De acordo com Eny Kleyde Farias, pesquisadora e autora do livro “Maria Felipa de Oliveira: heroína da independência da Bahia”, lançado em 2010, “ As mulheres seduziam os portugueses, levavam pra uma praia, faziam com que eles bebessem, os despiam e davam uma surra de cansanção”. Para quem nunca ouviu falar de cansanção, é uma planta, tradicional aqui da região, também conhecida como urtiga brava, que em contato com a pele, coça, arde. É muito comum aqui na Bahia, falarmos: “vou te dar uma surra de cansanção”.
Na educação básica conheci o nome e um pouco da história de Joana Angélica e Maria Quitéria, inclusive aqui na Bahia, temos rua e monumento em homenagem as elas. Mas nunca ouvir falar de Maria Felipa. Este nome e esta história só chegou aos meus ouvidos através do enfretamento, da luta do movimento negro contra as diversas formas de opressão, inclusive o epistemicídio imposto a população Preta, dentro e fora da academia, do sistema educacional, através da desvalorização, negação e ocultação da importância da diáspora africana, seus saberes, sua cultura e sua imensa contribuição na construção da história, da riqueza e de todo patrimônio monetário e cultural que a Bahia e o Brasil possuem.
Para além das inúmeras mulheres que lutaram ao longo da nossa história e as que ainda lutam anonimamente em seus territórios, em suas comunidades, a cada dia testificamos, que o apagamento do protagonismo das mulheres, sobretudo das mulheres pretas, nos fatos históricos, na ciência, na educação, nas artes e na literatura, tanto aqui no Brasil, quanto no mundo, é uma prática recorrente, e assim ocorreu com as personas femininas que fizeram história na luta pela independência da Bahia.
Possivelmente, o nome de Maria Felipa passava de boca em boca no território da Ilha de Itaparica, local onde ela atuou como guerreira na luta pela independência da Bahia, mas sua atuação e a de todas as mulheres que se juntaram a ela em um ato de coragem e bravura deve estar registrado nos nossos de livros de história.
Falar em Maria Felipa é falar da lei 10.630/03 e 11.645/08 que estabelecem a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e indígena, mas que na prática não evidenciamos na vida educacional de nossas crianças.
Após este grande feito, Maria Felipa, continuou sua liderança “comunitária” entre os marginalizados à época, da mesma forma como hoje em diversas comunidades temos mulheres, mães, avós encabeçando a luta contra o genocídio da população brasileira, o extermínio do povo Preto e as diversas formas de discriminação e opressão contra os grupos historicamente subalternizados.
Fonte:
https://www.geledes.org.br/as-marias-felipas-de-hoje/.
Acesso em 15/07/2021
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