Maria
Filipa de Oliveira, nascida em Gameleira, na Ilha de Itaparica, mais
precisamente no povoado de Ponta das Baleias. Era uma negra livre, alta,
disposta, “marisqueira” e capoeirista, considerada como uma grande liderança na
sua região. Segundo pesquisadores era negra descendente de sudaneses.
“Nasceu
escrava, mas depois de liberta colocou a liberdade como maior tesouro de sua
vida, moradora da Ilha de Itaparica,
negra, alta, desde cedo aprendeu a trabalhar como marisqueira,
pescadora, trabalhadora braçal que aprendeu na luta da capoeira a brincar e a
se defender, que vestia saias rodadas, bata, torso e chinelas, líder de um grupo de mais de 40 mulheres e
homens de classes e etnias diferentes, onde vigiava a praia dia e noite a
fortificando-as com trincheiras para prevenir a chegada do exército inimigo,
organizava o envio de alimentos para o interior da Bahia (recôncavo), atuando
na luta pela libertação da dominação portuguesa. Lutou ao lado de mulheres, a exemplo
de Joana Soaleira, Brígida do Vale e Marcolina, também anônimas desse processo
histórico de luta e resistência”.11
Felipa
não estava satisfeita com a função de retaguarda. Resolveu partir para o
combate. Sabia que uma frota de 42 embarcações se preparava para atacar os
lutadores na Capital baiana. Pensou um plano e juntou 40 companheiras para
executá-lo.
Saíram
“vestidas para matar”. Seduziram a maioria dos soldados e seus comandantes e
levaram-nos para um lugar ermo. Quando eles, animados, ficaram sem roupa, elas
aplicaram-lhes uma surra de cansanção (planta que dá uma terrível sensação de
ardor e queimadura na pele); enquanto isso, um grupo incendiava as embarcações.
Esta
ação foi decisiva para uma tranquila vitória sobre os portugueses em Salvador,
permitindo que as tropas vindas do Recôncavo entrassem triunfalmente, sob os
aplausos do povo, no dia 2 de julho de 1823. Maria Felipa continuou sua vida de
marisqueira e capoeirista, admirada pelo povo de Itaparica. Faleceu no dia 4 de
janeiro de 1873.
Durante
esses anos a trajetória dessas mulheres negras baianas, a exemplo de Felipa,
ficou anônima sendo lembrada apenas nos conteúdos escolares por referências
negativas, quando são citadas como baderneiras, arruaceiras e bandidas, criando
assim uma identidade indissociável da mulher negra ao crime. Uma imposição
racista histórica, que leva a figura feminina negra a ter suas características
estéticas marginalizadas e riscadas da existência.
Maria
Felipa timidamente vem sendo inserida nos desfiles oficiais do 7 de setembro,
já que por muito tempo foi lembrada somente pelo Grito dos Excluídos,
reconhecendo de que “muitas surras de cansanção” e queima de navios ainda serão
necessárias para se lembrar das heroínas negras na proclamação do 2 de Julho.
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