Na direção da igualdade, mulheres assumem cargos no topo de instituições internacionais

 

Homens de terno e gravata ainda parecem ser os donos do mundo. Em 1º de janeiro de 2021, quase 6% dos chefes de Estado eleitos (9 de 152) e 6,7% dos chefes de governo (13 de 193) eram mulheres.

Esse equilíbrio de poder pode mudar? Em todo caso, o escritório das Nações Unidas parece estar dando passos firmes na direção da igualdade. Especialmente em Genebra, na Suíça, onde as mulheres demoraram até 6 de março de 1960 para conquistar o direito de votar e disputar eleições.


Agora, desde maio de 2019, a economista, jornalista e diplomata russa Tatiana Valovaia ocupa o cargo de diretora-geral da ONU Genebra, uma estreia histórica no mundo da ONU.


Não é a única instituição de grande porte presidida por uma mulher. Em 1º de março, a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala se tornou a primeira mulher —e a primeira africana— a tomar as rédeas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e seus 625 funcionários.


Sua nomeação veio cinco meses depois da jamaicana Pamela Coke-Hamilton, escolhida para chefiar o Centro Internacional de Comércio (CIC). Com 120 funcionários, a missão do CIC é ajudar pequenas e médias empresas de países em desenvolvimento a expandir suas atividades de exportação.


Essa abrangente conquista igualitária parece longe de terminar. A Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento da ONU (Unctad, em inglês) também poderá ter uma mulher no comando em breve. Já tem, na verdade, de forma interina. “Esse objetivo ainda não foi totalmente alcançado, mas é provável que o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, esteja inclinado a indicar uma mulher para a Unctad. Desde que chegou ao poder, quatro anos atrás, ele realmente promoveu essa causa. Eu não ficaria surpresa se seu sucessor for uma mulher”, disse Isabelle Durant, ex-vice-primeira-ministra da Bélgica que, desde 15 de fevereiro, é a secretária-geral interina da Unctad, com 480 funcionários.

UM DIRETOR EM BUSCA DA IGUALDADE DE GÊNERO

Para Guterres, a igualdade de gênero na ONU precisa ser alcançada com urgência: “É uma das minhas prioridades pessoais. É um dever moral e uma necessidade operacional. A inclusão significativa de mulheres na tomada de decisões aumenta a efetividade e a produtividade, traz à mesa novas perspectivas e soluções, destrava maiores recursos e reforça iniciativas nos três pilares de nosso trabalho”.

Estas são, evidentemente, mais que simples palavras, já que 53% das subsecretárias-gerais de Guterres são mulheres, e, com frequência, ele indica candidatas a cargos importantes. Mas isso é só de fachada, escondendo a imagem maior? Como as mulheres estão representadas nas camadas mais baixas da ONU?

Em 2017, os homens formavam 55,9% da equipe da organização, enquanto 44,1% eram mulheres —em 2003, esse número era de apenas 36,3%. Está claro que houve progresso em direção à paridade, mesmo que os homens ainda sejam amplamente dominantes em cargos oficiais superiores, ocupando 66,3% deles. Se considerarmos um setor econômico geralmente associado aos homens, na Unctad as mulheres formam 31% do pessoal no nível de gerência sênior, e 34% de todo o pessoal.

“Ainda há espaço para melhoras, e estou trabalhando duro para promover as coisas a cada recrutamento”, disse Isabelle Durant. Ao contrário do que ouvimos com frequência, ela sente que não há escassez de talento feminino no setor econômico. É um preconceito inconsciente que gera a presença de mais homens que mulheres no processo de recrutamento. “Liderança não tem a ver apenas com a força masculina, também significa saber unir suas equipes, demonstrar empatia e respeito.”


PRESENÇA FEMININA NA OMC

Outro exemplo dessa tendência atual na direção da feminização é a diretora-geral da OMC, que acaba de nomear —em 4 de maio— duas mulheres para sua equipe de quatro vices: a americana Angela Ellard e a costarriquenha Anabel González. Mais uma vez, é uma novidade na instituição.


“Isto salienta meu compromisso de reforçar nossa organização com líderes talentosos e ao mesmo tempo alcançar o equilíbrio de gêneros em cargos seniores”, disse Okonjo-Iweala.


Entre outras chefes de organizações internacionais está a diretora-executiva da Unaids, Winnie Byanyima, uma engenheira aeronáutica ugandense nomeada em 2020.


A ascensão dessas mulheres ajudou a revitalizar a imagem da Genebra Internacional —e suas importantes negociações multilaterais—, cujo papel foi posto em dúvida pelos EUA. Há anos o sistema ONU está comprometido com a promoção da igualdade de gênero. Desde 2015, a ONU acelerou o ritmo por meio da adoção dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: um quinto deles defende igualdade de gênero.

Fonte: https://www.geledes.org.br/na-direcao-da-igualdade-mulheres-assumem-cargos-no-topo-de-instituicoes-internacionais/. Acesso em 22/06/2021.

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