Depois
de seis tentativas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o jovem Matheus de
Araújo Moreira Silva, 25 anos, foi aprovado no curso de Medicina da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). O resultado oficial, que
saiu no último dia 21, foi a coroação por um esforço que incluiu estudar em uma
casa sem energia elétrica e sem internet.
Matheus, que é morador da comunidade quilombola de
Salgado, que fica no município de Antônio Cardoso, a 147 km de Salvador,
estudava na biblioteca municipal, que fechou por conta da pandemia. Sem
condições para bancar um cursinho privado, ele tentou estudar na sede da
associação de moradores, mas os bares ao redor atrapalhavam a concentração.
“Tentei estudar em casa também, mas tenho quatro irmãos, um deles especial, e
não deu. Então, pensei em parar porque eu estou com 25 anos e já se foram
quatro ou cinco anos estudando sem passar. Falei isso para uma amiga e ela
ofereceu a casinha”, lembrou.
Para driblar a falta de estrutura, ele fez um pacote
de internet com a operadora de celular e usava a lanterna do aparelho quando
escurecia. “Como o vídeo gasta muito do pacote de dados móveis, eu usava
arquivo PDF e estudava por aí”, disse. E o calor? Esse não tinha jeito a dar.
Mas, como Matheus é daqueles que faz do limão uma limonada, ele aproveitou as
dificuldades para se preparar para o dia da prova. Além de aguentar o calor,
ele usou máscara durante os estudos para simular o cenário que enfrentaria. “Eu
estudava das 11h às 18h, que é o horário de prova do Enem, e usava a máscara
para me acostumar com a respiração que é diferente”, disse.
O treino deu resultado. Ele não só foi bem na prova,
como alcançou 980 pontos na redação. A nota lhe garantiu disputar a vaga para o
tão sonhado curso de Medicina na Universidade Federal da Bahia. Infelizmente,
ele ficou em segundo lugar para a única vaga destinada a estudantes de
comunidade quilombola. Tentou então a UFRB e o resto da história você já
sabe.
“Quando eu vi o resultado passou um filme na minha
cabeça, lembrei de tudo, desde 2013, tudo que eu abdiquei, valeu muito a pena.
Foi um sentimento de gratidão a Deus”, celebrou o jovem.
Vale
destacar que além de esforçado, Matheus teve o destino a seu favor. A
comunidade de Salgado foi certificada como quilombola em janeiro deste
ano. O pedido foi feito em 2017. “Tudo parece que ajudou, porque esse pedido
tem tanto tempo e, justo agora, eles certificaram. Foi muito bom pra mim”,
comemorou.
Vaquinha
As aulas de Medicina começaram nesta segunda-feira (28) pela internet. Mas, Matheus já se prepara para morar em Santo Antônio de Jesus, onde está localizado o polo da sua nova faculdade.
Para ajudar nas despesas iniciais, ele abriu uma
vaquinha virtual para conseguir doações. “O objetivo é conseguir um valor que
dê pra me manter no primeiro ano, porque depois vou receber o auxílio da
faculdade. A minha meta é conseguir R$ 15 mil”, contou.
Quem quiser, pode fazer uma doação através do PIX, o
dado dele para a transação é o telefone (75) 98245-3570.
Estudante de escola pública e filho de uma dona de
casa e um pedreiro, Matheus é a segunda pessoa na família a cursar uma
universidade. O irmão mais novo se forma no próximo mês em Psicologia. Matheus
também já tinha passado em 2015 para o curso de Enfermagem, mas trancou em
2017 para tentar Medicina.
Fonte: https://revistaraca.com.br/depois-de-estudar-em-casa-sem-luz-e-internet-estudante-baiano-passa-em-medicina-na-ufrb/.
Acesso em 05/07/2021.
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