tratadas
de forma equivocada, ferindo a dignidade de toda a população.
Em segundo lugar, ressalta-se que há, no Brasil,
uma evidente falta de informações sobre os transtornos mentais, fomentando
grande preconceito estranhamento com essas doenças. Nesse sentido, é lícito
referenciar o filósofo grego Platão, que em sua obra "A República",
narrou o intitulado "Mito da Caverna", no qual homens, acorrentados
em uma caverna, viam somente sombras na parede, acreditando, portanto, que
aquilo era a realidade das coisas. Dessa forma, é notório, que, em em situação
análoga à metáfora abordada, os brasileiros, sem acesso aos conhecimentos
acerca dos transtornos mentais, vivem na escuridão, isto é, ignorância
disseminando atitudes preconceituosas. Logo, é evidente a grande importância
das informações, haja vista que a falta delas aumenta o estigma relaciado às
doenças mentais, prejudicando a qualidade de vida das pessoas que sofrem com
tais transtornos.
Destarte, medidas são necessárias para resolver os problemas discutidos. Isto posto, cabe à escola, forte ferramenta de formação de opinião, realizar rodas de conversa com os alunos sobre a problemática do preconceito com os transtornos mentais, além de trazer informações científicas sobre tal questão. Esse ação pode se concretizar por meio da atuação de psiquiatras e professores de soicologia, estes irão desconstruir a visão discriminatória dos estudantes, enquanto que aqueles irão mostrar dados/informações relevantes sobre as doenças psiquiátricas. Espera-se, com essa medida, que o estigma associado às doenças mentais seja paulatinamente erradicado.
Redação nota 1.000 de Aline Soares Alves, PB
O filme O Coringa retrata a história de um homem
que possui uma doença mental e, por não possuir atendimento psiquiátrico
adequado, ocorre o agravamento do seu quadro clínico. Com essa abordagem, a
obra revela a importância da saúde psicológica para um bom convívio social.
Hodiernamente, fora da ficção, muitos brasileiros enfrentam situação
semelhante, o que colabora para a piora da saúde populacional e para a
persistência do estigma relacionado à doença psicológica. Dessa forma, por
causa da negligência estatal, além da desinformação populacional, essas
consequências se agravam na sociedade brasileira.
Em primeiro lugar, a negligência do Estado, a
escassez de projetos estatais que visem a assistência psiquiátrica na sociedade
contribui para a precariedade desse setor e para a continuidade desse estigma
envolvendo essa temática. Dessa maneira, parte da população deixa de possuir
tratamento adequado, o que resulta na piora de sua saúde mental e na sua
exclusão social. No entanto, apesar da Constituição Federal de 1988 determinar
como direito fundamental do cidadão brasileiro e acesso à saúde de qualidade,
essa lei não é concretizada, pois não há investimentos estatais suficientes
nessa área. Diante dos fatos apresentados, é imprescindível uma ação do Estado
para mudar sua realidade.
Nota-se, outrossim, que a desinformação na
sociedade é outra problemática em relação ao estigma dos distúrbios mentais.
Nesse aspecto, devido à escassez de divulgação de informações nas redes sociais
sobre a importância da identificação e do tratamento das doenças psicológicas,
há a relativização desses quadros clínicos na sociedade. Desse modo, como é
retratado no filme "O Lado Bom da Vida", o qual mostra a dificuldade
de inclusão de pessoas com doenças mentais na sociedade, parte da população
brasileira enfrenta esse desafio. Com efeito, essa parcela da sociedade fica à
margem do convívio social, tendo em vista a prevalência do desrespeito e do
preconceito na população. Nesse cenário, faz-se necessária uma mudança de
postura das redes midiáticas.
Portanto, vistos os desafios que contribuem para o estigma associado aos transtornos mentais, é mister uma atuação governamental para combatê-los. Diante disso, o Ministério de Saúde deve intensificar a criação de atendimentos psiquiátricos públicos, com o objetivo de melhorar a saúde mental da população e garantir o seu direito. Para tal, é necessário um direcionamento de verbas para a contratação dos profissionais responsáveis pelo projeto, a fim de proporcionar uma assistência de qualidade para a sociedade. Além disso, o Ministério das Comunicações deve divulgar informações nas redes midiáticas sobre a importância do respeito às pessoas com doenças psicológicas e da identificação precoce desses quadros. Mediante a essas ações concretas, a realidade do filme O Coringa tão somente figurará nas telas dos cinemas.
Redação nota 1.000 de Nathaly Nobre, AL
A obra cinematográfica brasileira “Nise: O Coração
da Loucura” retrata a luta de Nise da Silveira pela redução dos estigmas nas
alas psiquiátricas e nas formas de tratamento enfrentadas por pacientes com
enfermidades mentais, na medida em que desumanizavam estes. Nesse contexto, é
evidente a perpetuação do preconceito em relação às doenças psíquicas, pois
são, em sua maioria, menosprezadas e omitidas no cenário moderno do Brasil.
Assim, faz-se necessário investir em educação voltada à questão da saúde
mental, bem como romper com paradigmas da forma de vida contemporânea.
A princípio, sob a óptica do filósofo grego
Aristóteles, a educação é um caminho fundamental para a formação da vida
pública, à proporção que coopera para o bem-estar da cidade. Diante dessa
perspectiva, a manutenção da estrutura deficitária da propagação de conteúdo de
saúde mental, na sociedade brasileira, agrava o desenvolvimento de doenças
psíquicas, visto que retira do cidadão o acesso ao conhecimento. Portanto, a
não ministração de aulas e de eventos os quais abordem sobre essa temática
promove, lamentavelmente, a disseminação de tabus falaciosos e a redução da
busca por tratamento adequado - ao passo que o crescimento das enfermidades é
avassalador.
Além disso, o modo de vida extremamente exaustivo
atual é catalisador da problemática, uma vez que nega o cultivo das práticas do
autocuidado em prol do máximo rendimento. De maneira análoga, de acordo com
Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano, em seu ensaio “Sociedade do cansaço”,
vive-se a insana procura do ser humano pela alta produtividade em quaisquer
meios, mesmo que retire dele os prazeres e a sanidade física e mental.
Destarte, há a banalização do aspecto psíquico, porquanto é visto como
desnecessário na vivência hodierna e, por conseguinte, a ansiedade e a
depressão são absurdamente neutralizadas em razão das poucas políticas públicas
incentivadoras e conscientizadoras.
Logo, cabe ao Ministério da Educação o investimento em aulas específicas sobre a saúde mental, por meio de Planos Nacionais da Educação e de eventos tanto escolares quanto ao grande público, haja vista a importância do máximo alcance possível, com a ministração de psicólogos e psiquiatras, a fim de garantir a visão aristotélica e de romper com os tabus preconceituosos. Ademais, o Estado deve promover políticas públicas de incentivo ao autocuidado, a exemplo de espaços destinados ao convívio humano e ao bem-estar, com o fito de quebrar com os paradigmas vivenciados por Nise da Silveira.
Fonte: https://g1.globo.com/educacao/enem/2021/noticia/2021/05/28/enem-leia-redacoes-nota-mil-em-2020.ghtml. Acesso em 30/07/2021.
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