Num momento, o instrutor de surfe Matheus Nunes Ribeiro provou que não era ladrão. Convenceu-os de que era dono da peça e filmou o final da cena. O rapaz pediu desculpas três vezes, recebeu inúmeros palavrões e foi-se embora. Era um otário, pois, se estivesse confrontando um ladrão, poderia ter entrado numa fria. Mesmo no Leblon e, com muita probabilidade, num bairro da periferia, o negro poderia ter passado por maus momentos.
A calma do miliciano avulso e a prontidão com que se desculpou indicam que é um racista com tintas de boa educação. Identificado pelo vÃdeo, deveria botar a cara na vitrine, pedindo desculpas públicas. Não vale dizer que toma remédios tarja preta, como tem acontecido em casos similares.
Assim é o racismo de Pindorama. Sempre que o geógrafo Milton Santos entrava na primeira classe em voos internacionais de empresas brasileiras, a tripulação falava com ele em inglês. O miliciano avulso do Leblon e as pessoas capazes de pensar que um negro numa bicicleta elétrica é um ladrão devem ser lembrados de dois episódios ocorridos com uma famÃlia de negros americanos de Chicago.
Episódio 1: Craig Robinson, de 11 anos, passeava na sua bicicleta e foi parado por um policial (negro). Para provar que a bicicleta é sua, leva-o para casa. Lá encontram dona Marion, a mãe do garoto e mulher de um zelador. Desfeito o engano, ela virou o jogo. Passou um sabão no policial e obrigou-o a pedir desculpas a Craig. (Noutra versão, foi à delegacia denunciar a sua conduta.)
Episódio 2: A mãe de Catherine Brown ralou trabalhando numa escola de elite para educá-la direito. A jovem conseguiu entrar para a Universidade Princeton e, quando as duas entraram no dormitório, viram que Catherine dividiria o quarto com uma negra, a irmã de Craig. Fez o possÃvel para transferir a filha do quarto, mas fracassou.
Craig Robinson também educou-se em Princeton, passou por Wall Street e decidiu se tornar treinador de equipes de basquete. As duas jovens de Princeton conviveram bem. Anos depois, a negra casou-se com o filho de um economista queniano. Chamava-se Barack Hussein Obama.
A senhora Marion Robinson morou oito anos na Casa Branca, cuidando das netas adolescentes. Lavava suas roupas de baixo, fazia suas compras e, quando alguém a reconhecia, dizia que se tratava apenas de um caso de semelhança. No dia em que seu genro foi eleito, não quis ir para o palanque e viu a cena junto com a multidão. Nunca entrou na cena social de Washington.
No ano passado, uma jovem americana que passeava com seu cachorro (sem coleira) pelo Central Park teve um piti e chamou a polÃcia porque um negro a filmava.
A moça perdeu o emprego e teve de passar por um programa de reeducação por ter feito uma denuncia falsa à polÃcia.
Fonte: https://www.geledes.org.br/uma-cena-racista-no-leblon/.
Acesso em 16/06/2021.
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