A origem do nome Cabeças está
muito vinculada ao imaginário popular, possuindo versões diferentes nas
reminiscências dos seus habitantes, ou por que não dizer, uma espécie de
“invenção de tradição”, que levou vários anos para ser modificada. Fundamentado
nesses argumentos, evidencia-se a primeira concepção acerca da questão
discutida. Esta nasceu de um memorialista erradicado em Cabeças, o senhor Antônio
Pereira da Mota Júnior, quando afirmava que:
Era
a época das chacinas por encomendas! Ai mesmo, ao lado, no leito da via
pública, jaziam os corpos decapitados. O trecho, local, não tinha, até então,
segundo parece, nenhuma denominação, visto que, o escabroso acontecimento
figurara aos olhares assustados dos transeuntes às pontas das estacas dando o
nome daqueles cofres de pensamento, ali trancados para eternidade, pelo chumbo
quente, como legado, até o dia 14 de março de 1962. (MOTA JÚNIOR, 1962, p. 02)
Outra abordagem para a origem
do nome Cabeças foi elaborada pela professora e memorialista Angelita Gesteira
Fonseca, que assim como Antônio Mota, condicionou sua narrativa a ideia de
chacinas:
em ocasião, em determinado ponto da estrada dos portugueses, foram
encontradas três cabeças humanas, enfiadas em estacas. Tudo indica
que as três cabeças eram de portugueses, bandeirantes – talvez até de jesuítas,
quem sabe? – ali colocadas por índios. Ficou aquele lugar chamado pelos
transeuntes de Cabeças, o que faz crer
que ali era uma estrada de bandeirantes e até pousada de jesuítas, e era uma
estrada mater (FONSECA, 2000, p. 33).
Na verdade o nome Cabeças é
fruto de uma invenção de tradição, pois até hoje não se conseguiu evidenciar o verdadeiro
sentido do mesmo. Claro, que as versões citadas acima, caminham pela ótica das
chacinas, mas não possuem argumentos sólidos que justifiquem tal ideia. Também,
não se devem menosprezar os argumentos econômicos apresentados nas mencionadas
justificativas. Não seria lógico, fechar a questão acerca deste fato, pois as
ideias mencionadas têm seu valor e não estão desvinculadas de conotações
históricas, bem como, a noção de memória deve ser respeitada na construção de
uma narrativa histórica, não como algo estanque, mas que está sendo sempre
reconstruído de forma coletiva ou individual.
Em
1891, através da lei provincial número 2149, foi criado o Distrito de Paz das
Cabeças, pertencente ao município de Cachoeira. Com a transformação de São
Félix em cidade, a Vila de Cabeças é incorporada a esse novo município, aspecto
que permanece até 1919, quando o território da Vila passa a pertence ao então
emancipado município de Muritiba.
O
desenvolvimento econômico da Vila de Cabeças
Até o inicio do século XX, uma das atividades que impulsionou o crescimento da Vila foi à atividade do tropeirismo, uma vez que por dentro da Vila passava uma estrada que liga a cidade de Cachoeira a região das Minas Gerais, onde os tropeiros transportavam mercadorias para abastecer essas regiões.
Já
entre os anos de 1910 a 1960, a principal atividade econômica existente na Vila
era o beneficiamento do tabaco. Existiam vários armazéns de fumo no interior da
Vila, com destaque para o do Coronel João Altino da Fonseca, que chegava a
exportar por ano para a Europa mais de 50 mil arrobas do produto. Esse
desenvolvimento foi tão significativo, que em 1959, o Governo do Estado
resolveu instalar na própria Vila uma coletoria de impostos, cujo chefe foi o
senhor Agnaldo Viana Pereira, que mais tarde se tornou o primeiro prefeito da
cidade.
A
transformação da Vila de Cabeças em cidade de Governador Mangabeira
Associado a esse desenvolvimento econômico em 1961, os então representantes da Vila na Câmara de Vereadores de Muritiba, os senhores Malaquias Cerqueira Ferreira, Antônio Pereira da Mota Júnior e Manoel Machado Pedreira, conseguiram a aprovação naquela Casa Legislativa do projeto de emancipação política da Vila. Já na Assembleia Legislativa a relatora do projeto foi à deputada Ana Oliveira, sendo assim, através da lei estadual número 1.639 de 14 de março de 1962, a Vila de Cabeças passou a se chamar município de Governador Mangabeira.
Vale ressaltar que a participação
popular no processo de emancipação, também foi significativa, uma dessas
representações se configurou na criação do CECI – Clube Esportivo e Cultural
Independente em 02 de julho de 1961, pois nesse espaço os debates acerca da
transformação da Vila em cidade foram intensos.
Por
que o nome Governador Mangabeira
Depois de acertado os elementos burocráticos para emancipação da Vila, as discussões se voltaram para a escolha do nome que ganharia a nova cidade, uma vez que Cabeças remetia algo trágico, além disso, existia a necessidade de escolher um nome que proporcionasse visibilidade e reconhecimento público a cidade.
Diante do exposto, quatro nomes foram sugeridos: Três Palmeiras – como forma de homenagear as palmeiras imperiais que existiam em frente à Igreja Matriz, Betânia – em função da cidade bíblica localizada na Judéia, Altinópolis – em homenagem ao coronel João Altino da Fonseca, e Governador Mangabeira – para homenagem o ex- Governador da Bahia Otávio Mangabeira, este que foi o nome escolhido, pois segundo os idealizadores do projeto de emancipação o nome Governador Mangabeira trazia uma ideia de “civilização”, além disso, daria prestígio à nova cidade a nível Estadual, devido aos relevantes serviços prestados por Otávio Mangabeira a toda Bahia.
Otávio Mangabeira nasceu em Salvador em 27 de agosto de 1886 e faleceu em 29 de novembro de 1960. Casou-se com Éster Pinho, com quem teve dois filhos: Otávio Mangabeira Filho e Edila Mangabeira Unger. Em 1908 foi eleito Vereador da cidade de Salvador e até a sua morte em 29 de novembro de 1960, conseguiu exercer os cargos de Deputado Federal (7 vezes), Ministro das Relações Exteriores do governo de Washington Luís, governador do Estado da Bahia e Senador. Experimentou o exílio duas vezes: durante a Revolução de 1930 e no Estado Novo, pois era forte opositor de Getúlio Vargas, chegando a ser líder da UDN (União Democrática Nacional), partido que se configurou como maior oposição ao governo getulista.
Em
1947 o engenheiro Otávio Mangabeira, foi eleito governador da Bahia com 211.121
votos pela coligação UDN-PSD, contra 92.629 votos do candidato do PTB, Medeiros
Netos. Durante a campanha teve o apoio de diversos partidos, dentre eles o PCB. Em
7 de abril de 1947, Otávio Mangabeira foi empossado como governador da Bahia,
muitos acreditavam no surgimento de uma nova era na política da Bahia, notavam
em Mangabeira a concretização do Estado democrático, um momento de sepultamento
das velhas práticas eleitoreiras e de qualquer forma de ditadura.
Dentre as realizações do seu governo, as mais relevantes foram: Estádio de Futebol da Fonte Nova, que leva o seu nome até hoje, a Avenida Centenário, Fórum Rui Barbosa, hotel da Bahia, Escola Parque e mais de 258 prédios escolares, inclusive um na Vila de Cabeças, atualmente Colégio Estadual José Bonifácio. Aliás, para alguns estudiosos da história política baiana, foi na educação que o governo de Mangabeira mais se destacou, pois esteve à frente da Secretaria de Educação, o famoso educador Anísio Teixeira, fazendo uma transformação no ensino público da Bahia.
Dentre as realizações do seu governo, as mais relevantes foram: Estádio de Futebol da Fonte Nova, que leva o seu nome até hoje, a Avenida Centenário, Fórum Rui Barbosa, hotel da Bahia, Escola Parque e mais de 258 prédios escolares, inclusive um na Vila de Cabeças, atualmente Colégio Estadual José Bonifácio. Aliás, para alguns estudiosos da história política baiana, foi na educação que o governo de Mangabeira mais se destacou, pois esteve à frente da Secretaria de Educação, o famoso educador Anísio Teixeira, fazendo uma transformação no ensino público da Bahia.
Por
que a data 14 de março como aniversário da cidade?
Foi para homenagear ao poeta Castro Alves, que nasceu na cidade de Cabaceiras do Paraguaçu, em 14 de março de 1947, bem como pela intenção dos lideres da emancipação de incorporar a imagem do município, a ideia de intelectualidade, mostrando que o seu povo admirava a sabedoria e a cultura, uma vez que Castro Alves era e é considerado como poeta da liberdade e das Américas.
As
primeiras eleições municipais.
Em 7 de outubro de 1962, foram realizadas as primeiras eleições para prefeito e vereador da cidade de Governador Mangabeira. Foi uma disputa acirrada entre os grupos liderados por Agnaldo Viana e Malaquias Ferreira. Essa disputa combinou com às eleições para governo do Estado que consagrou como vitorioso o Prefeito de Jequié, Lomanto Júnior, através da coligação Partido Liberal (PL), União Democrática Nacional (UDN) e Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Já no cenário municipal formou-se a Coligação Progressista Popular (CPP) constituída pelos partidos UDN e PTB, tendo como candidato Agnaldo Viana Pereira e pelo Partido Social Democrático (PSD) – Malaquias Cerqueira Ferreira. Agnaldo Viana, ganhou em todas as 4 urnas (3 na sede e uma em Quixabeira), com aproximadamente 60% dos votos.
Já
a primeira Câmara de Vereadores foi formada pelas seguintes pessoas: José Gomes
Dias, José Carlos Fonseca, Amando Alves da Silva, Heraldo Oliveira Cerqueira,
Renato Dias Mascarenhas, Carlos Coelho Nascimento e Manoel Machado Pedreira
Os
Prefeitos
Agnaldo
Viana Pereira – 1963-1966 e 1973-1976
José
Gomes Dias – 1967/1970
Adauto
João Mamona dos Santos – 1971-1972 e 1977-1982
José
Souza de Santana – 1983-1988 e 1993-1996
Anatelis
Ferreira de Almeida – 1989-1993 e 1997-2000
Antônio Pimentel Pereira – 2001-2004 e 2005-2008.
Domingas Souza da Paixão – 2009-2012 e 2013 a 2016.
Marcelo Pedreira de Mendonça – 2017- 2020.
Símbolos do Município de Governador
Mangabeira
BANDEIRA
Segundo pesquisas de campo com
alguns moradores que participaram do processo de emancipação política do
município, a bandeira é representada pelos seguintes aspectos:
Coroa – faz uma homenagem à coroa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do
município.
Cor azul – representa o manto sagrado da padroeira do município.
BRASÃO
Coroa - faz uma homenagem à Coroa de Nossa Senhora da Conceição padroeira do
município.
Boi – faz referência a pecuária, pois no período da emancipação essa
atividade
econômica era forte na região, inclusive no território do município,
pois
existiam diversos criadores de gado bovino.
Folha – representa a produção de tabaco (fumo) que na época impulsionava
a
economia do município, onde existiam vários agricultores que realizavam o plantio de fumo, além disso, tanto na sede como na zona rural, existiam vários
armazéns de beneficiamento do tabaco, sendo o mais conhecido o do Coronel João
Altino da Fonseca. Para muitos pesquisadores a produção e o beneficiamento do
tabaco foi um dos principais fatores para a transformação da Vila de Cabeças em
município de Governador Mangabeira.
Listel
(moldura) azul com o nome do município.
·
HINO
Autores: Adilson de
Souza Cruz
Nalinaldo Couto de Mello
No
dia 14 de março
Mangabeira
se emancipou
Iniciando
assim a tua história
Que
hoje canto com clamor
Vários
nomes foram citados
Altinópolis,
Betânia e Três Palmeiras
Mas
te homenageamos com o nome
Do
saudoso Otávio Mangabeira
Na
agricultura és pioneira
Belo rio, céu azul povo viril
Tu
és para mim ó Mangabeira
Meu
império, minha Bahia, meu Brasil
Fostes
Cabeças no passado
Riqueza
no tabaco e pecuária também
Vários
coronéis
Fizeram
de ti refém
Hoje
tu és diferente
Tens
um solo onde planta tudo dá
E
de Cabeças tu tens a mente
De
um povo que quer te libertar.
Referência
SILVA,
Luís Carlos Borges da. A Vila e o Coronel: Memória e Poder Local na Vila de
Cabeças – Bahia (1920-1962). In: 50 Anos de Governador Mangabeira:
Perspectivas Históricas e Sociais. Governador Mangabeira: Revista Textura -
FAMAM, Edição Especial, 2012.
Elaboração
Luís Carlos Borges da
Silva – Especialista e História Regional e Local e professor de história do Colégio Estadual Professor Edgard Santos - CEPES.
Cássio Conceição Alves
– licenciado
em História pela UFRB e funcionário do Colégio Estadual José Bonifácio - CEJB.
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