Os primeiros passos - na garupa do irmão
A história de
Rebeca Andrade é parecida com a de muitos brasileiros. Ela vem de uma família
humilde da periferia de Guarulhos. Com o emprego de doméstica, Dona Rosa
sustentava os oito filhos em uma casa de um cômodo onde todos dormiam, e
banheiro do lado de fora - graças à ginástica de Rebeca, a família vive em uma
casa mais confortável hoje. Por incentivo de uma tia, Rebeca entrou na
ginástica aos quatro anos, em um projeto da Secretaria de Esportes de
Guarulhos, no ginásio Bonifácio Cardoso, na Vila Tijuco. Era o irmão mais velho
que levava
- Era muito
difícil. Minha mãe não tinha dinheiro e eu faltava mais aos treinos do que ia.
Ela ficava cansada de ir a pé e voltar do trabalho quando me dava o dinheiro
para a passagem. Meu irmão então comprou uma bicicleta e me levava, mas às
vezes ela quebrava. Ela pedia dinheiro emprestado para que não faltasse comida.
E como não sobrava, não podíamos comprar outras coisas. Roupa eu ganhava das
pessoas que me conheciam e doavam - contou Rebeca ao ge quando ainda era uma
ginasta juvenil.
Da casa da mãe até o Flamengo
Por vezes, Dona Rosa não conseguia garantir que Rebeca fosse ao
treino. A técnica Keli Kitaura, então, fez a proposta de ficar com a menina em
casa nos fins de semana. Era um jeito de garantir que aquele potencial enorme
não fosse desperdiçado. Aos 9 anos, Rebeca recebeu outro convite da treinadora:
deixar de vez o lar de sua família para acompanhá-la em Curitiba, um importante
centro da ginástica artística brasileira.
Dona Rosa deixou a filha seguir seu sonho no esporte. Nos dias
ruins, Rebeca ligava chorando para a mãe pedindo para voltar para casa, não
estava conseguindo fazer os difíceis movimentos que os técnicos pediam. Rosa
acalmava a filha, que persistia na ginástica de alto rendimento. Ela foi
contratada pelo Flamengo e, junto com Keli, se mudou para o Rio de Janeiro.
Quase desistiu após lesão
Rebeca desenvolveu bem sua ginástica e logo foi apontada como uma
promessa. Só que as lesões começaram a minar seu potencial ainda na base. Ela
estava classificada para as Olimpíadas da Juventude de Nanquim, em 2014, mas
teve de passar por uma cirurgia no pé. Viu de casa a amiga Flávia Saraiva lhe
substituir e conquistar três medalhas na China.
Rebeca não demorou a recuperar a forma e entrar com tudo no seu
primeiro ano na categoria adulta. Pouco antes do que seria sua primeira grande
competição, o Pan de 2015, acabou rompendo o ligamento cruzado anterior do joelho
direito ao aterrissar ainda girando em um salto durante um treino. A cirurgia
era inevitável, e oito meses de uma recuperação dura. Rebeca temeu não se
recuperar mais, ganhou peso e por vezes perdeu a motivação. Voltou a ligar para
a mãe e falar que iria desistir. Dona Rosa deu uma bronca, não deixou a filha
abandonar a ginástica sem tentar.
De Beyoncé ao Baile de Favela
O primeiro solo que viralizou de Rebeca foi o da Rio 2016, com uma
trilha de músicas de Beyoncé. A ginasta é fã da cantora americana e adora
cantar suas músicas.
- A Beyoncé correu atrás dos sonhos dela sem passar por cima de
ninguém. É uma pessoa humilde e isso a fez ainda mais especial. Ela serve de
espelho para mim. É uma das seis pessoas mais admiradas por todo mundo. Eu
adorei poder tê-la na minha série.
Fonte:
https://ge.globo.com/olimpiadas/noticia/a-trajetoria-de-rebeca-andrade-da-periferia-de-guarulhos-a-prata-nas-olimpiadas.ghtml.
Acesso em 29/07/2021
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