Em um desses domingos (14/01/18), realizei uma visita a famosa feira livre do Jordão
(distrito do município de Cabaceiras do Paraguaçu, também chamado de Geolãndia),
na oportunidade passou um filme na minha cabeça da época de jovem, quando
visitava essa feira. Na volta, resolvi aumentar as lembranças, fiz
o percurso pela Estrada Velha que liga a mencionada localidade a comunidade de
Queimadas (município de Governador Mangabeira), nesse momento as reminiscências
da importância dessa estrada aflorou, despertando o desejo de escreve algo
acerca do valor histórico dessa arteira, fundamento nas
minhas inesquecíveis lembranças.
Até
1962, uma pessoa da então vila de Cabeças que desejasse visitar a feira do
Jordão, tinha que descer a primeira ladeira da atual rodovia Jonival Lucas e metros
a seguir dobrar a direita pela estrada do Tamarindo, a qual dar acesso as
localidades de Queimadas Nova e Velha, sendo que em frente as residências dos
saudosos Estevam e Rosalvo Borges, o transeunte dobraria a direita para chegar a Estrada Velha do Jordão. Esse trajeto acontecia, pois até então o
trecho da rodovia Jonival Lucas que dar acesso as localidades do Torto e
Encruzo, ainda não existia, obra realizada a partir da
transformação da vila de Cabeças em município de Governador Mangabeira
(14/03/1962), na gestão do primeiro prefeito (1963-1966), o inesquecível: Agnaldo
Viana Pereira.
Revivendo
as lembranças dessa Estrada, não posso deixar de mencionar pessoas memoráveis
que habitam a beira dessa via. Iniciando por Estevam Borges e Maria Medeiros
– dona Santa (meu pai e minha mãe), Tio Rosalvo Borges e tia Alaide Borges,
depois: Brasil Rodrigues e dona Sabina, Senhor e Antônia, tio Saturno e tia
Zinha, mais abaixo Brás e Lúcia e nas Pedrinhas - Amado Moreira. Elucidando
que anterior as minhas lembranças viveu as margens dessa via, Antônio Borges da
Silva (meu avô paterno), homem de visão aguçada para o seu tempo.
Ainda
no campo das recordações, lembro-me da fonte do senhor Brasil, onde muitas
pessoas lavavam roupas, tomavam banho e as vezes pegavam água para abastecer suas casas, também dos feixes de lenha que eu e meus irmãos transportavam dos
terrenos de Trazibulo e Civiriano, para cozinhar e torrar farinha. As vezes "caçava" essa lenha com medo dos bois e até do dono da propriedade, disputávamos para
ver quem fazia o feixe mais bonito e de melhor lenha, o qual era transportado
na cabeça até em casa e, que alívio quando jogava o feixe na ruma de lenha.
Também,
não posso esquecer da Ponte, espaço que no verão se transformava em área de
lazer, pois dezenas de pessoas enchiam aquele local em busca de diversão e um
delicioso banho. A Ponte fica sobre o riacho dos Brejos e foi construída no
governo do Dr. César Pereira Leite (1948-1951), quando a vila de Cabeças
pertencia a Muritiba e reformada ma década de 70 no mandato do prefeito do nosso município -Adauto
João Mamona dos Santos. Hoje se encontra em um estado de abandono, necessitando
que os governantes realizem uma reforma que possa manter viva a memória desse
patrimônio histórico.
Antes
de chegar na Ponte, parava um pouco na casa dos meus tios Saturno José e Maria Amália
(Zinha) para chupar manga (mangueira que ainda está viva) e tomar água do
pote, também ficava admirando um pouco a bicicleta de Antônio de Saturno,
veículo bonitão, que impressionava a todos e consequentemente sonhava em um dia
comprar uma daquela. Também, ouvia atentamente as singelas palavras da minha tia Zinha,
uma doçura de pessoa.
Do
ponto de vista econômico, a Estrada Velha do Jordão atingiu seu apogeu até a
década de 1960, por onde muitos indivíduos levavam produtos para
comercializarem na feira do Jordão, quer seja em lombos de animais ou através
de algum automóvel. Até a minha adolescência, lembro dos homens que passavam
logo cedo para a mencionada feira em seus burros, cavalos ou jegues, quando
voltavam paravam para beber água em minha casa nas Queimadas ou até mesmo tomar
uma tubaína, uma pinga ou uma jurubeba na venda do meu pai ou de tio Rosalvo. Ainda, recordo
das boiadas que por essa artéria passavam, como não lembrar dos bois que Isaías
Ribeiro levava para abater no seu açougue em Queimadas, ficava torcendo para
que algum desses animais quando chegasse próximo a minha casa debandasse de
volta para a velha estrada e com sua habilidade de vaqueiro o saudoso Val de
Alcides derrubasse um desses bois.
Evidente que as
lembranças dessa estrada são múltiplas e ultrapassam as minhas lembranças, assim conversando com meu irmão Pedro Borges, ele
também resolveu contribuir de forma salutar para produção desse texto, revivendo com bastante propriedade suas memorias e
alargando a temporalidade das informações que até então foram mencionadas.
Pedro Borges, destaca
que a centenária estrada do Jordão, contribuiu imensamente para o povoamento e o
crescimento de todo eixo entre a vila de Cabeças e as localidades de Aldeia,
Queimadas, Riacho dos Brejos, Pedrinhas, Tauá e o Jordão. Nesse contexto, não se
pode esquecer das vendas de Nezinho Gomes, Turibo, Firmino (Firmo) e Rosalvo
Borges, localizadas em Queimadas, essas que na década de 50 e 60 eram pontos
obrigatórios para as pessoas que se deslocavam para a feira do Jordão. Também as
suntuosas moradias da família Dias (Epifãnio, Júlio e Gilberto), de Vavá Mascarenhas, o Sitio Alegre de Nezinho Gomes e avenida de casas de Antônio
Borges com os diversos arrendeiros.
Borges, salienta que memoráveis são as
recordações da casa de farinha de Saturno Santana, a oficia de Roque Santeiro,
onde se produzia majestosas imagens de Santos, bem como as panelas e tachos de
barro feitas por dona Almerinda com argila extraída do riacho do Brejos e das tradicionais
rezas na casa do casal Pacífico e Nenê - pais de Mariquinha, Cabloco, Pedro, Luzia, Balbina, Dadinho e Maroto, rezas essas que reuniam dezenas de pessoas, além da
venda de Dadinho – próxima ao riacho, a qual no final do dia era ponto de
encontro para elaboradas conversas dos homens. Após
a Ponte sobre o citado riacho, destacavam-se a colonial fazenda pertencente a Antônio
Borges (no Caldeirão Grande), o açougue de Amado Moreira (nas Pedrinhas), o qual
era o mais famoso na década de 60 e já no final da estrada o comércio de
Alcides Santana.
Além desses aspectos,
vale ressaltar o rico comércio de fumo (tabaco) desenvolvido em trechos da
mencionada arteira ou próximo a ela, com destaque para o empreendedorismo de
pessoas como Júlio e Gilberto Dias, Valdemar Mascarenhas, Zefirino e Patrício
Ferreira, Crispim Alberto, Estevam e Rosalvo Borges e outras, contribuindo para
tornar essa estrada um verdadeiro celeiro comercial e consequentemente fomentar
o intercâmbio com a riquíssima feira do povoado do Jordão (Geolândia).
Evidente
que a história é mutável, cada época tem sua importância, assim como a Estrada Velha
do Jordão teve a sua. Restam as lembranças e recordações das pessoas que alcançaram
alguns dos momentos de efervescência dessa via e, a nós historiadores reescrever
um pouco dessas memórias, porém como testemunho ocular dessa história, existe o
quase centenário eucalipto próximo à casa do senhor Brasil Rodrigues, árvore
que por certo valida as minhas lembranças e as de Pedro Borges, acerca dessa importante estrada.
Contribuíram para a produção desse texto:
Adauto João Mamona dos Santos - ex prefeito do município de Governador Mangabeira.
Pedro Antonio Borges da Silva - ex vereador, ex vice-prefeito e atual chefe de gabinete da prefeitura de Governador Mangabeira.
João Miguel - ex aluno da escola São Luis (Muritiba) e estudante de Jornalismo da UFRB)
João Miguel - ex aluno da escola São Luis (Muritiba) e estudante de Jornalismo da UFRB)
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