A senadora Eliziane Gama foi a primeira a
agradecer Jurema pela garra e por inspirar milhares de mulheres e meninas
brasileiras, principalmente as negras, a não desistirem nunca de galgar mais
espaço na ciência e junto à esfera pública. Vice-presidente da CPI, o senador
Randolfe Rodrigues finalizou a sessão desta quinta (24) endossando o coro em
reconhecimento da médica que denunciou que o País poderia ter
evitado mais de 300 mil mortes na pandemia de Covid-19, se tivesse
tomado as medidas epidemiológicas necessárias para conter a transmissão. Jurema
depôs ao lado do epidemiologista Pedro Hallal.
A médica nasceu no Morro dos Cabritos, em
Copacabana, Rio de Janeiro. Tem 59 anos, é formada em medicina, tem mestrado em
engenharia de produção e doutorado em comunicação e cultura. Descendente de
escravos que trabalharam em fazendas em Minas Gerais antes de mudarem para o
Rio, ela conseguiu fazer medicina porque estudou muito desde a infância. Teve,
por estímulo dos pais, Angela Davis e Leci Brandão como “espelhos”. Entrou para
a Anistia Internacional por indicação da jornalista Flávia Oliveira,
conselheira da instituição no Brasil.
Perdeu a mãe bem cedo, aos 14 anos,
vítima de um AVC. Até os 19, se considerava um “casulo”, uma pessoa com
dificuldade na comunicação. Em entrevista à revista Marie Claire, ela lembrou de momentos em que enfrentou
“preconceito contra sua cor, origem e orientação sexual para chegar aonde
chegou”. Como o dia em que um garçom desconfiou da veracidade de sua carteira
do CRM.
“Já médica, no início dos anos 90,
convidei umas amigas para comer num restaurante de frutos do mar e, na hora de
pagar, com meu cheque especial, o rapaz se recusou a receber, dizendo que minha
carteira do Conselho Regional de Medicina, usada como identidade, só poderia
ser falsa. Hoje, por causa do meu trabalho, viajo muito a outros países e, do
aeroporto para fora, é onde encontro menos racismo. Não é que ele não exista,
mas é diferente. Aqui, sou só a neguinha que alguém quer escorraçar.”
Fonte: https://www.geledes.org.br/quem-e-jurema-werneck-a-medica-negra-que-representou-e-emocionou-na-cpi-da-covid/.
Acesso em 26/06/2021
0 Comentários